Rumos Aventuras e Encontros Místicos

Trilhas de um Explorador Espiritual

Leo criou relações de amizade com algumas pessoas singulares. Algumas com vidas complexas, cheias de acontecimentos traumáticos. Com efeito, desenvolveu ligações em vários níveis. Todavia, havendo morado em diversas cidades e participado de cursos e eventos, ele veio a conhecer indivíduos de todos os níveis sociais, escolaridade e confiabilidade. Certa feita, participou de um grupo de meditação aberto ao público, promovido por uma faculdade holística, onde tomou rumos aventuras e encontros místicos.

Então, todas as sextas-feiras, as 19:30 se reuniam num galpão de madeira, onde havia infra estrutura para terapias e workshops. Ao som de músicas específicas e sob a orientação de um instrutor, meditavam ali, desde alunos até donas de casa e policiais. Contudo, muitas dessas meditações utilizavam técnicas criadas pelo mestre indiano Osho, naquela época conhecido pelo seu nome original Rajneesh. Ele desenvolveu meditações “dinâmicas”, segundo ele, próprias para a mente ocidental, sempre voltada para fora e constantemente envolvida num vendaval de pensamentos.

A paz em meio ao burburinho incessante

Cada prática durava uma hora e era composta por 4 estágios, cada um com um ritmo específico. A técnica básica, por exemplo, começava com pequenos saltos, batendo os pés com impacto no chão, enquanto se pronunciava um mantra para ativar o centro de energia localizado na raiz da coluna vertebral. Então, no próximo estágio havia como um enlouquecimento geral. Parecia uma espécie de exorcismo, onde todos moviam os membros e o corpo em gestos tresloucados, enquanto se jogava para fora o conteúdo da mente, na forma de palavras e sons sem sentido.

Acompanhado por ritmos de percussão e melodia velozes esses movimentos e vocalizações caóticos se tornavam muito intensos. Após 15 minutos, todos deitavam, relaxando e observavam os próprios corpos e mentes. Então era possível sentir a vibração acelerada de todo o sistema físico/mental e podia-se literalmente assisti-lo ir se acalmando. No último estágio, agora completamente relaxados, havia uma dança lenta, uma celebração. De olhos fechados, sentindo o corpo e os movimentos numa atenção plena, a sensação era de enlêvo. A clareza mental após essa prática dava a sensação de ter alcançado uma espécie de êxtase.

Tecnologia espiritual e os mecanismos da mente

Portanto, haviam várias modalidades de meditações ativas, todas com 4 fases de 15 minutos. Além disso, praticavam-se outras técnicas de terapias em grupo, de várias linhas. Com uma presença constante, Leo desenvolveu relações de amizade com mestres e alunos de cursos da faculdade e convidados. Até chegou a assistir várias aulas como ouvinte. També lia os livros recomendados e até mesmo fazia algumas provas, para testar o conhecimento adquirido.

Apesar de não ter vínculos formais com a universidade, desde o primeiro dia em que participou das meditações abertas, envolveu-se em todas as suas atividades relativas ao curso de yôga. Ia aos sábados para as práticas de Tai Chi Chuan, num parque próximo, pontualmente às 7 horas. Então, lia avidamente todas as referências e devorou livros de diversos autores, místicos, terapeutas, filósofos e psicanalistas. As trocas de referências eram constantes e os encontros com os alunos eram recheados com muitas informações e vivências. Desde essa época Leo medita diariamente.

Diálogo no umbigo do mundo

Entre os livros que ele leu, um o impressionou de modo profundo. Trata-se de uma obra com cinco mil anos de antiguidade onde são expostas técnicas para se ir além da consciência. Um diálogo entre o espírito e a matéria, onde esta pergunta ao ser supremo sobre o funcionamento da grande roda de eventos, causas e efeitos. Ele, em vez de responder, lhe dá 112 técnicas de meditação. Praticando-as ela descobrirá por si mesma todas as respostas. O lirismo e profundidade do livro o envolveu por completo. Então, durante anos Leo o leu e praticou os métodos sugeridos.

