Arquivos relacionamento - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/relacionamento/ Cultura e Conhecimento Mon, 27 Nov 2023 23:57:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 O amor e suas peculiaridades https://blogdosaber.com.br/2023/11/28/amor-rompimento-enlace-relacionamentos-paixao-casamento/ https://blogdosaber.com.br/2023/11/28/amor-rompimento-enlace-relacionamentos-paixao-casamento/#comments Tue, 28 Nov 2023 09:29:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=3347 Ler mais]]>

Começo citando Nelson Rodrigues, um dos maiores cronistas que conhecemos, quando ele diz que “o amor nada tem a ver com a alegria e nada tem a ver com a felicidade”, para trazer um curioso rompimento e enlace amoroso.

Existe casal perfeito?

Amadeu e Amora era aquele casal que por onde passava causava a admiração de todos; ambos belos, educados, sociáveis, realizados profissionalmente. Eram médicos. Os anos de casamento lhe deram três filhos, de excelentes características, tais quais os pais. Um dia, não se sabe como aconteceu, o casal perfeito se separou.

Ninguém acreditava. Como sempre, os rumores se espalharam: “será que houve traição”, “deve ter sido algo grave” “e aquele amor todo?” Uma pessoa mais próxima comentou que o motivo era porque ele sempre foi muito dedicado ao trabalho, mal parava em casa, deixando uma lacuna, em outras palavras, amava o trabalho. Ela, por mais profissional que fosse, priorizava a família, o crescimento dos filhos. Como agora estavam adultos, tinham se espalhado pelo mundo para estudarem, ela se sentiu só.

As conversas eram muitas e o casal, fino como era, nada justificou. Afinal, era a vida deles, e ninguém tinha nada a ver com isso.

O que não se cogitava era o óbvio, que quando a paixão esfria (e ela sempre esfria) o relacionamento precisa de pilares mais fortes para se sustentar. Talvez o casal não tivesse plantado tais pilares, enfim, não nos interessa, e sim, o que está por vir.

Os amigos de Amadeu cochichavam que ele estava devastado. Amora, sabendo que ele não iria mudar, resolveu viajar, ver um pouco do mundo antes que a velhice e suas impossibilidades a deixasse presa em casa, como a família e o trabalho sempre a deixara.

Amapola

No consultório, que agora era só dele, havia uma “moça velha”, como a gente chama aqui no Nordeste: aquela mulher que por algum motivo, não quis casar, ficou no caritó (uma “solteirona”). A chamaremos de Amapola, como na música de Roberto.

Diziam as más línguas que ela que se achava muito importante para se relacionar com qualquer um. Fato é que ela admirava, desmedidamente, seus patrões e fazia tudo por eles; organizava as consultas, as contas, gerenciava o consultório, e, às vezes, até adentrava na esfera mais pessoal, resolvendo coisas do lar, compras de mantimentos, evento, cuidando até mesmo da agenda das crianças, hoje, adultos. Era aquela pessoa que eles não podiam mais viver sem (ou achavam que não).

Ela, literalmente, não o deixou na mão. Foi ocupando os espaços deixados por Amora, de mansinho, como a noite chegando, depois que o sol vai embora. Tomou a frente de tudo, reorganizou o consultório, a casa, sua rotina, foi tomando um pouco mais de espaço e, em pouco tempo, ocupou também sua cama, sua vida. Ele, creio, de alguma forma, se beneficiou com essas iniciativas, pois foi permitindo essa ocupação do MASA (movimento da Amapola sem amor). Meio que “sem querer querendo”, Amadeu, ainda tentando se reerguer, se deixou acolher por aquela nobre senhorita.

O amor deles chegou como uma brisa furtiva numa noite de verão. Nesse calor insuportável, quem vai fechar a porta?

O amor se apresenta em diferentes formas

Quando estive no consultório, que agora era só dele (Amora se mudara para uma clínica mais moderna), vi Amapola com um semblante diferente. Sabe quando uma criança ganha um brinquedo que há muito tempo queria e, numa data especial, seus pais a decidem presentear? Era assim que Amapola parecia.

