A jornada que nos devolve para casa

Autoconhecimento

Quando falamos sobre autoconhecimento, imaginamos frequentemente uma grande busca — quase uma expedição heroica rumo ao desconhecido, como se dentro de nós houvessem territórios inexplorados esperando por revelações extraordinárias. É uma imagem bonita. Mas, talvez, incompleta. A verdade é que o autoconhecimento tem menos a ver com descobrir algo novo e mais a ver com recordar, com “a jornada que nos devolve para casa”.
É menos conquista e mais retorno. Menos aventura e mais arqueologia.

A arqueologia de quem somos

Então, ao longo da vida, vamos acumulando camadas: expectativas, papéis sociais, defesas emocionais, urgências, silêncios engolidos, adequações necessárias.
E, em algum ponto, já não enxergamos mais com nitidez aquilo que sempre morou em nós.

Autoconhecer-se, então, é como realizar uma escavação delicada.
Não arrancamos nada à força; apenas retiramos o excesso de poeira que se acumulou sobre nossa essência.
E, assim como arqueólogos, encontramos fragmentos que não são novidades — são reencontros.

Confesso que, aos 71 anos, esse movimento se torna muito claro!

Reencontro com a coragem que escondemos.
Com a sensibilidade que abafamos.
Com a intuição que deixamos soterrar.
Bem como com a alegria que trocamos por eficiência.

Portanto, cada fragmento recuperado nos devolve um pouco do que fomos perdendo no fluxo apressado das décadas.

A Jornada do Herói: uma viagem para dentro

Joseph Campbell descreve a Jornada do Herói como um caminho que começa com um chamado, atravessa provações e termina com o retorno.
Contudo, é curioso perceber o quanto essa narrativa mítica se alinha com o movimento interior que vivemos quando decidimos nos conhecer de verdade.

O chamado, na vida real, não vem de fora.
Ele surge como um desconforto, uma pergunta insistente, um vazio que não se preenche, um desejo de voltar a sentir.
É uma parte antiga nossa dizendo:
“Venha. Eu ainda estou aqui.”

No entanto, as provações, não são monstros nem batalhas épicas, mas as camadas internas que precisamos escavar: crenças antigas, padrões repetidos, medos herdados, hábitos que nos afastam de nós mesmos.
Cada camada removida revela um traço enterrado — e também a força necessária para continuar.

E então chega o momento mais importante da Jornada: o retorno com o elixir.
O herói volta para casa levando algo valioso.
No nosso caso, esse “elixir” não é novo: é a lembrança de quem sempre fomos.

A Jornada que nos devolve para casa.

Retornar ao lar: o destino final da busca

Há uma imagem suave que gosto muito: a de que cada pessoa carrega um lar dentro de si.
Um lugar simbólico onde podemos descansar da necessidade de performar, de agradar, de provar.

Então, quando falamos em autoconhecimento como retorno, é a esse lar que nos referimos.
A jornada nos afasta para que possamos voltar.
A escavação remove camadas para revelar o essencial.
E, quando finalmente chegamos ao centro, percebemos que o caminho inteiro foi para reencontrar algo familiar.

O insight não é surpresa.
É alívio.

É aquela sensação silenciosa de dizer a si mesmo:
“Eu me lembro de você.”

A grande tese: não buscamos novidades, buscamos profundidade

Autoconhecimento não é uma busca por um eu ideal.
É uma recuperação do eu original.
É um retorno à presença, à verdade e à inteireza que já existiam antes de sermos moldados por tantas demandas.

Não somos um território desconhecido.
Somos um território esquecido.

E cada gesto de autoconhecimento — cada pequeno passo, cada descoberta gradual, cada escavação interna — é um pedaço da Jornada que nos devolve para casa.

✨ Escrevi sobre algo que também me visita: a sensação de voltar ao que é essencial. Se isso ecoa em você, estou à disposição.

Sarita Cesana

Psicóloga CRP 17-0979

@saritacesana_                  @implementeconsultoria

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