
As novelas e suas versões ou reprises nos prendem como antes?
Todo mundo está falando sobre a versão de uma novela que fez muito sucesso nas telas do plim-plim, a famosa teledramaturgia “Vale-Tudo.” A novela tratava sobre a falta de ética e a corrupção no Brasil no final dos anos 80 (um tema que continua atual, para nossa infelicidade). Bem, não estou assistindo a versão atual, mas lembro do frisson que era a novela e toda a sua trama, além dos atores e atrizes de renome como Regina Duarte, Glória Pires, Daniel Filho, Renata Sorrah e outras estrelas.
Nós, brasileiros temos uma queda pelas novelas. São os romances falados que atravessam a sala, ocupam o horário nobre e, de alguma forma, nos prendem com suas tramas exageradas e espelhos tortos da vida.
Lembro que sentava com meus pais para ver a “novela das oito,” quando eu chegava do trabalho e era um ritual que hoje sinto muita falta.
Como vemos as novelas?
Os tempos mudaram e com as redes sociais e a sociedade tão diferente, a novela deixou de ser um programa familiar. Faz muito tempo que não assisto a uma boa novela, daquelas que influenciavam a moda, que lançavam músicas onde todos aprendiam de cor, bem como bordões bem-humorados dos personagens. A novela nos prende (ia) porque é, no fundo, um pouco da gente ali. O tempo passa. A vida segue e então vem a reprise ou nova versão de algo que fez muito sucesso.
Tem um canal pago em que é possível assistir as reprises, bem como no Youtube. Ao assistirmos uma reprise daquela novela que nos arrebatou há anos, que parava o Brasil, é interessante que não sentimos o mesmo, agora, com novas rugas no rosto e outras urgências na alma. Aquilo que era paixão vira simpatia, no máximo um sorriso nostálgico. A roupa já não se usa, o corte de cabelo virou meme, e o enredo… bom, já sabemos o final.
Talvez pelo nosso olhar mais cansado e também analítico, temperado pelos desafios da vida. Além disso, os costumes, comportamentos, formas de abordar certos temas mudaram. As coisas que eram mais “veladas,” hoje estão escancaradas. Há mais escárnio e certa vulgaridade por parte das tramas, tudo isso seguindo uma sociedade em constante mudança. Não sei se para melhor, confesso.
Na vida real, será que também funciona assim?
As reprises das novelas não nos caem tão bem como antes, talvez, por já sabermos o final, seja na telinha, seja na vida real. Aquela viagem com os amigos, o pôr do sol visto de um mirante desconhecido, o namorado do passado com quem ríamos por horas… e se tentássemos repetir tudo? Voltar ao mesmo lugar, refazer o roteiro, marcar o reencontro?
Talvez a paisagem seja a mesma, talvez até o sorriso surja, mas algo mudou: Nós. Já não somos aqueles que viveram aquilo. Podemos sim, reencontrar nossos amigos, revisitar um lugar de recordação, mas aquela sensação da primeira vez não existirá.
Por exemplo, quando entro na casa de meus pais, ainda sinto o acolhimento, mas de uma forma diferente, talvez por eles não estarem mais lá, talvez pela mudança de alguns cômodos. Tento reprisar as emoções de minha juventude, mas não consigo. Os tempos são outros e eu também. A novela mudou.
Reprisar a vida, é possível?
Eu gosto de ver a vida como uma teia muito curiosa e bem tecida para que nós não percamos tempo voltando ao passado, no intuito de reviver uma emoção, como uma cena de assassinato na novela ou finalmente, o beijo tão esperado dos protagonistas. A vida, ao contrário da novela, não foi feita pra ser reprisada e sim, para ser vivida no inédito, no improviso. A graça está em seguir adiante, guardando as cenas boas como lembrança, não como roteiro.
E se a saudade bater, que a gente reveja cenas com carinho, mas não tente refilmar. A vida é agora.
Agora me fale, se você pudesse, qual cena da novela de sua vida você reprisaria ou modificaria?
Apesar de não gostar de assistir muita coisa e simplesmente odiar novelas kkkk, sua crônica mais uma vez atinge cada um de nós. Parabéns!!!!!!!! Comento com 2 glosas e mote de minha autoria.
Mote:
*A vida é uma novela*
*Mas sem direito à reprise”
Na infância o sonho caminha
Pois tudo é belo e luz,
Mas tudo é uma cruz
E sem calma a vida ensina.
Cada dia nos fascina,
Nossa vida tem deslizes
Nos fazendo cicatrizes
E o tempo logo revela –
VIVER É UMA NOVELA,
MAS SEM DIREITO A REPRISE.
Quando a velhice desaponta
E o espelho não engana,
Feito a luz da velha chama
Cada dia nos afronta.
Quando a lembrança desponta.
Nossa vida nos assiste
Cada passo nos reviste
Cada ato nos revela,
VIVER É UMA NOVELA,
MAS SEM DIREITO A REPRISE.
Quando a velhice desaponta
E o espelho não engana,
Feito a luz da velha chama
Cada dia nos afronta.
Quando a lembrança desponta.
Nossa vida nos assiste
Cada passo nos reviste
Cada ato nos revela,
Viver é uma novela,
Mas sem direito à reprise.
A cena que eu reprisava, seria , eu criança, pois, era feliz e não sabia. Tínhamos dificuldades, mas, a família sentava na mesa, a noite contava histórias, e hj não vemos mais isso
Que metáforas interessantes, querida. Penso que seja muito difícil para um remake ter o mesmo impacto da novela original pelo fato da audiência criar uma expectativa impossível de ser alcançada, a de termos a mesma emoção da época. Como você bem disse, os tempos mudam e nós também. Acredito que o mesmo se dá nos remakes da vida. Prefiro estrear a cada dia. 😉
Não sei se valeria a pena reprosar a vida, teríamos os momentos bons mas também os difíceis.
Parabéns pela excelente crônica!