
O que se descobre ao retirar as camadas?
De volta em casa, após mais uma viagem, comecei a organizar minha caixinha de recordações. Dentro dela, guardo cartões-postais, ingressos de passeios pelo mundo, marcadores de livros, guardanapos personalizados e tantas outras pequenas lembranças.
Foi então que encontrei um ticket de uma visita guiada que fizemos a Pompeia, a cidade soterrada pelo terrível vulcão Vesúvio.
Manuseando aquele pequeno papel com cuidado, em um instante, voltei lá em pensamento, caminhando pelas ruas já escavadas pelos arqueólogos, onde cada pedra guarda segredos de uma sociedade que existiu.
Pompeia: uma cidade escondida no tempo
A cidade foi destruída em 79 d.C., mas permaneceu oculta por mais de 1600 anos, até ser redescoberta no fim do século XVI. As escavações começaram em 1748 e, desde então, nunca pararam.
Descobriu-se muito sobre os costumes romanos, mas ainda hoje novas revelações surgem como se houvesse material para uma vida inteira de buscas e de conhecimento.
Essa ideia de uma cidade inteira soterrada me fez refletir: nós também não somos um pouco como Pompeia?
O que encontraríamos se escavássemos dentro de nós?
Se alguém escavasse dentro de nós, o que encontraria?
Talvez nossa autenticidade, soterrada sob tantas camadas. O que realmente gostamos, o que não aceitamos, as marcas que o tempo deixou em nós.
A vida e o tempo vai depositando sedimentos: a camada familiar, a social, a profissional, a da imagem de “super humanos” que vestimos para enfrentar o cotidiano. E assim, muitas vezes, esquecemos quem realmente somos.
Até que algo acontece e precisamos buscar dentro de nós aquilo que estava enterrado. Daí surge um questionamento importante: será que realmente queremos nos conhecer por inteiro?
E se as escavações revelarem falhas, vícios, fraquezas? Ou, quem sabe, virtudes que nunca ousamos assumir?
As contradições de Pompeia e as nossas próprias
Em Pompeia, as descobertas não foram apenas grandiosas. Também havia contradições. O chamado “museu erótico”, com afrescos e bordéis, mostrou uma sociedade intensa, ousada e, aos olhos de alguns, depravada.
Outros achados — como a suspeita de que se alimentavam até de girafas, ou as casas de banho coletivas — revelaram práticas inesperadas. Pompeia não era apenas um cenário congelado no tempo, mas um retrato cru da humanidade.
E nós?
Quais aspectos de nós mesmos permanecem encobertos pela poeira da vida? Que hábitos, desejos ou memórias estão escondidos, esperando serem revelados?
Autoconhecimento: escavações que nunca terminam
Eu já tenho 43 anos e uma boa bagagem de experiências, mas não ouso dizer que me conheço por completo. Há situações que nunca vivi e, por isso, não sei como reagiria.
Ainda assim, já sei algumas coisas: o que gosto e o que não gosto, no que acredito, em quem confio e de quem me afasto. Sei até onde posso suportar, onde encontro minhas risadas fáceis, onde me sinto em casa e onde preciso vestir uma armadura social.
Ao contrário de Pompeia, que desperta curiosidade de milhares de turistas e estudiosos, as minhas escavações interiores interessam, acima de tudo, a mim mesma. São elas que me ajudam a me tornar, dia após dia, uma pessoa melhor — para mim e para os outros.
Reflexão final
E você?
Pode dizer que já se conhece totalmente ou ainda é uma Pompeia em fase de descoberta? Comente que volto já para ler!
Beijos. Tenham um dia maravilhoso e cheio de descobertas!
Com certeza ainda estou em processo de auto conhecimento. E receio que assim será enqto tiver por aqui rsrs. Sempre mudando, se transformando, redescobrindo e aprendendo / reaprendendo.
Oi, Gabi! Obrigada por sua leitura e comentário. É verdade, querida. Sempre estaremos em processo de descoberta e isso é que faz a vida interessante.
Beijinhos para vocês!!!
Embora eu possa está soterrada ou congelada, mas o processo de se conhecer profundamente me motiva todos os dias. A jornada e continua para o nosso desenvolvimento pessoal e para viver de forma mais autêntica.
Sheila Farias.
Natal/RN
Obrigada, querida Sheila, pela leitura e comentário.
Sim, você tem toda razão. É o que nos motiva todos os dias, procurarmos saber quem somos.
Um grande beijo, querida. Saudades!!!
Mais uma bela crônica, querida.
O autoconhecimento é (ou pelo menos deveria ser) uma busca eterna. Todos(as) temos nossos “pontos cegos” que só se revelam pelo olhar do outro. Sabe aquela folha verde no dente que não conseguimos ver e precisamos de um amigo para nos avisar que ela está lá? Assim é também com algumas coisas mais profundas e ocultas do nosso ser. Daí a importância de aceitar feedbacks para podermos nos ver pelo olhar do outro e assim nos conhecermos com mais profundidade.
O ser humano é mesmo uma caixinha de surpresas.
Grata por sempre fornecer esses momentos de reflexão.
Olá, minha querida amiga, escritora e também psicóloga. Seus comentários sempre são uma luz a mais no texto! É bem verdade que precisamos mesmo de um olhar de alguém sobre nós para iluminar nossos caminhos e que bom que temos isso através dos amigos e pessoas queridas. Obrigada pela sua leitura e carinho de sempre.
Beijinhos!