Uma viagem de auto respeito
Em sua busca incessante por Deus, Leo atravessou diversas fases. Cada uma marcada por transformações profundas. Com efeito, da fé pura e simples da infância, passou para a adoração tímida e temerosa da adolescência, até chegar à revolta fervorosa da juventude, onde seus punhos cerrados se erguiam contra a divindade. Entretanto, logo veio o reconhecimento sereno de Deus em todos os aspectos de sua vida. Essas etapas foram determinantes e envolveram conquistas sonhos e reflexões.
O encontro com o sagrado
Sempre curioso e ávido por conhecimento, nos momentos mais turbulentos, Leo devorava os livros sagrados e os escritos dos autores cristãos mais renomados de sua época. Afinal, sua esperança era encontrar pistas que aliviassem o peso da culpa e da vergonha que carregava.
Portanto, nessa fase, tendo imensas dificuldades de se relacionar, nas suas fantasias mais desesperadas, imaginava-se aprisionado em um planeta alienígena. Assim sendo, cada particularidade das pessoas ao seu redor lhe lembrava constantemente de sua condição de forasteiro, um intruso na própria existência.
Hinos e cânticos de puro fervor
Desse modo, por volta dos dezoito anos, ele encontrou refúgio entre os missionários americanos da Fé Bahá’í. Fazia anos que ele não compartilhava momentos de integração religiosa com ninguém. Por isso, aquele grupo de jovens, tocando violão e entoando hinos, o atraiu imediatamente. Através deles, Leo mergulhou em obras espirituais, absorveu suas mensagens e, desde então, participou de todos os seus encontros.
De fato, havia um fervor nos cânticos que o envolvia completamente, e ele se entregou de corpo e alma. Esse período lhe trouxe inúmeras referências sobre aquela e outras religiões orientais. Como resultado, ele conheceu todo um tesouro de ideias e práticas que alteraram o curso de sua vida, afinando a sua sensibilidade com a inteligência superior. Leo se sentia protegido e guiado.
Visões de mestres e anjos
Além disso, o mundo invisível lhe falava através de seus sonhos. Em seus devaneios, frequentava terras distantes, vivendo experiências ricas e cheias de êxtase espiritual. Muitas vezes, imaginava-se cercado por seres celestiais, participando de escolas sagradas, rodeado por outros discípulos, absorvendo as mensagens dos instrutores.
Dessa maneira, tendo frequentado outros universos, onde sua criatividade expandia-se em mundos e eventos maravilhosos, Leo demorou a aterrissar na realidade ordinária. No entanto, muito além de uma fuga, sua imaginação constantemente serviu como instrumento de salvação. Não fosse por esse dom, teria apenas sobrevivido numa existência mesquinha, humilhado e autodestrutivo. Provavelmente duraria pouco.
Mundos adjacentes e paisagens sobrenaturais
Leo tinha uma relação impressionante com os sonhos. Ademais, desde que começou a anotá-los, cada noite se transformava em uma jornada ao transcendental, repleta de encantos e terrores. Os sonhos eram portais para mundos com paisagens sobrenaturais e acontecimentos fantásticos. Mas, entre essas maravilhas, também se escondiam pesadelos, reflexos de sua culpa, que se materializavam em monstros ameaçadores dos quais ele precisava se salvar.
Em muitas de suas noites, Leo se via correndo aflito, lançando-se ao ar, onde flutuava com uma leveza espantosa, elevando-se para longe das ameaças. Por conseguinte, sua relação com os sonhos era uma interação entre o real e o imaginário, onde cada pormenor era vivido com uma intensidade palpável. Ele recordava cada detalhe, como se realmente tivesse viajado por esses mundos, experimentando cada emoção e cada textura.
Metáforas e insights
Os símbolos que encontrava em seus sonhos eram claros e vívidos. Frequentemente, sentindo-se culpado simplesmente por existir, ele era perseguido por um lobo negro, uma sombra constante que sempre o alcançava. Eles lutavam e Leo abria-lhe a mandíbula com as mãos nuas, em uma batalha desesperada. Também era acossado por um cavalo branco e por uma criança de aparência monstruosa, um menino perverso que o aterrorizava.