Uma pessoa de mente simples, que visualizasse aquele novo casal, num primeiro momento, iria ver que eles não combinavam em nada: o jeito pacato dele, falando sempre baixo e modulado, gastando as palavras “com licença, desculpe, obrigado” a todo instante, em contraste com o jeito expansivo dela se expressar, sua mão de ferro em gerir e até uma certa rudeza quando tratava com funcionários e fornecedores, sempre no intuito de fazer dar certo.

Ele, de alta estatura, nariz afilado. Como vivia alheio a tudo, o tempo não lhe deixara tantas marcas, mesmo estando perto dos sessenta. Ela, baixinha, trazia os sinais do tempo ao longo do rosto, pescoço, e linhas escondidas atrás dos aros grossos dos óculos. E aquele cabelo, ah, aquele cabelo sempre com um tom a mais. Mesmo assim, estava radiante. Estava com o amor de sua vida.

Não existe casal perfeito

Era um casal que destoava em tudo, mas era um casal. E aqui, não nos cabe aprovar ou não, só aceitar que o amor tem dessas peculiaridades.

Percebia-se, levemente, ele um pouco sem jeito, diante dos amigos do antigo casal, mas isso jamais foi problema para ela. Admirei-lhe a desenvoltura em não dar a mínima para isso, afinal, ela estava feliz. Ele também, pelo visto, e era o que realmente importava.

Tomei um gole de meu café, obrigando-me a não os observar tanto. Esse é um dos “males” em ser escritora, observar para se inspirar.

Enfim, era chegado o tempo de desconstruir aquela imagem de casal, de amor, que os livros de romance criaram em nosso imaginário e que as novelas da Globo (nos anos 80) confirmavam.

O amor é uma força da natureza e, como tal, é livre, pode acontecer a qualquer momento e com qualquer um, de diversas formas. Seja de ímpeto, seja de mansinho, o amor sempre será bem-vindo.

E você, já encontrou o amor de sua vida?

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É tão gratificante… https://blogdosaber.com.br/2023/11/23/e-tao-gratificante/ https://blogdosaber.com.br/2023/11/23/e-tao-gratificante/#respond Thu, 23 Nov 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=3301 Ler mais]]> Um aluno bem sucedido é orgulho do professor

É tão gratificante quando vemos que a pessoa ou as pessoas as quais você decidiu investir evoluíram, cresceram, aprenderam com a experiência ou experiências vividas com você ou ao seu lado. Eu fico imaginando o quão orgulhoso se sente um professor que um dia reencontra um aluno que progrediu na vida e se tornou alguém respeitável, célebre, honorável e notório.

Um professor orgulhoso é tão gratificante.

Um professor teve dezenas, centenas e até milhares de alunos ao longo de sua carreira. Ver um, dois, alguns ou uma dezena deles numa situação de destaque é motivo de muito orgulho mesmo, do sentimento de missão e do dever cumpridos. Acontece que esse professor não tinha nenhuma ligação afetiva/amorosa com nenhum de seus alunos ou suas alunas.

Apostando no relacionamento

Agora imagine quando você conhece alguém por quem você se apaixona e essa pessoa apesar de ser de uma geração diferente da sua, de ter tido uma família e educação totalmente diferentes da sua. Digamos uma diferença de idade de pelo menos dez anos. E mesmo assim a sua intuição lhe diz que você pode apostar nesse relacionamento porque você vê naquela pessoa alguém num plano consciencial desenvolvido. Uma pessoa capaz de assimilar o que é necessário para seguir numa longa jornada ao seu lado, como duas almas gêmeas.

Paciência e resiliência o segredo da longevidade

O tempo passa, conflitos inevitavelmente acontecem, simplesmente porque nós somos como diamantes brutos a serem lapidados paulatinamente, mas você persiste na aposta. São muitas rusgas, embates psicológicos, divergências, brigas de egos. Mas com paciência e resiliência você consegue aos poucos, com o seu comportamento, seu exemplo, ajudar na expansão da consciência dessa pessoa companheira. Então um belo dia essa pessoa começa a reconhecer os erros cometidos e a lhe dar razão em tantas coisas que foi injusta com você ao longo dessa caminhada. Incrivelmente ela passa a lhe respeitar mais, admirar mais e a cada dia ser mais grata a você.

