Carnaval, a festa mais brasileira.
Não tem uma festa que mais retrate o povo brasileiro que o carnaval. É possível sentir a intensidade dos foliões aproveitando cada minuto, como se não houvesse amanhã, nas cinco regiões do Brasil.
Mas afinal, o que há de tão especial no carnaval para movimentar um país inteiro? Será que é o glamour das escolas de samba, a euforia dos trios elétricos e blocos carnavalescos ou a ilusão de uma alegria infinita que dura apenas cinco dias?
Não é preciso fazer nenhum curso de ciências sociais para entender nosso povo, basta observar. É no carnaval que a maioria dos brasileiros dão uma pausa em suas rotinas para se alegrar, viajar, se retirar em meditação e orações ou apenas, descansar.
Sobretudo, me refiro àquela turma que levanta cedo, pega um ônibus lotado, que quando não quebra, chega atrasado e por isso, leva uma bronca, bem como aqueles que vivem se equilibrando entre o que ganham e as despesas das quais não se pode fugir (água, gás, eletricidade), remédios, algo que precisa de um conserto inadiável. E ainda, àquele que vive coberto de dívidas, recebendo ligações de cobranças.
Para estes, o carnaval vem como escape. O povo, já começa o ano no vermelho, com impostos que cortam na carne, por exemplo, IPTU, IPVA, IRRS (onde você paga pelo que adquiriu trabalhando). Some-se a isso, o material escolar das crianças, uma consulta médica ou exame que precisa fazer e que o SUS demora para agendar, imprevistos… São alguns exemplos que me vieram agora. Meus amigos, a vida do brasileiro não é fácil. O carnaval, portanto, é uma pausa nesses incontáveis dias de “cão.”
Algumas memórias do Carnaval:
Como sabem, moro nos Estados Unidos, onde não tem carnaval. Apenas algumas cidades realizam um festival similar, sendo o mais famoso deles, o Mardi Gras, em New Orleans, Louisiana. Lá as pessoas desfilam com fantasias pelas ruas ao som de bandas, tal qual no Brasil.
Bem, mesmo nunca tendo sido uma pessoa carnavalesca, quando esse período se aproxima, minha alma brasileira me faz recordar alguns episódios vivenciados durante o carnaval, na ocasião em que passava as férias em Natal, quando adolescente:
Estava na casa de minha tia, na Praia do Meio, quando um bloquinho improvisado invadiu a rua, com toda aquela euforia peculiar. À frente, ia um senhor negro, estampando a cara feliz e cheia de maisena. Ele tocava um surdo, marcando a sintonia dos demais. Seguia-o, dentre outros, um rapaz magro, queimado pelo sol da praia, com os olhos vermelhos, não sei se do álcool ou de loló, cujos cabelos estavam empanados de farinha. Este, manuseava um tamborim.
Os demais, que compunham a banda, trajavam bermudas e aqueles chinelos Rider, que teve seu tempo de vida na moda. Eram batuques de pandeiros, cuícas, enfim, todos aqueles instrumentos que produzem o samba. Seguia aquele cortejo, uma penca de moleques, descalços, que se alegravam com o ritmo dos carnavalescos.
Madalena, Madalena
O senhor, de faces castigadas pela lida, era também quem regia o coral. Ele puxava o ar dos pulmões e escancarava sua boca desdentada gritando: “Madalena, Madalena”. Um outro respondia: “Oh Madalena!” Ele continuava: “Você é meu bem-querer. E todos juntos cantavam: “Eu vou falar para todo mundo, vou falar para todo mundo que eu só quero você”.
E seguiam em transe, nesse refrão. Essa música, “Madalena de Jocu,” eu conheci na voz de Simone (que foi jogadora de vôlei e não a coleguinha, da atualidade). Seu compositor foi o Mestre do Congo, Zé Maria, pai de Madalena. Depois, Martinho da Vila gravou e foi um tremendo sucesso. Jocu é um dos bairros históricos e mais bonitos de Vila Velha/ES. Deixo o link para quem desejar ouvir a música.https://www.youtube.com/watch?v=Q1Sm5Ypj2gk
O pequeno bloco, depois de nos arrancar da TV, desapareceu no beco seguinte arrebanhando foliões por onde passava (assim como os enterros, nas cidades do interior). E não foi o único que vimos!
As escolas de samba de Natal
Durante e noite, íamos ver os desfiles das escolas de samba do RN, no bairro Ribeira, o mais cultural e antigo da cidade, que infelizmente, está caindo aos pedaços.
As escolas de samba de Natal eram muito pequenas e quase sem patrocínio. Era uma opção a mais para quem ficara na cidade durante o carnaval e não fugira para o litoral, como muitos.
Tinham um enredo, as alas, a bateria, as passistas, os cantores, alguns carros -alegóricos, o mestre-sala e porta-bandeira, tudo como manda o figurino. Só que o figurino dessas escolas era muito simples, feito mais com carinho do que com recursos.
A primeira ala era a das tribos dos índios. Há poucas comunidades indígenas potiguares. Apenas cinco, salvo engano. Então, se contava os povos originários, originais mesmo. O jeito era complementar a ala com moradores do morro, que colocavam uma fantasia de penas, pintavam o rosto e tocavam os instrumentos. Alguns, animados pelo álcool, se arriscavam ao performarem o número de soprar fogo. Assim, um deles, não calculando bem o momento de cuspir gasolina para cima, acabou chamuscando os braços, mas foi acudido pelos demais.