Impecabilidade e comunhão entre seres

Nesse período, no ambiente da faculdade, conheceu algumas pessoas especiais. Uma delas, uma mulher de sua idade. Ela era admirada por todos por sua impecabilidade e sobre ela haviam várias histórias, tornando-a quase uma lenda. Ela tivera um casamento problemático. Mais tarde, acompanhara o filho único numa longa trajetória de sofrimento até a sua partida. Após isso, abandonara a casa levando uma bagagem muito reduzida. Então, habitava em pensões ou quartos de aluguel, em casas de família. Tinha um semblante calmo e emitia uma vibração de paz. Seus olhos eram impressionantes, como se vissem além.

Ela participara de vários grupos como interna, mas abandonara todos eles. Conta-se que uma vez, convidada para um retiro de final de semana em uma seita indiana extremamente rígida, na meditação matinal, acordou antes mesmo dos superiores. Então, quando os internos se apresentaram para os trabalhos diários de manutenção e limpeza, ela já estava no local e fez a sua tarefa com extrema eficiência. Durante as práticas, ela teve um comportamento exemplar, impressionando a todos. Após o retiro, foi convidada para integrar o grupo, mas rejeitou. Na hierarquia as mulheres tinham uma posição muito subalterna.

Participou de muitos retiros e passou períodos em mosteiros, sempre demonstrando uma disciplina e engajamento notável nas atividades internas. No entanto, era independente de qualquer vinculação a grupos ou entidades.

Comunhão além das paredes do mundo

Ela e Leo se sentiram atraídos um pelo outro imediatamente. Se tornaram confidentes e amigos. Com ela ele aprendeu muitas coisas em altura e profundidade. Essa monja por natureza tinha uma energia cativante e impunha respeito pela simples presença. Durante os anos que conviveram participaram de vários eventos, desde grupos de meditação a workshops com instrutores renomados naquele meio. Alguns anos depois ela decidiu partir. Na despedida, ao som de uma cascata, olhando-o amorosamente, ela lhe disse coisas que ressoaram profundamente em seu espírito. Então, ela repetiu uma frase que ele tinha gravado no seu bau de preciosidades: “Siga confiante, como quem anda no escuro à beira do precipício, movendo-se sobre a mão de Deus!” Os olhos dele se encheram de lágrimas por aquele sinal miraculoso. Ele lhe entregou uma única rosa branca e eles se abraçaram longamente.

A influência dela sobre a vida de Leo teve efeitos significativos em sua evolução. Contudo, a sua ausência foi sentida como o sinal do fim de uma etapa. Sob a influência dela, Leo ascendeu a um patamar de experiências profundas e marcantes. Decidiram que não manteriam contato por meios externos. Haviam desenvolvido técnicas de comunicação que prescindiam palavras. No entanto, em cada nova ascensão dentro de si mesmo, Leo sentia a sua presença e provava uma grande satisfação como se estivessem próximos. E muitas vezes, em seus momentos de dúvida, viu uma rosa branca, numa pintura, numa ilustração, no nome de uma loja. Ele sentia essa visão como uma confirmação. Sua gratidão era imensa por esse ser que iluminara a sua vida com exemplos, ensinamentos e um carinho além do que as palavras podem descrever.

Rumos Aventuras e Encontros Místicos.

Encontros com viajantes da eternidade

Acostumado a acreditar que a vida lhe falava constantemente, Leo teve contatos com guias, conselheiros e anjos que apareciam, sobretudo, nos momentos que ele mais precisava. Até mesmo a escuridão lhe enviou arautos que, apesar de suas artimanhas, deixaram pistas incitando-o a evitar convidá-las, a se afastar, a conclamar suas defesas e seus protetores. Leo viu frente a frente alguns mensageiros que lhe trariam infortúnios. Contudo, algumas vezes caiu na sedução de sereias que identificaram fraquezas por onde infiltrar-se. No entanto, algo em seu mundo as repeliu, e um espelho cruel as revelou para si mesmas, fazendo-as se afastar infectadas pelo próprio veneno. Nas várias vezes que conheceu pais e mães de santo, em sua estadia em Salvador, lhe foi dito que a sua defesa era colossal, e que energias nefastas a ele direcionadas, voltariam à fonte, duplicadas.

