Fechar a Porta?

A memória de uma infância segura:

Quem cresceu no interior sabe: a vida tinha outro ritmo. Quando eu era criança, bastava encostar a porta. Não precisava fechar com chave. Sentávamos nas calçadas, deixávamos a casa aberta, brincávamos na rua — tudo com a confiança de que nada de ruim aconteceria.

Mas o tempo passa. Um dia, um rapaz com transtorno mental entrou em nossa casa. Estava em surto, mas não foi agressivo. Chamamos os familiares, que o buscaram sem maiores problemas. Ainda assim, algo mudou em nós.

A partir daquele dia, começamos a fechar a porta. O gesto simples virou hábito. E hoje, mais do que nunca, sabemos que todo cuidado é pouco.

Portas existem por um motivo:

As portas foram feitas para abrir e fechar. Permitem o fluxo da vida — entrada e saída. Parece óbvio, mas quando olhamos para nossas relações, nem sempre lembramos disso.

Quantas vezes nós escancaramos as portas do coração? Quantas vezes permitimos que pessoas entrassem sem sequer avaliar se deveriam? E a dificuldade que tivemos depois para fechar tais portas?

Abertos demais, falamos do passado, dos sonhos, das dores, dos planos. Entregamos nossa vulnerabilidade a quem nem sempre sabe ou merece cuidar. E aprendemos — com lágrimas ou frustrações — que nem todos deveriam ter cruzado nossa soleira emocional.

Aprendendo a fazer a triagem

Não se trata de se fechar completamente. Pelo contrário: a vida pede trocas, encontros, afeto. Mas é preciso atenção aos sinais. Cuidar das suas portas emocionais é um ato de amor-próprio.

Hoje em dia, até um gesto aparentemente inofensivo, como oferecer um bolo, pode vir com desconfiança. As relações estão mais frágeis, o mundo mais desconfiado. Isso torna ainda mais importante saber selecionar quem entra — e até onde entra.

Pessoas afetuosas atraem mais visitas

Se você é do tipo que acolhe, ouve, sorri e conforta, saiba: você naturalmente atrai pessoas. Algumas virão em paz. Outras, nem tanto. Por isso, é essencial fortalecer os limites, confiar nos instintos e manter vigilância gentil, porém firme.

Nem todos que batem à sua porta vêm por bem. Nem todos os que se dizem amigos são verdadeiramente aliados. Não se sinta culpado em fechar a porta para quem não fez jus ao seu acolhimento.

Você tem a chave

Lembre-se: é a sua vida, a sua casa, a sua mente. Há portas, sim, para permitir que a vida aconteça, mas a chave está com você. E se alguém entrar, que seja com delicadeza. E, ao sair, não se esqueça de fechar. Tranque. Preserve. Porque portas abertas não significam fragilidade — significam escolha.

E você? Teve algum momento em que recebeu pessoas em sua casa, em sua vida, mas depois percebeu o quanto eram indesejadas? Conte-me, se possível.

Beijos.

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1 comentário em “Fechar a Porta?”

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