O jovem contemporâneo: um sujeito sem lei?

A violência e a lei

Como foi abordado no artigo Projeto Eu Me Protejo: a luta contra a violência sexual infantil, as vítimas mais prováveis de violência são os jovens, especiamente os menores de idade, cujos registros de estupro representam 68% de todos os registros no sistema de saúde. Sendo as mais vulneráveis vítimas, acabam se encaixando também como aqueles que mais provavelmente praticarão violência. 

Em Expressões: a arte e a coragem, refletimos sobre o senso de coletivo como pré-requisito para a construção e manutenção de comunidades. Afinal, quando falamos de civilização, tratamos de ideias voltadas para um conjunto, para “o bem de todos”, não do indivíduo isolado. Socializar requer regras, maneiras, etiqueta. Porque quando vivemos em comunidade, é preciso respeitar as diferenças e, muitas vezes, deixar de lado o que pensamos ou sentimos.

Só que, para que exista uma sociedade com regras etc, é preciso que haja a lei. Assim como nas religiões os padres, pastores e profetas são aqueles que pregam “a verdade”, os políticos são os representantes legais de uma nação que disseminam o que pode e o que não pode, os direitos e deveres.

Sociedade moderna e frustrada

Então, chegamos em um ponto crítico da sociedade moderna: a crise da autoridade. Entramos numa época em que qualquer um se sente confortável o suficiente para se colocar numa posição acima da lei. Segundo o escritor e psicanalista Contardo Calligaris, em sua obra Hello, Brasil!, isso teria tido origem entre o fim do século XVIII e o início do XIX, quando “a infância se constitui no Ocidente como uma época protegida e separada da vida adulta”. Calligaris também coloca que a criança teria se tornado uma peça central na família, onde os adultos projetam os seus anseios e desejos. Desejo de que a criança realize o que o pai e a mãe não conseguiram realizar. 

Somado a isso, quando entramos em países como o Brasil, nos quais a maioridade acaba tendo um caminho prolongado, os jovens passam muito tempo sob a jurisdição única dos próprios pais. Pais, estes, frustrados com um Estado que não dá conta de seus desejos. Internet, redes sociais, tudo entra para escancarar essa frustração e provar que, aqui, vale tudo. Vale tudo, exceto a lei.

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2 comentários em “O jovem contemporâneo: um sujeito sem lei?”

  1. Muito bom esse texto. Vem esclarecer a relação dos pais com os filhos na contemporaneidade dos tempos. Essa massa de Nem Nem que está apenas sobrevivendo ao invés de viver de verdade.
    Parabéns a autora Déborah pelo maravilhoso artigo!

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