Colocando o lixo para fora.

Estou finalizando minha temporada no Brasil e hoje, enquanto colocava o lixo para fora, percebi que, sem querer, temos produzido bastante lixo: são embalagens, resíduos alimentares, descarte de coisas que não precisamos mais ou que o tempo danificou.

O lixo se forma de tudo aquilo que, sem perceber, se acumulou em poucas horas, em poucos dias. O saco sempre parece mais cheio do que imaginei. E ao levá-lo para fora, penso que a vida psíquica funciona da mesma maneira.

De onde vem o lixo?

No momento em que adquirimos qualquer coisa no supermercado, vem uma embalagem que precisamos descartar. Até mesmo uma fruta, como uma banana, precisamos jogar a casca fora.

Em casa, se quebramos algo que não tem conserto, vira lixo de forma automática. O tempo e a maresia tem castigado minhas roupas de cama e me pego tendo que desprezá-las.

E o lixo emocional?

O lixo emocional também nasce sem intenção. Ninguém acorda querendo se encher de mágoas, culpas ou frustrações, mas basta viver.

Basta relacionar-se. Assim como uma embalagem de molho, que em si é lixo, cada experiência humana traz consigo um resíduo: a amizade que vem com carinho, mas também com expectativas que não podemos cumprir. O trabalho que rende conquistas, mas junto despeja estresse e comparações. Até no amor (esse lugar onde esperamos refúgio), muitas vezes nos perdemos tentando caber em moldes que não são nossos.

Psicologicamente, esse lixo se instala silencioso. Primeiro, ocupa pequenas frestas da mente: uma lembrança incômoda, uma palavra atravessada, uma frustração guardada. Com o tempo, torna-se um depósito interno.

Percebam que, quanto mais cheio, mais difícil é respirar. O corpo acusa: insônia, ansiedade, cansaço crônico. A mente, saturada, perde clareza. O coração, pesado, esquece que pode ser leve.

O que fazer com o lixo que acumulamos sem querer?

Por isso, é urgente criar o hábito do descarte. Jogar fora não apenas o que fede na lata, mas o que intoxica por dentro. Significa colocar limites, dizer não sem culpa, desapegar-se de pessoas e situações que já não nutrem. Significa também perdoar — não pelo outro, mas para limpar a própria casa interior.

Lembre-se: quem não tira o lixo de dentro, um dia se vê morando nele. E ninguém merece habitar um espaço que poderia ser jardim, mas virou depósito.

A vida, como a casa, pede ventilação. Ao descartar o lixo, abre-se espaço para o novo. E não falo de vazio estéril, mas de um silêncio fértil, onde podemos plantar aquilo que realmente importa: paz, afeto, propósito.

Assim como fecho os sacos e os levo para fora do apartamento, peço a mim mesma: todos os dias, retire também o que pesa dentro. Proteja sua morada externa, mas sobretudo a interna.

Porque viver é, no fundo, uma eterna faxina da alma.

Agora me fale de você: Você tem o hábito de limpar sua casa interior tanto quanto a exterior? Se hoje você precisasse jogar um sentimento no lixo, qual seria?

Abraços, meus amores!

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2 comentários em “Colocando o lixo para fora.”

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