Perdas

Perder

Se tem uma coisa que me tira a paz é perder objetos. Perder e não achar. Nesse fim de semana, não sei explicar como, mas perdi um relógio digital. Dei por falta dele já à tardinha. Abri o aplicativo de busca e vi que estava nas imediações do shopping. Corri para lá, quando, pela tela, o objeto começou a se mover em direção à Zona Norte de Natal. Tendo anoitecido, desisti de ir atrás.

No outro dia, fiz um boletim de ocorrência de objeto perdido. Um dos policiais disse que poderia reaver. Já outro, disse que a localização não era precisa. Saí frustrada.

Considero-me uma pessoa extremamente organizada e cuidadosa com minhas coisas. Talvez, por ter vivenciado uma infância de escassez, costumo valorizar tudo que tenho. Dessa feita, isso me aborreceu muito.

O que aprender com a perda:

Fazia anos que não perdia nada, nem um brinco. A sensação que tenho é que algo – pessoal – não anda bem a ponto de me causar desatenção. A tensão de estar em vários lugares, as coisas que tenho para fazer em Natal e em pouco tempo, as que planejei e ainda não tive como realizar pode estar causando um tumulto em meu subconsciente, me deixando dispersa.

Enfim, perder e não achar meu relógio me desestabilizou, ao mesmo tempo em que falou muito comigo: uma das medidas que preciso adotar é parar de fazer as coisas correndo, considerar que o tempo das pessoas não é o meu e que nem tudo depende de nós. Além disso, manter a mente calma para que possamos realizar tudo com clareza, sem distrações.

Assim como a maioria das pessoas, para mim, perder é um sentimento angustiante. Com isso, vem a sensação de impotência e de culpa também.

Quando perdemos algo que não podemos repor

Foi só um objeto. Quem achou, se conseguir, faça bom uso.  Ao chegar aos EUA, graças a Deus, posso adquirir outro, mas quando perdemos algo que não podemos repor?

Das perdas irreparáveis que podem acontecer em nossa vida, cito a dignidade, nossa essência e nossa personalidade. Sem isso, deixamos de existir, de sermos quem somos.

Dignidade para não negociar o inegociável, como nossos valores, as coisas que acreditamos e guardamos; já a nossa essência nos dá o norte de quem somos, sem modificar nosso eu para agradar o outro ou se anular e nossa personalidade é o que nos ajuda nas escolhas, que moldam nosso futuro.

Perder esses elementos é perder quem somos. Ou seja, deixaríamos de “existir” e seríamos apenas uma caricatura de algo por aí.

Perder pessoas

As perdas mais dolorosas são aquelas relacionadas às pessoas. Não falo apenas no momento da partida final, mas das partidas que acontecem no dia a dia.

Ao longo da vida, pessoas passam por nós, ficam um tempo e depois, se perdem pelo caminho. Por exemplo, nossos amigos de infância, nossos professores, colegas de escola, faculdade, trabalho, os amigos adultos, nossos amores, enfim, pessoas de nossa convivência.

Sobre isso, nada podemos fazer. É o curso da vida. Devemos aproveitar bastante a companhia das pessoas no momento presente, pois a vida pode, de repente, dar uma guinada e tudo mudar.

Perder pessoas é a perda que deixa marcas, deixa lágrimas e podem se transformar em verdadeiros traumas. Infelizmente, estamos todos sujeitos à dor do adeus, das despedidas. Noutras vezes, a perda é tão suave que nem sentimos ou percebemos.

Em síntese, meus amigos, perder objetos e pessoas pode ser frustrante e nos machucar. Entretanto, perder a si mesmo é a pior das perdas.

Agora me contem, vocês já perderam algo que lhes aborreceu profundamente?

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5 comentários em “Perdas”

  1. Nossa! Quantas reflexões em uma crônica. Perder está no contexto da vida. Em tudo que você aborda de forma tão sensível em seu texto. E tem dois lados: perdas e ganhos. O que ganhamos quando perdemos? E o que perdemos quando ganhamos? Algumas vezes nunca nos daremos conta, o que não significa que não ocorreu. Esse é um tema de grande riqueza. Amei.

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