É tão gratificante que esses respeito, admiração e gratidão passam a ser recíprocos e verdadeiros. Posto que não existe o mais evoluído, o professor e muito menos o aluno ou aluna, pois acontece um nivelamento mutuo e muito amor.

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Relacionamento abusivo na maturidade https://blogdosaber.com.br/2023/09/04/relacionamento-abusivo-na-maturidade/ https://blogdosaber.com.br/2023/09/04/relacionamento-abusivo-na-maturidade/#respond Mon, 04 Sep 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2349 Ler mais]]> Da culpa ao aprendizado

Ao iniciar a escrita deste arquivo foi que me dei conta do contrassenso no título (Relacionamento abusivo na maturidade), ora, relacionamento abusivo não “combina” com maturidade! Será?

Vamos partir da premissa que na maturidade já vivemos situações que nos propiciaram uma visão de mundo e das pessoas que certamente nos deixaram mais “espertos (as)” para não cairmos em armadilhas que um relacionamento afetivo possa nos apresentar, certo?

Não, errado! E sabe porquê?

Porque somos seres humanos, falhos, frágeis, cheios de expectativas, sonhos e otimismo para vivermos um relacionamento minimamente saudável e isso não é um privilegio geracional. Assim como a sabedoria não é um privilégio dos mais velhos, as decepções amorosas não são privilégios dos mais novos. É claro que com a experiência o nosso repertório emocional vai crescendo e vamos ficando mais sensíveis as armadilhas amorosas. E talvez seja justamente aí, onde o equivoco faça sua morada e nos deixe vulnerável para crer nas “boas” intenções dos parasitas afetivos.

Então se você já se deparou com um relacionamento abusivo, está na maturidade e quer aprender em como transitar da culpa para o aprendizado, este texto pode te ajudar. Aqui vamos analisar cinco passos para recuperar a sua força interior, dignidade e vontade de viver: Reconhecimento, Aceitação, Acolhida, Perdão e Atitude

Reconhecimento

Reconhecer onde estamos nos dá a noção de responsabilidade com o nosso percurso, é a partir dele que podemos compreender como chegamos onde estamos, sem julgamentos, para não sermos paralisados pela culpa ou vergonha, esses sentimentos devem pertencer a quem covardemente usou da sua confiança, boa fé e credibilidade para tirar proveito em benefício próprio sem pensar no que aconteceria com você.

Aceitação

Agora que você já sabe onde está é momento de aceitar a situação de maneira clara, objetiva e realista, desta forma você vai buscar as possibilidades para seguir em frente apesar de, e ao invés de ficar preso(a) na teia do vitimismo, você terá condições para traçar um novo percurso considerando as suas fragilidades e potencialidades. Levante-se!

Acolhida

Nessa fase é quando juntamos os pedaços e seguimos em frente, de cabeça erguida e começamos a entender que aquela história não precisa ser o livro da sua vida, ela deverá ser apenas um capítulo. Quando nos acolhemos estamos encarando as nossas fragilidades e reconhecendo os nossos limites, trazendo para a consciência os fantasmas que nos assombraram durante toda uma vida porque demos a eles o poder de nos paralisar. É no acolhimento que encontramos o conforto necessário para recuperarmos as forças e reacendermos a nossa luz.

Perdão

No perdão recuperamos a nossa paz, nossa vontade de viver, de seguir de recomeçar… é através do perdão que vamos cicatrizando todas as feridas que um relacionamento abusivo nos provoca. Por vezes, algumas pessoas ancoram o seu poder na dor, no desejo de vingança, mas é no perdão que encontramos a liberdade. Como bem disse Harriet Rubin: “O poder diz respeito ao que você pode controlar. A liberdade ao que você pode desatar”.

Atitude

A atitude diz respeito a fazer o que precisa ser feito! Não se trata de vingança e sim de justiça, de fazer o que precisa ser feito para recuperar a sua dignidade e auto respeito. E aqui trago a citação de Vitor Hugo: “Se quem por compaixão poupa o lobo, condena as ovelhas “

Paz e bem!

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Quando o amor acontece: da paixão ao vazio https://blogdosaber.com.br/2023/06/06/quando-o-amor-acontece-da-paixao-ao-vazio/ https://blogdosaber.com.br/2023/06/06/quando-o-amor-acontece-da-paixao-ao-vazio/#respond Tue, 06 Jun 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1637 Ler mais]]> Valentine’s!

