Luxo, desleixo, sabedoria
Em meio à sociedade da produtividade, da falta de tempo e, consequentemente, do cansaço, o descanso é artigo de luxo ou sinônimo de preguiça e desleixo? Ou quem sabe, coragem e sabedoria?
Para os monges tibetanos, que seguem a religião budista, cuja história é milenar, “a meditação é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento da sabedoria e da compaixão”. Eles passam horas sentados em silêncio, diariamente, e “acreditam que a compaixão é a base de todas as práticas espirituais e que ela é essencial para a busca da paz e da felicidade”.
Ainda citação de artigo do jornal ‘O Maringá’:
Eles também enfatizam a importância do desapego e da renúncia, ensinando que a verdadeira felicidade vem de dentro e não depende de bens materiais ou realizações externas.
Sociedade do cansaço
Na contramão disso, vem a Sociedade Paliativa, tema do artigo A felicidade enquanto delírio. A nossa sociedade contemporânea: “deprê”, ansiosa, em busca de um cada-vez-mais: mais dinheiro, mais experiências, mais fotos, mais postagens. Aquela que precisa extrair o máximo de sua produtividade, para poder bancar tudo isso. Aquela que adoece, mas não tem tempo para adoecer. E segue trabalhando incessantemente para poder bancar tratamentos de saúde cada vez mais caros: psiquiatra, psicoterapeuta, medicamentos, internações. Aquela que ainda tem filhos, mas não tem tempo para cuidar. E segue parindo frágeis criaturas.
Em meio à sociedade do cansaço, quem tem tempo pra descansar é rei! Ou vagabundo! No entanto, independente disso, é fato que o descanso pode propiciar tantos benefícios que, em outro mundo, quem sabe, seria impensável não usufruir de tal oportunidade!
Tempo: o fantasminha camarada
O “ter mais tempo para si” é uma necessidade fruto de um encontro entre a revolução industrial e a era digital. Enquanto a primeira propõe um maior tempo de dedicação ao emprego, a segunda fornece possibilidades mais atrativas de trabalho, ao mesmo tempo que aumenta o leque de entretenimentos. A lida começa a não ter mais a mesma contribuição que tinha para o sentimento de completude, embora ainda seja fonte de pagamento para muitas das experiências que contribuem para essa sensação fantasmagórica.
O descanso pode ser exacerbado, mas também suficiente. Suficiente para não estarmos no automático, para tomarmos decisões mais assertivas, para pouparmos, para nos pouparmos! É bem verdade que se os especialistas em melhoria contínua, que se dizem de plantão, calculassem as perdas referentes ao seu estresse oxidativo, os seus hábitos imediatamente mudariam!
Pele, cabelo e corpo saudáveis e bonitos todo mundo quer. Todo mundo quer comprar. Mas pele, cabelo e corpo saudáveis e bonitos não se compram uma única vez, é preciso mantê-los. E para mantê-los, é preciso se privar de descanso, privar-se de tempo. Para poder bancá-los. Assim, em vez dos hábitos saudáveis, tornamo-nos escravos da pele, cabelo e corpo saudáveis e bonitos. Escravos do tempo. De um tempo que não há. E quando há, é luxo.