Hábitos da contemporaneidade: uma anunciação do temido Alzheimer?

Bem-estar

Na clínica, eu costumo dizer que o bem-estar é uma combinação de fatores. Não adianta o sujeito estar com a terapia em dia e não procurar um médico para regular a sua química cerebral ou hormonal. Ou não se alimentar de acordo com as necessidades de seu organismo. Ou não criar estratégias para variar as atividades do dia-a-dia. E vice-versa. É claro que uma análise pessoal pode acabar virando várias chaves, incluindo tirar alguém da inércia. Mas, hoje, em consequência da era digital, lidamos com tantas questões ao mesmo tempo, que parece que a energia necessária para sair dessa inércia se tornou intangível.

Assim, quantas mais ferramentas tivermos ao nosso alcance, maior será a probabilidade de tomarmos decisões efetivas. Claro que também podemos acabar nos perdendo ao darmos de cara com tantas opções de terapias. Muitas falarão de coisas parecidas, cruzar-se-ão em suas teorias. Todas parecerão fazer sentido ou fazer efeito, de alguma forma. E, então, o processo de escolha da terapia acabará entrando pro rol dos desencadeadores de ansiedade, como todas as outras escolhas que temos de fazer em meio a tantas ofertas.

Um caminho sem volta

A contemporaneidade vai nos levando por um caminho solitário, desmemoriado e com dificuldades de aprendizado e de tomadas de decisões, compondo uma população que se auto afirma cada vez mais deficitária de atenção. Quase como uma anunciação de um Alzheimer, doença que aponta para uma crise global de saúde, tendo em vista o aumento da população idosa.

O temido Alzheimer

No entanto, diferentemente do que a maioria acredita, a demência não é parte natural do envelhecimento. Mesmo assim, hoje, acometendo cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, estima-se que esse número poderá chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050.  

A Alzheimer’s Disease International publicou em seu relatório de 2023, ‘Reducing Dementia Risk: Never too early, never too late’, algumas ações que podem ser incorporadas aos nossos hábitos para reduzir as chances de desenvolvermos demência. Aqui, vão algumas:

– Coma da forma mais saudável possível: diversifique os grupos de alimentos que você consome e evite os ultraprocessados.

– Há muitas maneiras de se comer bem; dietas baseadas em alimentos locais, acessíveis e que supram as suas necessidades são a melhor aposta.

– Exercite-se: seja criativo; caminhar, andar de bicicleta, fazer tai chi, dançar… tudo conta.

– Siga aprendendo: desafie o seu cérebro, seja estudando uma nova língua, fazendo palavras cruzadas ou cantando…

– Cuide de sua saúde cardiovascular e de quaisquer outras doenças crônicas.

– Mantenha conexão: humanos são seres sociais; socializar reabastece a saúde do nosso cérebro e reduz depressão e solidão.

– Preste atenção à manutenção da sua saúde física em geral: confira se seus dentes são saudáveis, evite machucar a cabeça, durma a quantidade de horas que o seu corpo necessita, não fume e não beba quantidades excessivas de álcool.

Enquanto os hábitos da contemporaneidade parecem nos levar direto para a crise, as antigas tradições pareciam tentar preveni-la, e, hoje, mostram-nos uma possível saída de emergência…

Yoga e Alzheimer

A prática de yoga, que remonta a mais de 2 mil anos e cujos benefícios sempre foram estudados, apresenta cada vez mais evidências de ganhos na saúde mental. Um estudo de 2012, publicado na National Library of Medicine, mostrou que praticantes de hatha yoga e meditação apresentaram uma massa cinzenta – ou córtex cerebral – mais desenvolvida, assim como menos falhas cognitivas.

Anos de prática de yoga foram positivamente relacionados com o volume de massa cinzenta nas regiões frontal, límbica, temporal, occipital e cerebelar.

Isso significa dizer que processos de linguagem, memória, aprendizado e tomada de decisão, nesse caso, acabam sendo favorecidos.

Saindo da inércia

Além de melhorar “a força, a flexibilidade e o condicionamento cardiorrespiratório”, há um número cada vez maior de pesquisas que relacionam positivamente a prática de yoga à epilepsia, ao diabetes tipo dois, à dor crônica, entre outros. E, mais recentemente, um estudo de 2023 mostrou que o yoga “pode retardar a perda de memória entre mulheres com risco de sofrer” de Alzheimer.

…a meditação e a atenção plena (mindfulness) são parte integrante da prática de ioga — e “parecem induzir mudanças nas redes cerebrais que são importantes para a metacognição, a metaconsciência e a regulação das respostas emocionais ao estresse”.

Portanto, a associação de atividades dentro dos nossos hábitos diários é altamente recomendada. Não somente para tentar garantir que saiamos da inércia física, mas que também nos livremos da inércia mental e consigamos fazer escolhas mais assertivas. E se, de bônus, conseguirmos reduzir o número de pessoas acometidas pelo Alzheimer, pode ser menos uma ou duas crises para a humanidade.

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