Para quem está disperso ou desolado, perdendo a decoração romântica das vitrines das lojas, enfatizemos que em menos de uma semana ocorrerá o tão celebrado Dia dos Namorados. Por todos os lugares, não importa se será uma odiada ou descansada segunda-feira, estarão todos organizando jantares ou fazendo reservas. E quem não fizer com antecedência, terá que comemorar em casa mesmo. Quem sabe com um jantar à luz de velas?

Esse é o famoso dia, comemorado em todos os países do mundo. Mesmo em datas diferentes, dele ninguém esquece. Nem mesmo quem está sozinho! Em casa, luzes baixas, uma taça de vinho na mão, assistindo ‘O Diário de Bridget Jones’ pela centésima vez, talvez? Ou comemorando em uma festa para solteiros em pleno Dia dos Namorados? Bom, os estilos são diversos. Escolha o seu!

As fases do amor

Mas quem já se relacionou sabe bem como funcionam as fases do amor, certo? No início, tudo é borboletas no estômago. A euforia corre solta. São muitos os pequenos estados de excitação e pânico. Eles vão se intercalando: ora ficamos empolgados, ora apavorados. Criamos expectativas e percebemos a possibilidade delas não se cumprirem. Tudo é muito incerto, pois não conhecemos suficientemente o outro para já existir uma relação de confiança. Até lá, haja adrenalina!

Essa é a paixão. Nessa fase, estamos normalmente bem atentos aos nossos erros e pouco atentos aos erros do outro. Cobramos de nós mesmos os melhores modos, o melhor discurso, as melhores roupas, o melhor asseio, enfim, a melhor aparência. Por outro lado, relevamos as gafes, o pouco cuidado e, muitas vezes, até o desinteresse do outro. Para muitos, trata-se de “tudo ou nada”. Para poucos, trata-se de fazer uma escolha sensata. Mas, no frigir dos ovos, estamos todos no mesmo barco de emoções.

É bem verdade que alguns relacionamentos podem estar repletos de adrenalina mesmo depois de algum tempo. Mas não se engane. Isso pode significar, sim, que no relacionamento ainda há muitas boas surpresas. Se não, serão as más surpresas que aparecerão. As boas surpresas são aquelas que seu parceiro proporciona com prazer e que igualmente lhe dá prazer. Já as más surpresas são situações em que o seu companheiro lhe coloca devido a um erro de cálculo, ou melhor dizendo, devido a uma falha de comunicação.

Meio cheio ou meio vazio?

As pessoas costumam colocar o amor como um sentimento que amadureceu. E alguns realmente levam bastante tempo para dizer “eu te amo”! Mas o fato é que no amor parece haver uma entrega maior. Uma espécie de relaxamento. É até comum que as pessoas engordem quando passam a morar juntas! Mas será que é porque um adquiriu o hábito do outro ou porque não se vê mais sentido em segurar suas ânsias? Afinal, ainda estaremos falando de amor?

Por mais que se envolver com alguém implique em preencher vazios, o amor deve completar todos os vazios? Com o amor, curam-se todas as feridas? E se o amor não curar, pode apenas fingir que curou? Pois é, muitos relacionamentos funcionarão assim, como um paliativo. Ou como um medicamento de uso controlado: sem ele, você estará perdido! Não que não possa funcionar assim. Será eterno enquanto durar. Mas a que preço?

Caiu de maduro!

E por falar em preço, qual é o preço do amadurecimento? O encolhimento da paixão? Apesar do amor ser maduro, se a paixão não estiver minimamente presente, teremos um casal de amigos, certo? Mas, afinal, por que a paixão é diminuída ao longo dos anos? É uma condição para que se amadureça ou é uma consequência da intimidade?

Já anuncia o dito popular “a intimidade é uma merda”. Todos nós temos fantasias sobre as pessoas das quais nos aproximamos. Temos expectativas. Queremos que sejam boas, educadas, inteligentes, com uma beleza apreciável e que não façam coisas consideradas “nojentas”. Mas, na intimidade, expõe-se a realidade nua e crua: nós acordamos inchados, temos estrias, espinhas, geramos gases e resíduos, rangemos os dentes, roncamos e nos descontrolamos.

