Confrarias, Relíquias e Revelações

Histórias de Empatia e Beleza

Este é mais um capítulo da jornada do nosso personagem Leo denominado Confrarias, Relíquias e Revelações.

A vida de Leo, marcada por circunstâncias peculiares, o moldou como um outsider. Portanto, estava sempre desconfiado de qualquer situação que o forçasse a se enquadrar ou a adotar opiniões vulgares. Dessa forma, seu hábito de investigar o ajudava a desvendar muitos contextos que, ao serem aprofundados, revelavam-se não só falsos, mas também forçados.

Ao mesmo tempo, cada nova descoberta consolidava sua desconfiança na estrutura social, com suas regras de conduta e conceitos rígidos de certo e errado. Assim como em uma família certos tabus são ocultados das crianças, Leo percebia que a sociedade também estava repleta de meandros escusos. Estes levavam a verdades profundamente diferentes das que eram impostas e, geralmente, aceitas.

Sendo assim, seus cadernos de referência se acumulavam. O hábito de registrar tudo o que sua mente demandava clareza tornou-se uma marca indelével de sua personalidade. Embora evitasse confrontar as verdades instituídas, Leo observava com um distanciamento crescente. Dessa forma, era como se visse a vida através de uma lente que revelava detalhes ocultos aos olhos comuns

O envolvimento com amizades atípicas

Apesar de sua postura reservada, Leo conquistou amizades singulares, em que cada uma revelava aspectos profundos das relações humanas. Com alguns amigos, formou laços que se transformaram em verdadeiras confrarias, unidos pelo fascínio por misticismo, filosofia e ciência. Logo, influenciados por revistas e livros em circulação, formaram uma espécie de sociedade secreta. Suas conversações seguiam um ritual de leituras e exposições de descobertas que transcendiam o ordinário. Inspirados por uma publicação sobre realismo fantástico, um movimento muito influente na época, principalmente na literatura. Como resultado, essas conexões o impactaram de maneira profunda e deixaram marcas permanentes em sua vida.

A magia da comunhão além dos conceitos limitadores

Leo viveu momentos mágicos com amigos reais e imaginados. Um deles, encontrado em Porto Alegre, era seu colega de trabalho. Juntos, exploravam universos criados por suas mentes, onde o sobrenatural se tornava habitual. Em uma dessas aventuras, ao passar diante de uma livraria, o amigo entrava abruptamente. Então, ele passava as mãos sobre os livros nas prateleiras e, sem ler os títulos, pegava um deles ao acaso, abrindo-o em um parágrafo específico. Leo se maravilhava com as revelações, como se o universo estivesse falando diretamente com eles. E assim, riam como crianças, com satisfação e cumplicidade, encantados com a magia daquele momento compartilhado.

Confrarias relíquias e revelações.

O seleto clube de valores artísticos singulares

Em um de seus empregos, Leo cruzou o caminho de um manipulador cínico, cuja sagacidade o tornava um mestre em brincar com as emoções alheias. Ao perceber que se tornaria o alvo, Leo estudou minuciosamente as táticas, expressões e gestos do manipulador. Em seguida, quando expôs suas conclusões, o confronto inesperado gerou uma intimidade respeitosa, transformando uma relação inicialmente hostil em uma amizade curiosamente proveitosa. Com uma inteligência muito acima da média, ele recomendou livros, filmes e lhe forneceu sugestões de inestimável valor. Também o apresentou a vários intelectuais que formavam um grupo extremamente seletivo. Posteriormente, seus encontros se tornaram essenciais na vida de Leo.

Com gostos semelhantes, eles discutiam livros, filosofia, cinema e artes com uma intensidade rara. Suas reuniões eram verdadeiros banquetes de erudição, onde degustavam não apenas música clássica, mas também as nuances mais sutis da cultura. Simultaneamente, frequentavam o cineclube da cidade, assistindo a filmes raros de diretores renomados, que seriam exibidos ao público em sessões noturnas no final de semana. Também dissecavam livros com profundidade e perspicácia, como se cada página revelasse segredos do universo.