Os gays, ainda buscando seus espaços, aproveitavam os momentos para se travestirem de lindas e espalhafatosas damas, cobertas de plumas e paetês, perucas, muito glitter e glamour. Sambavam naquela avenida esburacada com seus saltos altos de plataformas. Contudo, as panturrilhas, musculosas, ajudavam no equilíbrio. Era fantástico ver tudo aquilo.
E assim, as pequenas comunidades se agremiavam e desfilavam. Comentava-se que investiam tudo o que tinham na feitura das fantasias. Muitas, fabricadas nos fundos de quintais, manualmente, cheias de filó e cetim.
Criatividade e simplicidade no carnaval
Não. Não tinha essa história de ter corpo bonito para desfilar. As passistas eram jovens, ou mães que moravam nas comunidades, que passavam o ano lutando por seus filhos, trabalhando em empregos assalariados. então, a maquiagem era apenas a alegria no rosto e isso bastava.
Era uma gente simples e interessante. A criatividade e a boa vontade faziam tudo acontecer, afinal, era carnaval e a alegria precisava reinar.
Depois, a violência começou a tomar conta da capital e foi nos afastando da convivência das ruas, das pessoas. Saímos, hoje, com medo.
Segurança e Carnaval
Nesse carnaval, vi que a cervejaria Brahma lançou o “Brahma phone”, um celular mais popular, para que você deixe o seu em casa, pois é mais seguro. O slogan “perder, perdeu” (para não dizer, se roubar, roubou). É a sociedade se curvando ao crime, nos obrigando a se adaptar a algo, que infelizmente, faz parte de nosso dia a dia, a criminalidade.
Mas é carnaval. Definitivamente, não vamos falar em coisas tristes e depressivas. Vamos esquecer, por um momento, as coisas ruins que nos cercam.
Grandes Carnavais
Atualmente, nosso país recebe milhares de turistas vindos do mundo todo para ver essa festa que mexe com o imaginário das pessoas.
Vamos falar do Rio de Janeiro, da Sapucaí. Se tem uma coisa que os cariocas sabem fazer é o carnaval (e o jogo do bicho). Sabe-se que as grandes escolas de samba são patrocinadas pelos bicheiros mais poderosos.
É muito luxo, é muito samba, é muito dinheiro envolvido para que tudo seja apoteótico como os desfiles das escolas de samba do grupo especial. Como bem dizia Joaozinho Trinta, “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo” e talvez por isso, haja tanto capricho e glamour em cada detalhe desses desfiles. Em suma, é o momento de encantar, de vender alegria.
Carnaval no Nordeste arrasta multidões
No Nordeste, os grandes carnavais acontecem principalmente em Recife e Salvador, onde multidões seguem os trios como cegos, dançando freneticamente ao som das marchinhas e músicas axé.
O carnaval tem uma força que a gente desconhece. É a energia de um povo, que quando quer, faz acontecer.
E dessa forma, como o próprio Joãozinho trinta sugeriu, que bom seria se canalizassem tal força para alcançar os objetivos de vida, claro, sem deixar a alegria de lado, sempre acreditando que amanhã o dia será bem melhor!
“Mas é carnaval! Não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal. Deixa a festa acabar, deixa o barco correr.” (trecho da música Noite dos Mascarados, de Chico Buarque).
Agora, me conte! Como está sendo seu carnaval?
Bom dia. Meu carnaval, está sendo em casa, ouvindo as antigas marchinhas. Não tenho mais vontade de sair, gostava dos carnavais antigos, com os blocos, onde podíamos brincar a vontade, hj, prefiro ficar em casa, neste momento, vou colocar as marchinhas antigas, terminar o almoço e tomar uma gela, o calor ta pedindo. Veridiana, mas, uma vez, um belíssimo conto
Obrigada, minha amiga Edilza. Obrigada também por sugerir o tema. Foi muito divertido escrever sobre o carnaval. Sim, lembro dos bloquinhos de nossa cidade com aquelas músicas alegres. Imagino como Lajes deve estar quente. Pois, aproveite sua gela! Beijocas!!!
Tenham todos um bom Carnaval!
Para voc6e e toda a nossa querida Lajes!!!
Meu Carnaval está sendo ótimo, fui ao Polo Petrópolis e hoje vou para Ponta Negra. Nesta terça-feira de Carnaval quero dançar até o último instante.
Aproveite, meu amigo historiador e querido professor! É tempo de festa! Um grande abraço!
Fiz agora uma viagem no tempo, através de suas palavras, a mente levou a momentos especiais e únicos vividos no bairro. Parabéns Veridiana, perfeito!
Viva o Carnaval, viva a nossa cultura!!!
Obrigada, meu querido amigo de infância! Recordar é viver!
Viva o carnaval! Beijos para você!!!
Aqui em casa buscamos os carnavais infantis, para que nosso pequeno João cresça com boas memórias afetivas, sem bebida, sem confusão e sem promiscuidade. Tá dando certo. Foi ao carnaval da escola e um de criança em Petrópolis, bem cedinho.
Muito bem, mamãe Gabi. Ensinando nossa cultura de forma sadia, onde o mais importante é a alegria! Beijinhos para vocês!!!