Mesmos Lugares

Mesmos lugares?

Estamos viajando, mais uma vez, pelo velho continente e parando em alguns locais que já visitamos algumas vezes. Por essa razão, uma amiga me perguntou se eu não enjoava de passear pelos mesmos lugares. Como sei que esse termo não é conhecido por todos, enjoar, nesse caso, tem a mesma conotação que “se aborrecer ou ficar entediado.”

Em resposta à minha amiga, diplomaticamente respondi que não enjoava, pois cada vez que visito um local conhecido, tenho o cuidado de vê-lo com outra perspectiva.

Por exemplo, ontem estivemos em Roma, uma das cidades mais antigas do mundo. É um dos “mesmos lugares” que me alegro em visitar.

Roma tem uma importância histórica, política, filosófica, jurídica para o mundo que é difícil descrever em poucas linhas. Para se ter uma ideia, o império romano estabeleceu o catolicismo, como religião principal e hoje é uma das maiores do mundo moderno.

Roma também possui seu legado na cultura, arquitetura, na arte que persiste até os dias atuais. É uma cidade inspiradora. Por fim, Roma é aquele “mesmo lugar” que, se eu pudesse, visitaria todo mês.

O antigo e o novo se entrelaçando.

Enquanto aguardava o trem para voltar à Civitavecchia, onde o navio aportou, deixei minha mente no “automático” para divagar sobre o que via. É um exercício que gosto de fazer. De pronto, a elegância dos senhores italianos me chamou a atenção. Não importa qual seja a estação do ano, elesestão sempre bem vestidos.

Em seguida, vi um grupo de jovens caminhando para uma escola. Eram adolescentes, vestidos de moletons e um visual mais “black,” muitos com os cabelos coloridos. Andavam com uma lentidão como se não tivessem pressa em chegar. Em contraste com esse ritmo, os idosos passavam apressados, como se não tivessem tempo a perder. Uma cena que eu nunca tinha percebido, mesmo sendo corriqueira nos mesmos lugares.

Nosso olhar muda com a idade e experiência. Fiquei comparando a vida dos jovens com a dos idosos e a perspectiva de cada um. Poderia ter feito isso em qualquer lugar, mas ali o contraste gritou para ser ouvido e eu, atentamente, absorvi lições.

A magia dos mesmos lugares

Um mesmo lugar pode nos fazer sentir diferentes sentimentos, à exemplo de nossa casa. Quantos emoções boas e ruins já experimentamos no lugar em que passamos a maior parte de nossa vida?

Os mesmos lugares também nos trazem segurança, pois se tornam familiares. Quando viajamos para uma cidade repetidas vezes, já sabemos onde comer, onde dormir, o que tem de interessante para fazer ou evitar. Então, para mim, os mesmos lugares sempre serão especiais, por me fazer sentir em casa e ao mesmo tempo, sem desprezar a descoberta e a sensação de explorar de novo.

É possível desencantar-se com os mesmos lugares.

Eu responderia com outra pergunta: É possível desencantar-se com a nossa própria casa? É um local que “visitamos” todo dia, no entanto, é o melhor lugar do mundo para estar.

Nossa casa é aquele mesmo lugar que mais amamos no mundo, mesmo que não seja a casa dos sonhos ou que tenha problemas como toda casa, como algo para consertar (uma torneira pingando, ou uma pintura a fazer, trocar um eletrodoméstico, etc). Entretando, é o nosso lugar favorito.

Em síntese, não me aborreço em visitar os mesmos lugares. Estes, terão toda a minha atenção, como se eu estivesse pisando os pés no solo pela primeira vez.

Os mesmos lugares sempre irão receber meu olhar atento e aguçado, assim como minha casa recebe meu olhar de gratidão por me guardar, bem como toda a minha intimidade, pois é em casa que eu sou eu de verdade.

E você, tem algum “mesmo lugar” que você gostar de visitar? Se sim, me conte!

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6 comentários em “Mesmos Lugares”

  1. “Nosso olhar muda com a idade e experiência.” Frase simples e puramente verdadeira. Não tenho condições de viajar frequentemente, minhas viagens estão nas minhas leituras, sempre que leio um livro, um conto depois da segunda vez em diante é notório minha mudança de visão. Já passei pela infância e adolescência e agora na meia idade tenho um olhar mais crítico e apurado sobre as coisas a minha volta, no meu caso os textos que leio. Parabéns Veridiana por mais uma crônica sensacional. Abraços.

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    • Você está certíssimo, meu querido amigo e poeta, Pablo. Também acontece o mesmo comigo quando releio um livro que gosto e que me leva a viajar, afinal, as viagens não precisam ser apenas físicas.
      Um grande abraço, meu querido!

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  2. Eu amo conhecer lugares novos, mas concordo com você, pois sempre que vou a um “mesmo lugar” ele nunca é o mesmo lugar. Isso me lembrou uma citação do filósofo Heráclito “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.”
    É isso. 😉

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