O aprendizado no mergulho em culturas admiráveis

Entre as histórias que mais os impactaram, havia uma que narrava as aventuras de um capitão de navio que, com uma tripulação experiente, chegou ao Japão. Nessa época o país era desconhecido para o Ocidente e a única presença estrangeira eram jesuítas portugueses. A habilidade do capitão em se adaptar a uma sociedade cheia de rituais e onde a imprevisibilidade era vista com desconfiança, conquistou a admiração de Leo. Principalmente pelas técnicas recomendadas para coexistência social, onde a intimidade era praticamente inexistente. Constantemente era necessário tecer cortinas de ausência para desligar-se dos assuntos particulares de terceiros. Frequentemente envergar uma máscara inexpressiva para ocultar pensamentos e emoções. Igualmente, concentrar-se com foco direcionado e vigilante, o que os tornava exímios no manuseio da espada e do arco e flecha. Como resultado, ele incorporou para si muitos dos costumes e visões de realidade descritas no livro.

Uma trajetória literária vivida em profundidade

Leo mergulhou em mundos antigos e distantes, desde as civilizações egípcia e suméria até as culturas dos astecas, incas, chineses e indianos. Com os heróis desses povos, ele viajou através da história, experimentando glórias e tragédias como se fossem suas. Ele também esmiuçava enciclopédias, livros de arte e acervos de museus, criando quadros muito completos, que sua imaginação recheava de sensações.

Como neto de um profeta, viajou, prospectando a divindade, através de diversos países. Viveu na Pérsia, Índia, China e morreu, com idade avançada, na Grécia, em plena Era de Ouro de Atenas, sob o governo de Péricles. Na pele de um sacerdote asteca, acompanhou o maior genocídio da história. Isso, enquanto descrevia para os seus algozes espanhóis, detalhes fantásticos da sua cultura, então, em plena e monstruosa destruição. Através de um alquimista, fugiu da inquisição pelos subterrâneos da idade das trevas. Conviveu intimamente com os horrores cometidos em nome do amor, com o êxtase dos santos, com a pureza dos acólitos e o fanatismo dos inquisidores.

Técnicas de manipulação de dados em civilizações ancestrais

Leo percorreu muitas vidas, mergulhando em romances, aventuras, tramas, guerras, criação de impérios e concepções filosóficas que se tornaram realidades. Cada uma dessas experiências lhe trazia um universo de informações, com correlações ocultas e conhecimento secreto. Assim como o “palácio das memórias”, uma técnica milenar utilizada na antiguidade oriental, em países como China e Tibete.

Relacionava-se a construção de um edifício mental, com seus diversos pavimentos, alas, cômodos e armários repletos de compartimentos e gavetas. Nelas as informações eram armazenadas e recuperadas quando necessário. Dessa maneira, a mente, usada há séculos como um processador de dados, se beneficiava dessa técnica mnemônica poderosa. Esse conhecimento se fundiu à habilidade natural de Leo de memorizar através das emoções. Os espaços da estação orbital imaginária que abrigava a “Arca de Noé do Conhecimento Humano” se expandiram exponencialmente.

A beleza luminosa e hipnótica dos seres “comuns”

Ao observar constantemente as pessoas, Leo percebia nuances e delicadezas sob as aparências. Ele tinha uma fascinação pelo ser humano. Como consequência, enxergava a beleza subjacente à roupa física e a luminosidade hipnótica de cada um. Aos seus olhos, os movimentos fugazes de luzes e sombras dançavam de formas únicas nos gestos e nas expressões.

A maioria vivenciou cenas dignas de grandes narrativas, com profundidade, beleza e lirismo. Batalhas e vitórias internas marcantes, cujo valor só elas poderiam compreender. De maneira idêntica, poderiam relatar suas aventuras interiores sob pontos de vista deslumbrantes, repletos de ingredientes comoventes e engrandecedores.

A conexão profunda de elementos compartilhados

E assim, Leo constatou que, ao olhar além das aparências, podia encontrar a verdadeira essência de cada pessoa. Uma luz que brilha intensamente mesmo nas sombras mais profundas. Essa descoberta o fez valorizar ainda mais a beleza da diversidade humana. Reconheceu que, em cada encontro, há uma oportunidade de se conectar com a alma de outro ser. De compartilhar momentos de vulnerabilidade e de celebrar a resiliência que nos torna todos extraordinários.

Manoel Queiroz

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