Intolerância religiosa
Muitos, preocupados com a intolerância religiosa, têm relatado que o número de cristãos vem crescendo de forma assustadora em todo o mundo. Se a série de TV ‘O Conto da Aia‘ já vinha trazendo um clima de thriller, em especial, aos ativistas norte-americanos, com o discurso de posse do presidente Donald Trump, em que declarou que “agora, só existem dois gêneros: masculino e feminino” e prometeu extinguir os programas de diversidade no país, o terror tomou conta por definitivo.
No Brasil, atormenta os ativistas o movimento pró-Bolsonaro. E, apesar de estarmos no governo Lula, propostas conservadoras têm chegado aos plenários da Câmara e do Senado, simplesmente porque a maioria dos que votaram é de direita. De acordo com o levantamento da plataforma Ranking dos Políticos, em 2022, 46,2% dos deputados federais eleitos eram considerados de direita. A posição ideológica ganhou em todas a regiões do país, exceto no Nordeste. Isso significa dizer que cresceu no Brasil o número de eleitores alinhados com a direita e ativos. Ou, pelo menos, cresceu o número de votos de direita não nulos ou não brancos.
Declínio e ascensão
O Censo 2022 mostrou que o Brasil possui mais estabelecimentos religiosos – igrejas, templos, sinagogas e terreiros – do que instituições de ensino e saúde. São 286 por 100 mil habitantes, contra 130 unidades de ensino (creches, escolas, universidades) e 122 pontos de saúde (hospitais, clínicas, pronto socorro) pelos mesmos 100 mil habitantes.
Apesar de testemunharmos, aqui, o declínio católico desde o início dos anos 2000 bem como “o aumento de pessoas que se declaram sem religião ou de religiões não cristãs, como as de matriz africana”, cresce de forma acelerada a quantidade de evangélicos, como mostrou documentário do Fantástico:
Os cristãos evangélicos são o segmento religioso que mais cresceu no Brasil nos últimos 30 anos. A maioria das congregações são pequenas igrejas de bairro… que não chega a ter 100 pessoas.
Nos últimos anos, especialmente na Europa, os governos vêm se deparando com as consequências das suas elevadas populações muçulmanas, os choques culturais e a confusão com as ações terroristas. Estima-se que quase um quarto da população mundial é muçulmana.
O islamismo é uma das religiões que cresce mais rapidamente no mundo, devido ao alto índice de fertilidade nas comunidades muçulmanas e a conversões ao islã. Além disso, fatores como imigração também influenciam no crescimento da população muçulmana em determinados países.
Religião versus contemporaneidade
Apesar de apresentarem diferenças significativas entre suas crenças e práticas, o islamismo possui raízes comuns com o cristianismo e o judaísmo. E, no final das contas, são religiões que estimulam a reprodução e, portanto, a perpetuação de sua “própria espécie”. O que vai na contramão do pensamento contemporâneo.
Segundo dados do IBGE, a taxa de fecundidade no Brasil caminha para 1,5 filho por mulher a partir de 2056 e até 2070. O instituto afirma que a taxa de reposição populacional deveria ser de 2,1.
As causas da queda de crescimento é um conjunto de fatores relacionados à era digital – que problematiza a questão do capitalismo selvagem – e ao empoderamento feminino – que dá origem aos problemas de gênero. O fato é que mais e mais mulheres aderem ao movimento NoMo (Not Mothers ou, simplesmente, mulheres que não querem ter filhos), que, em 2023, já englobava quase 40% das brasileiras.
Segundo a psicanalista Vera Iaconelli:
As pessoas estão falando: “Obrigado, mas eu quero ter uma carreira, uma vida, liberdade, poder entrar num restaurante sem que me olhem torto com meu filho, pois as crianças choram”.
“Empoderamento”
Desde 1980, a população feminina no Brasil vem crescendo e se mantendo à frente da masculina. Em 2022, as mulheres já representavam 51,5% dos brasileiros. Com isso, veio também a necessidade de incluir no Censo “perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero”, o que teria sido implementado nas pesquisas do ano passado. Assim, cresce o empoderamento feminino e dos que se declaram LGBTQIA+.
Mas o problema só começa quando os ativismos se radicalizam. E parece que todo extremismo só pode ser combatido com outro. Hoje, “o movimento “child free”, que surgiu nos anos 1970 e defendia apenas o direito de uma vida sem filhos”, ganha força com uma distorção…
…agora é sinônimo de pessoas que defendem restrições de acesso a crianças em diferentes locais de convívio social. O motivo não é preservar a infância, mas, sim, a paz de quem frequenta esses lugares.
Ideologia, reprodução e poder
Iaconelli acredita que é preciso mudar essa percepção de que as crianças são uma responsabilidade exclusiva da mãe. O que, inclusive, é a visão de muitas mulheres, que, embebidas pela cultura machista, tomam as suas crianças como um objeto de seu pertencimento, dominando as atividades de cuidado e supondo que o seu cuidar é sempre melhor que o do outro. Mas Iaconelli complementa que a responsabilidade é, na verdade, “do Estado, dos familiares e da sociedade como um todo”. Inclusive, dos avós e tios, que acreditam poder “estragar” as crianças alheias.
A psicanalista diz ainda, fazendo referência ao famoso provérbio africano “é preciso uma aldeia para criar uma criança”:
Mas aí inverto isso: uma aldeia precisa de muitas crianças, para que a própria aldeia exista. Não se trata apenas de cuidar das crianças, mas de quem vai nos render?
E, então, voltamos ao início de tudo, ao suposto filme de terror: quem vai nos render é quem quer reproduzir. São esses que criarão leis e que as executarão. Será com esses que teremos que lidar. Fica claro que, no Brasil, ser maioria em raça ou gênero não é sinônimo de empoderamento. Assim como empoderamento não é sinônimo de maioria ideológica. E, numa sociedade, quem vence é a maioria com uma determinada ideologia.
Deixo, assim, uma reflexão: você tem ciência das consequências de suas escolhas ideológicas?