Bagagens

Tenho refletido que, assim como nas viagens, em que precisamos de bagagens com o essencial para nossa estadia, em nossa vida, temos também as bagagens que nos acompanham. Afinal, o que é a vida, se não uma grande viagem?

Escrevo-lhes em véspera de viajar para o Brasil (provavelmente vocês lerão a crônica enquanto estarei sobrevoando em direção a Natal/RN). Engraçado que, mesmo já sendo “experimentada” por tantas viagens, ainda fico insegura quanto estou organizando minha bagagem. Sempre que termino, permanece aquela sensação de que deixei algo faltar.

As bagagens, o que levar?

Geralmente arrumo minha bagagem conforme o lugar que irei visitar. Para tanto, faço um breve estudo do clima, locais que visitarei e possíveis passeios. Então, escolho roupas, calçados confortáveis e adequados deixando sempre um espaço na mala, para no caso de comprar algo mais (o que sempre acontece).

Já quando vou para o Brasil, não faço nada disso, pois conheço minha terra de cor. Levo apenas o essencial, como medicações, vitaminas, itens de higiene pessoal e documentos, coisas que não podemos mesmo viajar sem.

As bagagens da vida

Na vida, podemos dizer que funciona da mesma forma. Para vivê-la, precisamos daquela bagagem básica de fé, sabedoria, de amor, empatia, de coragem e atitude diante dos desafios que enfrentamos nessa longa viagem que dura nossa existência inteira.

Entretanto, nunca podemos dizer que estamos preparados para tudo. Como uma viagem, acontecem “paradas” que não planejamos.

Por exemplo, há as bagagens com que iniciamos nossa viagem e aquelas que adquirimos com o decorrer do tempo: a doçura diante dos bons momentos; a amargura advinda das dores; o amadurecimento, o ceticismo, a força e também a fraqueza; o medo e outros sentimentos que experimentamos ao longo da vida. São algumas bagagens que a vida nos dá.   

Por outro lado, há bagagens que de deixamos ao longo do caminho porque já não nos servem mais, como relacionamentos, comportamentos e hábitos que não nos fazem bem.

Quando roubam as bagagens.

Para ilustrar meu pensamento, apresento-lhes um caso real, uma história familiar. Certa vez, minha tia-avó preparou-se com muito entusiasmo para uma viagem a Pernambuco, via trem, transporte comum na época.

Ao chegar, um rapazote se ofereceu para levar sua bagagem até o hotel. Entretanto, fugiu com a mala da coitada. Que transtorno! O entusiasmo desapareceu e ela ficou tão chateada que preferiu voltar para casa.

Até falecer, ela só falava no que tinha perdido, as melhores roupas, sapatos, um “cordão” de ouro e coisas novas que ela tinha comprado. Vaidosa como era, tinha um look para usar cada dia.

Quando adolescente, eu ria muito dessa história, mas depois de “madura” fiquei com pena dela por perder tudo o que adquirira com esforços, além de ter arruinado a viagem.

Na vida real, muitos “ladrões” aparecem e roubam nossa bagagem, nossos melhores itens, que tanto tivemos carinho em possuir. São as pessoas falsas, os aproveitadores, os enganadores, os golpes da vida que acabam levando coisas preciosas de nós.

Como minha, tia, que teve que finalizar a viagem antes do tempo, há momentos que precisamos dar passos para trás, nos refazer, adquirir mais coragem e fé para empreender novas viagens.

Infelizmente, há itens raros que não temos mais como repor: a inocência e a confiança, por exemplos.

Bagagens extras

Não sei vocês, mas por vezes, levo coisas que não uso pensando que vou precisar. Isso gera um aborrecimento, pois   quando compro algo e o peso da mala ultrapassa do limite, implica que terei que pagar mais.

Na vida, ocorre o mesmo. Parece que nos agrada vivermos repletos de coisas que não precisamos: o rancor, problemas, estresse por querer dar conta de tudo, lembranças tristes e tantas outras coisas que nos fazem mal. Lá na frente, o nosso corpo paga esse excesso através as doenças oportunistas, dores sem explicação e transtornos emocionais. Sejamos espertos. É preciso nos livrar dessas bagagens ruins.

Triagem de bagagens.

Eu não gosto de aeroporto, pela burocracia, a demora, os atrasos, mas admiro o cuidado que eles têm com os itens das bagagens. Há uma lista enorme de objetos que não podem embarcar como pilhas, objetos cortantes e líquidos.

Da mesma forma, quando estamos iniciando uma jornada, por exemplo, mudando para uma cidade, iniciando um novo relacionamento ou um novo trabalho, há coisas que não podemos levar conosco: tralhas, os mesmos erros e manias que prejudicam nosso desempenho. Há de se fazer uma certa “reciclagem” para que somente as bagagens boas sigam conosco.

Menor a bagagem, melhor a viagem

Enfim, é certo que precisamos de bagagens ao longo da jornada. Só temos que nos atentar na escolha delas.

Por isso, querido leitor, terminando de arrumar a minha bagagem para o Brasil, desejo que sua vida seja sempre de bagagens leves, práticas, fáceis de levar em qualquer viagem que você inicie e, principalmente, na nossa jornada principal que é a vida.

Agora, me conte, o que NÃO pode faltar em sua bagagem?

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6 comentários em “Bagagens”

  1. Oi, querida! Sua crônica me lembrou o livro de uma amiga querida, Bianca Del Pilar.
    O livro chama-se “Mala, Malinha ou Malão?” e fala justamente sobre o que é essencial para levarmos nessa viagem chamada vida.
    Adorei as conexões.
    Beijos,
    Helenita

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