
Despedidas: quando o adeus chega sem avisar
Ontem, último dia de junho, nosso navio ancorou em uma cidade pequena, mas de grande importância para a navegação: Cobh, na Irlanda. Este é o porto que simboliza a fronteira entre o velho mundo e o novo. Foi aqui que o Titanic fez sua última parada antes de seguir rumo ao Atlântico — e afundar.
Visitamos um memorial em um jardim silencioso. No centro, uma grande placa de vidro exibia os nomes dos passageiros que embarcaram em Cobh e jamais retornaram com vida. Enquanto lia aqueles nomes, pensei nas despedidas que eles deixaram para trás — de familiares, de amigos, de seus lares. Quantos sonhos foram traçados para o novo mundo… e quantos ficaram pelo caminho.
A Irlanda, conhecida por seu trevo da sorte, espalhou muitos filhos pelos continentes, levando sua cultura e força, mas os que partiram naquele navio nunca chegaram a destino algum. Foram engolidos pelo oceano, pelas despedidas forçadas que a vida impõe sem aviso.
Cobh guarda também outra ferida histórica: em 7 de maio de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, o navio RMS Lusitânia, que viajava de Nova York para Liverpool, foi torpedeado por um submarino alemão. Mais de 1.100 pessoas, incluindo muitos americanos, morreram. O fato foi decisivo para a entrada dos Estados Unidos na guerra.
Na praça central da cidade, uma comovente estátua de dois pescadores chorando sob o anjo da paz homenageia as vítimas. Isso porque os pescadores locais, em um gesto de humanidade, se voluntariaram para recolher os corpos, onde muitos foram enterrados ali mesmo, em Cobh. Mais uma vez, pensei nas despedidas inesperadas que interromperam projetos, sonhos, o cotidiano de muitas pessoas de forma definitiva.
Despedidas silenciosas
Nem todas as despedidas são trágicas, mas muitas são silenciosas. São aquelas que não conseguimos perceber no momento em que acontecem, como quando nos despedimos de uma fase, de uma rotina, de uma amizade sem perceber que era a última vez.
Lembro que gostava de visitar minhas avós maternas até que teve um dia que foi a última visita, mas eu não sabia. Ninguém sabia. Apenas aconteceu.
Há também as despedidas diárias, aquelas que surgem devagar, com sinais sutis:
- Quando o trabalho começa a pesar mais que motivar – a semana parece se arrastar e a folga voa;
- Quando sentimos o corpo resistir a certos lugares, certas companhias;
- Quando terminamos um curso e a alegria da conquista se mistura com a saudade do caminho;
- Quando um relacionamento muda de cor, perde o brilho e entendemos que algo chegou ao fim.
Essas são despedidas que podemos sentir, se estivermos atentos, mas, na pressa do cotidiano, nem sempre notamos que algo está se encerrando.
O poder das despedidas necessárias
Há também aquelas despedidas que nos salvam, que marcam o fim de ciclos que já não nos pertencem, nesse momento, despedir-se pode ser um ato de amor-próprio:
Deixar um relacionamento que machuca; romper com hábitos que nos enfraquecem; encerrar fases, caminhos, padrões que já cumpriram seu papel. São despedidas necessárias e que nos ajudam a “mudar de fase” na vida.
Despedidas como renascimento
Por fim, meus leitores, as despedidas nos forçam a crescer, a amadurecer, a seguir em frente, mesmo com medo, mesmo com saudade. Elas são inevitáveis. Bom seria se viessem todas sem o pêndulo do sofrimento.
Quanto a nós, cabe reconhecer quando uma despedida é necessária, quando não temos como adiar e aceitar com dignidade as que acontecem, mesmo sem alarde. Em todos os casos, é importante lembrar: todo dia é uma pequena despedida. E, por isso, vale a pena viver com paixão cada dia como se fosse o último.
Agora me contem, como vocês costumam reagir às despedidas?
Beijos!
Despedir de alguém, dependendo de como seja, dói demais