A febre dos filtros nas redes sociais
Paginando as redes sociais, meus queridos leitores, percebi que agora a tendência são os filtros. Como se já não bastasse o conteúdo apelativo de pessoas “super felizes, realizadas, com vidas invejáveis,” agora a beleza “dá no meio da canela” nos reels, stories e pôsteres.
Essa semana, falava com um amigo meu, muito querido e bem-resolvido. Perguntando-lhe sobre a vida, os relacionamentos, já que ele é um solteirão inveterado, ele me respondeu com a seguinte pérola: “Solteiro sim, sozinho nunca.”
E continuou falando que está decepcionado com os encontros de hoje em dia, pois vê uma beldade nos stories do Instagram e pessoalmente, quase que não reconhece a pessoa, devido ao excesso de uso de filtros que as redes sociais oferecem. Tais filtros embelezam os usuários com uma maquiagem bonita, um bronze, um corpo mais esbelto, enfim, algo relacionado aos padrões de beleza da atualidade.
Esse amigo não tem filtros em sua fala. É bastante sincero no que diz e pensa, o que até prefiro, confesso. Pessoas verídicas, sem palavras viscosas ou falsas têm se tornado raras na época dos filtros.
É errado usar filtros?
Não é errado usar os filtros. Todavia, convém usarmos com moderação, como tudo nessa vida.
Algumas vezes eu uso sim, sou ré confessa. Quando vejo a necessidade de aprimorar a imagem em alguma publicação. Com essa identidade de escritora, precisamos sempre interagir com nossos leitores e quem gosta de aparecer com a cara amassada?
Sou uma notívaga. Prefiro produzir durante a noite, quando a cidade se cala um pouco e posso ouvir meus pensamentos com maior apuro. Geralmente, vou dormir perto das 2h da manhã, algo que não recomendo. O resultado são olheiras e cara de cansaço, quando acordo.
Então, recorro aos filtros, mas procuro o mais natural. Vaidades, vaidades… Quem não as têm? Até a famosa Amélia tinha a vaidade em ser uma mulher sofredora que achava bonito não ter o que comer.
Quando o filtro não cai bem!
Os filtros não caem bem quando há exageros, quando se passa uma imagem totalmente desconexa do que realmente é.
E aqui, já amplio o significado de filtros. Digo, não falo apenas dos filtros modificando o rosto, mas também dos filtros na personalidade.
No fim de junho, viajei bastante pelo meu estado e encontrei uma pessoa que sempre via pelas redes sociais. Imediatamente, fiquei boquiaberta ao tentar identificá-la, pois, à primeira vista, não parecia mesmo com a figura que aparecia nas redes.
A imagem que ela passava era de uma pessoa muito segura, “femme fatale,” queixo erguido, fazendo caras e bocas, seduzindo. Não estou criticando tal atitude, pois a sedução é uma das armas para conquistar o que se quer e cada um usa as armas que possui, pois sobreviver nesse mundo é uma verdadeira batalha.
O que me chamou a atenção, além da aparência ser totalmente diferente, foi a postura corporal encurvada, a cabeça baixa olhando de soslaio, demonstrando medo ou timidez. E eu pensei: “é essa a mesma pessoa das redes sociais?”
Convém o questionamento: a quem estamos enganando, meus queridos? A um grupo de pessoas do outro lado da tela ou a nós mesmos?
Quando os filtros são perigosos.
Os filtros disfarçam, enganam. Quando se limitam apenas à aparência, não é um grande problema, mas quando eles modificam a percepção da realidade para golpes ou imperícia, se tornam um verdadeiro perigo para nós, consumidores, que encontramos nas redes sociais uma verdadeira vitrine de serviços.
Recentemente, um caso chocou o Brasil: uma “influencer” que se dizia esteticista e que abusava dos filtros para mostrar uma imagem de beleza atraiu um jovem empresário para um procedimento que ela não tinha capacitação de realizar, um peeling de fenol. O resultado foi o óbito do rapaz.
