Coisas de menino e de menina
Na Psicanálise, a castração é o tema central da neurose. O pênis que simboliza poder nas sociedades patriarcais acaba definindo comportamentos de gêneros e, inclusive, fazendo dessa questão a big deal. O que reforça as diferenças entre os gêneros, criando abismos nas formas como uns e outros são tratados emocional, física e materialmente. Como resultado, temos elevados números de suicídios entre homens e grandes quantidades de abusos sexuais contra mulheres.
Os meninos são ensinados a serem fortes como o pai. Já, as meninas são ensinadas a ficarem bonitas como a mãe. E assim demos origem a uma lista de diferenças entre as brincadeiras dos meninos e das meninas. Enquanto eles brincam de carrinho, de luta, de vídeo game, elas brincam de boneca, cozinha e de se emperiquitar. As meninas são orientadas desde pequenas a serem mães e esposas. Já, os meninos, além de não serem orientados a serem pais e esposos, são ensinados a serem brutamontes, como se o casamento exigisse a contratação de um segurança.
É preciso ter em mente que as brincadeiras não são apenas brincadeiras, elas fazem parte da formação de um indivíduo. Afinal, para uma criança, as brincadeiras são o seu mundo, muito diverso do mundo de um adulto.
O que passa desapercebido?
Por mais investidas que estejam algumas pessoas, comunidades ou sociedades em reduzir essas diferenças ou em empoderar as mulheres e sensibilizar os homens, parece que algo sempre passa desapercebido.
Por maior que seja o número de mulheres empregadas, empoderadas e independentes no sul do Brasil – o que corrobora com uma maior oferta de oportunidades na região -, é muito comum, por exemplo, que apenas os sobrenomes dos homens/pais sejam registrados nas certidões de nascimento. Ou seja, existe uma supervalorização do sobrenome dos homens pelas próprias mulheres, cujos nomes de família acabam sendo apagados da história. Como se suas famílias, seus nomes não tivessem relevância para elas.
A região Sul
No início deste ano, o DataSenado divulgou pesquisa de violência contra a mulher por estado brasileiro. Dentre as percepções, a pesquisa levantou se as mulheres consideram o Brasil um país muito racista. Apesar de Santa Catarina e Rio Grande do Sul aparecerem com índices abaixo da média nacional, 53% e 55% respectivamente, é relevante questionarmos o que, afinal, é considerado machismo entre os gaúchos, por exemplo, que carregam a ferro e fogo uma cultura tão tradicionalista.
Já, o Paraná aparece como um dos maiores índices quando as mulheres relatam ter sofrido violência doméstica ou familiar provocada por homem. Dos três estados da região Sul, o Paraná está na contramão do que é relatado pelos demais, mesmo também mantendo uma cultura mais tradicionalista, quando pensamos na concentração de imigrantes e nos casamentos entre semelhantes. No entanto, tem algo que diferencia este dos outros dois estados sulistas: fazer fronteira com dois estados do Brasil tão miscigenados, como São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Igualdade de gênero
Uma matéria da BBC da semana passada trouxe a Islândia como “o país com maior igualdade de gênero do mundo, tendo ocupado por 15 anos o primeiro lugar do ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial”. O segredo é que o país trabalha maciçamente as legislações em prol da igualdade: salários, condições de licença-maternidade e paternidade, representatividade política, entre outros.
É o único país do mundo que eliminou mais de 90% da sua desigualdade de gênero — as diferenças na saúde, na educação e nas oportunidades econômicas com base no gênero…
Em 2018, tornou-se o primeiro país do mundo a exigir que os empregadores provem que pagam igualmente homens e mulheres pelo mesmo trabalho, sob pena de multas pesadas.
Quase 90% das mulheres em idade ativa têm emprego, percentual significativamente mais alto do que as taxas de emprego na União Europeia, onde menos de 68% das mulheres estavam no mercado de trabalho em 2021…
Mas nem tanto…
Bom, apesar da igualdade de gênero, o Estado foi levado ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos por possíveis vítimas mulheres de estupro e agressão, que alegam que o sistema judiciário da Islândia faz pouco caso desses tipos de denúncia.
As estatísticas sugerem que um quarto das mulheres islandesas sofreu estupro ou tentativa de estupro, e cerca de 40% foram submetidas a violência física ou sexual, em comparação com a média global de 30%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Hoje, as escolas da Islândia trabalham com o método Hjalli para tentar reduzir esse número. Os meninos são treinados em comportamentos conhecidos por serem femininos e vice-versa. Em outras palavras, eles são ensinados a serem sensíveis (gentis, atenciosos) e as meninas são ensinadas a serem destemidas.
Bom, será isso suficiente para termos igualdade? Mas como será isso igualdade se os treinamentos são diferentes para cada gênero? Haverá efetividade se os pais tiverem comportamentos divergentes? Ou poderá haver uma inversão de vítimas e detratores, especialmente se os pais apresentarem comportamentos convergentes?