Obituários

O que são obituários?

Obituários são registros de notícias relativos a pessoas falecidas, geralmente veiculados em meios de comunicação. É um texto jornalístico do gênero utilitário.
Como ontem foi o dia do jornalista, lembrei de quando lia o jornal Tribuna do Norte, impresso, e uma das sessões que eu não perdia era a dos obituários, onde aproveitava para treinar minha dicção, pois tinha problemas fonológicos e lia em voz alta para minha amiga Thêmis.
Nos jornais impressos os obituários vêm como um simples anúncio – geralmente pago – ou em sessões de utilidade pública. Faz parte do jornalismo literário. Na imprensa brasileira eles são vistos no formato jornalístico ou em forma de tributo, este último, geralmente feito por familiares e amigos.
O que eu acho mesmo mais interessante nos obituários é que eles resumem uma vida inteira num quadradinho escondido de uma página de jornal.

Um obituário divertido

É impossível dizer que existe um obituário divertido, mas esse fato merece ser relatado. Quando minha avó materna era viva, apenas nós, netos e sobrinhos a tratávamos por um apelido carinhoso: anjo do sininho. Bem, na ocasião de sua morte, minha irmã Vitória, escritora também, se encarregou de fazer o anúncio do falecimento e convidar a comunidade para o sepultamento.
Como morávamos no interior onde todos se conhecem e, além do bom e velho “boca a boca,” tal serviço era feito num carro de som que saía pelas ruas da cidade espalhando a notícia. Horas passaram, quando ouvimos em alto e bom som: “(…) comunicamos o falecimento de anjo do sininho (…). O féretro sairá de sua residência localizada à rua …” Era um momento de grande tristeza, mas nessa hora as risadas ecoaram pela casa. Não estávamos acreditando no que ouvíamos. Depois, minha irmã levou um baita sermão de nossa tia-avó, mas esse obituário ficou na memória de todos nós.
Fico pensando se deixo o meu semi-pronto para não passar por isso.

Obituários da vida:

Em síntese, obituário é uma comunicação de morte, mas nem tudo que morre requer obituário. Podemos dizer que a morte está presente em nossas vidas, além de ser aquela certeza concreta de que, cedo ou tarde, iremos enfrentá-la.
Há obituários que não são publicados, pois todos os dias algo morre em nós. Morre uma expectativa, uma mania, um hábito antigo. Morrem certezas, convicções, até versões de quem fomos. E não há missa de sétimo dia, não há flores, não há nota no jornal, mas há luto. Há silêncio. Há recomeço.
Imaginemos se, ao ler os jornais impressos, nos deparássemos com os seguintes obituários:

“Hoje morreu um amor precoce. Foi sepultado entre mensagens não respondidas e silêncios de domingo. Deixa lembranças esparsas em fotografias, sonhos compartilhados e promessas que não resistiram ao tempo.
Também partiu, sem alarde, um projeto de vida. Foi sonhado desde criança, esboçado em planilhas coloridas, mas sucumbiu ao peso do mundo real. Deixa saudade no olhar cansado de quem ainda acredita, já não mais com o mesmo entusiasmo.
Morreu numa silenciosa tarde, uma amizade de infância. A última conversa se deu em data incerta e não sabida. Foi enterrada em agendas incompatíveis e mudanças de prioridades. Ela deixa um vazio estranho, como uma casa fechada com cheiro de mofo e lembrança.”

Seriam tristes, mas reconfortantes, pois estaríamos declarando a finitude de algo em nosso mundo interior não para eternizá-los, e sim, deixá-los partir com dignidade.

Por fim, obituários.

Por fim, os obituários nos lembram que, apesar da brevidade da vida (ou de situações), cada existência deixa um rastro – por vezes discreto, por vezes marcante – no tecido do mundo.
São pequenas homenagens que, entre linhas e lembranças, resgatam o valor das pessoas e o impacto silencioso que deixaram no outro. Afinal, contar a história de uma partida é também, reafirmar a importância de ter vivido.


Agora me contem: o que é que morreu em vocês, ultimamente? Se estiverem inspirados, podem redigir um obituário de algo que queiram, conforme os modelos acima. Adorarei ler.


Um grande beijo.

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7 comentários em “Obituários”

  1. Como sempre, ótima crônica! Me remeteu a dedicatória do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis (cito): “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.” Genial!
    De fato a morte é um tabu para a maioria dos povos, mas a verdade é que vamos morrendo a cada momento e como você bem disse, existem as mortes simbólicas.
    Acredito que a pior de todas as mortes é a que acontece em vida, quando desistimos de nós mesmos.
    E como na belíssima a animação “Viva – A vida é uma festa”: “Minha avó disse que a morte não existe. Ela acreditava que só morremos quando os outros nos esquecem.”
    É isso. <3

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