Sacrifício

O que seriam sacrifícios?

Sacrifício é uma palavra que soa pesada para colocarmos numa crônica, um texto que, em sua natureza, deve ser leve. Como escritora, quis falar sobre algo que é cotidiano, mas tão cotidiano que por vezes não percebemos que fazemos verdadeiros sacrifícios diários para viver.
Quando falamos em sacrifícios, nos vêm à mente o sacrifício de Abraão, ao oferecer seu filho Isaque no Monte Moriá ou o do próprio Jesus Cristo que morreu em sacrifício para expiar os nossos pecados. Pensamos ainda nas histórias mitológicas onde as bruxas ou bárbaros realizavam sacrifícios oferecendo seres vivos às divindades, o que algumas religiões ainda replicam.
O que não paramos para pensar é que de fato, sacrifícios são feitos por nós diariamente para que alcancemos nossos objetivos, sejam eles grandes ou pequenos.

Sacrifício, no bom e velho dicionário, significa ofertar algo às divindades ou renúncia a algo que se possui ou ainda, dedicação absoluta, privações com fins de obter algo.
Pois bem, em nosso dia a dia, dedicamo-nos sempre a alguma causa, pessoa, ideologia com fins de obter algo para nós e para os nossos. Então, fazemos sim sacrifícios, muitas vezes sem se dar conta.

Sacrifícios do dia a dia

Já de volta à minha rotina de cruzeiros, umas das coisas que mais gosto é conversar com a tripulação. Não interajo muito com os demais hóspedes porque eles sempre estão contando vantagem sobre algo e por vezes, você capta uma mentira. Claro que há exceções, mas a maioria é assim. Dessa forma, opto por ouvir o pessoal da tripulação, que é mais sincero.
Dessa vez, encontrei vários rostos conhecidos e alguns novatos. São tripulantes que vieram de longe para permanecerem por sete, oito meses nos navios, trabalhando em jornadas exaustivas, dormindo em cubículos com o objetivo de um salário melhor, em dólares e assim, poderem ajudar às suas famílias.
Muitas delas sacrificam a maternidade ou deixam seus filhos com parentes e viajam quilômetros para trabalhar e se socializar com pessoas estranhas, atuando em países de culturas tão diferentes das suas. Vale salientar que sobre cultura, devemos considerar a linguagem, a culinária, os costumes, as festividades e claro, a religião ou crenças.
Não é um sacrifício fácil para muitos: sair e se desligar de tudo que representa sua pátria, sua casa para campos estrangeiros, pois em seu país, a dificuldade de emprego ou a moeda não é suficiente para realizar o seu sonho. São advogados, pedagogos, professores, cozinheiros, engenheiros, médicos, músicos, agricultores, artesãos, artistas, sonhadores, corajosos, aventureiros, eu diria, que sacrificaram seus sonhos em terra natal em busca de melhorias.

No Brasil

No Brasil, a vida tem sido um eterno sacrifício. Vivemos nos equilibrando em impostos hediondos que engolem grande parte do que recebemos e que não suprem nossas necessidades, sendo necessário pagar extra por uma saúde, educação ou segurança de qualidade, coisas que deveriam ser providenciadas pelo governo.
Sacrificamo-nos entre viver com o mínimo e/ou passar necessidades, quando no final do mês distribuímos nosso dinheiro nas contas básicas, sobrando muito pouco ou nada para nossos planos e sonhos.
Sacrificamos nossa saúde mental ao sair com medo de casa, sem saber se seremos assaltados na esquina ou se entrarão no silêncio da noite pelos muros que construímos por medo, frente ao descaso das autoridades.

Cada dia é uma luta diferente

São mães e pais de famílias que dedicam seus dias em extenuantes trabalhos com fins de ganhar uma renda mínima que possa proporcionar o básico para suas famílias, são estudantes que dedicam seus dias para concluírem suas graduações e obterem seus diplomas e “serem alguém,” são pessoas da melhor idade que sacrificam seus dias de descanso trabalhando para ajudar no sustento da família, pois a casa agora está cheia de filhos e netos que não conseguem se manter.

Os sonhos valem os sacrifícios?

Então, o que você sacrificaria por um sonho? O convívio com sua família, sua cultura, uma vida de dedicação, frustrações, uma úlcera ou algo assim?
Enfim, meus amigos, não se faz omeletes sem quebrar ovos. Sacrifícios são necessários, a não ser que você seja essa pessoa que viva em conformidade com tudo; que para você esteja tudo perfeito; que você não tenha sonhos, que a vida passe de qualquer forma e tudo bem.
Como não somos seres apáticos, aprendemos com nossos ancestrais em dar algo em troca de alguma coisa (por exemplo, nosso tempo, atenção, amor, momentos com a família, horas de sono, nossos desejos). Dessa forma, devemos aceitar os sacrifícios como algo normal, do cotidiano.

Por fim, não vejam a palavra como algo ruim, mas como um caminho necessário para os objetivos. Eu, ao longo da vida, fiz sacrifícios. Alguns, à toa. Outros que me deram os resultados que eu esperava. Sei que preciso fazer outros, pois não paro de sonhar e ter planos e os tais requerem muito de mim para realizá-los. É assim que funciona com todos: com a tripulação do navio, comigo e com vocês.
E vocês, já fizeram algum sacrifício em prol de algo? Valeu a pena? Ou, por quem vocês fariam qualquer sacrifício? Se sentirem-se à vontade, compartilhem comigo. Terei maior prazer em bater esse papo com vocês.

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