Nas redes sociais, a postura que ela adotava era de confiança, de que era profissional habilitada. Vendeu uma imagem falsa (e cheia de filtros).
Por esse motivo, é mandatório checar as informações que recebemos, as avaliações sobre clínicas, produtos, serviços e, principalmente, das pessoas.
Filtros mais sérios!
Infelizmente, os filtros não se atêm apenas às redes sociais. Na vida real, fora das telas, passamos pelo mesmo problema. Quantas vezes não tentamos colocar um filtro para que certas situações pareçam menos difíceis e sejam digeríveis?
“Ah, fulaninho é assim porque teve uma infância difícil… Ah, a situação está dessa forma por isso e aquilo, é assim mesmo…
E assim, continuamos engolindo os sapos que parecem não terminar. Até que um dia, estouramos. Vamos nos poupar disso. Problemas existem para serem confrontados, resolvidos, ou, se não tiver jeito, a gente se afasta para que não acabem conosco.
Eu já fui assim. Adorava uma justificativa. Hoje em dia a maturidade não me permite mais colocar filtros em situações da vida.
Por fim, os filtros sempre existiram, a exemplo do cinema e revistas, mas agora estão por toda parte. Use-os com moderação. Não se deixe contaminar por tanto, pois chegará um momento que você mesmo se desconhecerá. Lembre-se que é mais fácil sermos o que somos do que fingir para outros e, principalmente, para nós mesmos.
Agora, me fale: O que você acha dos filtros, de forma geral?
Sou sinceraço, algumas pessoas não me suportam por isso. Suas crônicas como sempre tratam uma realidade que muita gente vive ou vê. Os filtros da crônica eu vejo como máscaras q somente disfarçam a realidade.
Obrigada, Pablo. Que bom que gostas das minhas crônicas. Em Assu, rimos por causa dos filtros. Eu uso só quando há necessidade de parecer menos cansada, mas sem modificar meu rosto. Gosto que as pessoas me conheçam como sou.
Um grande abraço, meu amigo e escritor!!!
Como raramente uso maquiagem e não tenho muita paciência de me produzir, por vezes utilizo um filtro quando preciso fazer um vídeo rápido, mas também escolho um que não fique artificial. Realmente tem pessoas que não conseguimos reconhecer quando encontramos. Os filtros só não são mais radicais do que as múltiplas plásticas que chegam a viciar a distorcer, chegando a um desequilíbrio psíquico.
Diferente das desculpas que levam a uma “terceirização da culpa”, os filtros sociais, usados sabiamente, são necessários, outro dia li “Filtre suas palavras. Sinceriadade sem empatia é maldade ou grosseria.” (autoria desconhecida).
É isso.
Mais uma vez, amei sua crônica. <3
Exatamente, minha querida Helenita. Os filtros são nossos aliados, quando precisamos aparecer menos cansadas nas redes sociais.
Amei o uso do filtro para outros contextos e creio que devemos ser assim, usar os filtros nas palavras para acalentar e não machucar.
Um grande abraço, amiga querida e obrigada pelo apoio de sempre.
Não sou contra filtros “leves”,eu até concordo que sejam usados em maquiagem de forma natural para encobrir algumas imperfeições que a idade nos mostra,porém há uma febre incontrolável nos dias atuais de pessoas perdendo suas identidades em busca da juventude, atendendo a cobranças absurdas no culto a Beleza .Filtros da enganação, da mentira q está tomando conta das nossas vidas através de uma mídia perversa que aliena muitas pessoas infelizmente
Obrigada, querida Marlene pela leitura e comentário. Tens toda razão. Devemos sim nos sentir belas, mas sem perder nossa identidade. Sem ela, nada somos.
Beijos para você!
Uma bela reflexão essa crônica nos trouxe!
Obrigada, minha irmã! Beijos e obrigada pelo apoio de sempre!