Sua relação com esses babalorixas foi cordial e cheia de carinho recíproco. Algumas vezes num bar, numa festa e até mesmo no ônibus, eles se aproximaram e parecia que liam o conteúdo da sua mente e do seu coração. Eles lhe revelaram facetas ocultas extremamente importantes para a sua evolução. Por isso, Leo os tem na memória como emissários do mundo divino com quem teve o privilégio de fazer conexão. Uma vez foi convidado para participar de uma mesa de desobsessão num grande centro, no Bonfim. Após, uma senhora muito distinta e bonita, apesar da idade avançada, lhe disse: Se você ficar aqui, os santos vão lhe convocar. Mas você é de outra linha e afinal, no momento certo sua estrela o chamara.

O desabrochar criatividade

Com o lado místico bastante pronunciado, Leo teve experiências transcendentais que o marcaram, guiando-o e clarificando acontecimentos. Em todos os lugares onde morou, envolveu-se com as crenças locais, as incorporou e recebeu assistência. Através de sonhos, intuições e mensagens claras, transmitidas por pessoas envolvidas em grupos místicos e esotéricos. Na sua estadia em Salvador a magia se manifestava de formas espantosas, levando-o a experiências fora do comum. Viu-se envolto pelo encanto da natureza e pela religiosidade local e participou ativamente na vida da cidade.

Lá, ele deixou os cabelos cresceram até os ombros e praticou, sobretudo muitas de suas habilidades manuais. Todas as roupas que ele usou, inclusive calçados, foram fabricados por ele mesmo. Tudo um pouco rústico e artesanal. Colecionou pilhas de telas de serigrafia e estampava os tecidos que cortava e costurava numa velha máquina que pertencera a sua mãe. Fez muitas roupas para presentear, assim como mochilas, sacolas, calções e cortinas. Percorria as lojas de tecidos e as peças que produzia eram coloridas e vistosas.

Sob o encanto da melodia do mar

A sua relação com o mar foi de profunda intimidade e ele fez inúmeras viagens a ilhas com paisagens paradisíacas e mares de água transparente e cálida. Também engajou-se num curso para aprender a velejar. Esse evento o colocou no meio dos habitantes de um mundo a parte. Daqueles que moram em barcos e viajam ao redor do mundo em suas casas flutuantes.

O treinamento envolvia desde a prática em barcos menores até viagens em veleiros com os instrutores e todos os alunos, em aulas cheias de entusiasmo. Adorou frequentar iate clubes com seus habitantes saídos dos livros sobre piratas e aventureiros que ele devorava em sua juventude. Seu fascínio por embarcações o fez colecionar os nomes de muitos navios que passaram diante das janelas de sua morada, de frente para a Baia de Todos os Santos. Tinha uma luneta com a qual esporadicamente vigiava, desde os grandes transatlânticos até os veleiros particulares. Também frequentava os atracadouros onde se alinhavam embarcações de todo o mundo.

Encontros com viajantes intergaláticos

Nessa época, tornou-se aficionado por relatos de viagens em solitário. Imaginava-se dentro delas, comungando todas as aventuras e perigos. Com esses escritores, escrutinou a costa do Brasil do sul ao norte, fez travessias transatlânticas e deu a volta ao mundo, algumas vezes. Os detalhes técnicos dos barcos o fascinavam. Num desses livros, acompanhou a construção de uma nau feita de cimento armado pelo próprio navegador que depois deu a volta a Terra e no retorno foi recebido como herói pela marinha local. Colecionou revistas e livros sobre o assunto e demorava-se sobre suas plantas, imaginando seu apartamento como um barco, com a proa virada para leste.

Mapas náuticos e diários de bordo

Ao olhar para trás, Leo percebe a vastidão de sua jornada. As cidades, os costumes, as pessoas com as quais comungou experiências únicas, tudo parte de uma dança com o desconhecido. As experiências sobrenaturais como sinais silenciosos de que o universo o observa e valida a sua existência.

Hoje sentado a beira do tempo ele relembra todas as mensagens que lhe foram sussurradas pelos elementos em sua perene canção. O vento, a chuva, o mar, a lua, com sua luz protetora e maternal, o sol abrindo os espaços do mundo para sua travessia, todos companheiros de viagem. Tendo navegado por mares físicos e invisíveis, Leo aprendeu que o maior de todos os percursos é o que nos leva de volta ao centro de nós mesmos.

Curitiba, 02 de outubro de 2024

Manoel Queiroz

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