Todavia, o pesadelo mais horripilante envolvia um peixe gigantesco, que emergia subitamente, quebrando o chão à sua frente, abrindo uma boca enorme repleta de dentes afiados, prestes a devorá-lo. Por isso, sempre que a água aparecia em seus sonhos, Leo sabia que o perigo estava próximo, deixando-o apavorado. Com efeito, ele reconheceu nesse símbolo uma relação com o seus sentimentos e o medo de ser magoado.
A eterna dança de temores e desejos
Assim, cada sonho era uma peça de um quebra-cabeça emocional, uma janela para os recônditos mais profundos de sua alma, onde medos e anseios se entrelaçavam em uma coreografia perpétua.
Outro símbolo que Leo identificou em seus sonhos, e um dos mais significativos, eram as residências. Em geral, eram habitações simples, mas amplas, com muitos cômodos. Durante algum tempo, esses imóveis estavam próximos ao mar ou na beira de precipícios, na iminência de serem inundados, de desabarem. Ou eram apartamentos carentes de manutenção, com portas e janelas inseguras, em prédios velhos, com elevadores precários e aparência sombria. Com o tempo, essas moradas foram se sofisticando, ampliando-se em diversos pavimentos, com janelas amplas, decoração requintada, conforto e segurança. Leo constatou que eram representações de sua ideia sobre si mesmo.
Aventuras em mundos além
Ele constantemente tinha sonhos lúcidos, com cenários muito reais de paisagens, acontecimentos, e pessoas que lhe falavam, davam instruções e até mesmo seres medonhos que tinham a intenção de se apossar de seu corpo. Alguns tinham enredos elaborados onde participava de missões secretas, movendo-se por subterrâneos obscuros, para eliminar vampiros, monstros ou tiranos que escravizavam os moradores de castelos, cidades e países. Nesse contexto, tinha vários colaboradores e agiam em tramas como as de filmes de aventura.
Toda grande mudança em sua história era prenunciada por sonhos onde participava de testes escolares, para os quais às vezes chegava atrasado ou lhe pegavam de surpresa. Com o tempo, essas avaliações se realizaram em universidades ou escolas de mistérios. Alguns desses sonhos tinham toques premonitórios que revelavam com nitidez as circunstâncias de sua relação com a vida.
Um documentário intangível mas real
A sua evolução é retratada no mundo onírico com abundante simbologia. Consequentemente suas experiências o levam à diferentes contextos, dos mais profundos abismos da alma às mais elevadas esferas espirituais. Seus diários contêm preciosidades, verdadeiros tesouros, onde se mesclam fatos de sua vida e relações, análises e estratégias, além de mergulhos e voos em universos de fantasias mirabolantes.
Auto conquista e gratidão
A percepção constante de que a vida lhe envia sinais o guiou por caminhos que o protegeram da autodestruição. Ao olhar para trás, com clareza e discernimento, ele sente uma profunda gratidão. Embora ainda haja muito a ser alcançado para se considerar plenamente realizado, Leo planeja seu futuro com confiança e serenidade. Seu esforço tem sido recompensado com uma autoimagem positiva e uma alegria tranquila. Sua mente, sempre vigilante e enriquecida pela sabedoria adquirida em suas vivências, carrega a certeza de que está desempenhando com distinção o seu papel no grande palco da vida.
Confiança na essência pura e verdadeira
E assim, Leo segue sua jornada, com o coração repleto de esperança e os olhos voltados para o horizonte. Cada sonho, cada símbolo, cada desafio superado se transforma em um degrau na escada de sua evolução. Ele sabe que a vida é um constante aprendizado, e que cada passo dado, por menor que seja, o aproxima de sua essência mais pura e verdadeira.
No silêncio da noite, quando os sonhos voltam a visitá-lo, Leo sorri. Ele compreende que não está sozinho, que há uma força maior guiando seus passos, iluminando seu caminho. E, com essa certeza, ele abraça o desconhecido, confiante de que o melhor ainda está por vir. Afinal, a vida é um grande espetáculo, e Leo está determinado a atuar com graça, coragem e amor.
Manoel Queiroz
Curitiba, 17 de setembro de 2024