Cada vez que esses “defeitos” vão se revelando, vamos somando as decepções. Claro que as decepções têm gravidades diferentes dependendo do nível de fantasia em que o sujeito se encontra e obviamente do nível de descontrole em que está o outro indivíduo. Mas o fato é que todos passamos por essa fase dentro de um relacionamento. Se as coisas positivas construídas estiverem em maior número que os defeitos, o amor sobrevive e maior será a probabilidade de que lhe restem vestígios de paixão. Se não, o amor se dissolve e a paixão pode dissolver junto, dando origem a uma relação em que se crê que todas as feridas podem ser curadas, por exemplo, ou até mesmo se transformar em um objeto de compulsão.

Então, retornamos à pergunta: o amor preenche todos os vazios?

Se você está procurando uma companheira para preencher todos os seus vazios, esqueça! Não, o amor não cura todas as feridas e nem completa todos os espaços. O amor bem como a paixão preenchem lacunas: são formas de entretenimentos. Mas, se existem feridas – e sempre há, mais ou menos fechadas -, elas estarão lá assim que o efeito da adrenalina passar, assim que a amada sair para trabalhar ou quando os planos entre vocês se esgotarem. No entanto, trago-lhe uma ponta de esperança: o amor pode, sim, transformar. Transformar você. A ponto de você perceber que nem todos os vazios precisam ser preenchidos.

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O luto de um relacionamento tóxico https://blogdosaber.com.br/2023/04/03/o-luto-de-um-relacionamento-toxico/ https://blogdosaber.com.br/2023/04/03/o-luto-de-um-relacionamento-toxico/#respond Mon, 03 Apr 2023 11:19:08 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1189 Ler mais]]> Por que não dá pra pular de fase?
Sobre o luto

O luto acontece quando perdemos alguém importante para nós. Não importa se foi via morte ou via separação. No inconsciente, ambos os tipos de perda têm o mesmo valor. Afinal, era alguém que estava ali e que não está mais. Alguém que não atende mais as minhas expectativas, que não vai mais me ouvir, me admirar, me proteger ou ajudar a me auto afirmar.

Quando perdemos alguém de valor, é simplesmente o fim. Nada mais importa. O que pode durar alguns dias, meses ou até anos, dependendo da intensidade do envolvimento e de com quantas mais pessoas estou envolvida em níveis similares.

Sobre os objetos de amor

Na Psicanálise, referimo-nos à pessoa amada como objeto amoroso. Lembrando que quem ama também pode ser objeto de amor, no caso, da pessoa amada. É só pensar no sentido inverso. Tratamos de objetos pois são pessoas que normalmente estão ali para atender as nossas expectativas, não importando o tipo. Para entender um pouco mais sobre as nossas escolhas amorosas, leia também https://blogdosaber.com.br/2023/03/21/guerra-ao-amor-por-que-insistimos-no-erro-do-lado-obscuro-do-amor/.

O motivo da objetalização está justamente no fato de que, enquanto pessoas, ou seja, seres racionais, ficamos dependentes da satisfação do outro, em vez de seguirmos a lógica do livre pensar, livre agir, enfim, da liberdade. Trata-se de sentimentos semelhantes que temos aos objetos de fato: uma roupa bonita, um sapato sexy, um carrão, uma casa nova, tudo isso alimenta o nosso ego, certo?

Entretanto, engana-se quem pensa que esses objetos se restringem ao parceiro ou parceira. Pode-se incluir aqui ainda o pai, a mãe, os irmãos, os amigos, os filhos ou até mesmo a empresa em que você trabalha. Tudo vai depender do seu nível de envolvimento com esses objetos.

A perda

Desvincular-se de algo que nos satisfaz de alguma forma não é tarefa fácil. A princípio, não aceitamos. Questionamo-nos “por que?” inúmeras vezes. Estamos tão apegados, tão habituados àquela pessoa, que todas as memórias se voltam para ela. E, neste momento, trata-se apenas de boas lembranças. O medo da perda, do novo, do “o que será de mim sem ela?”, do “o que faço agora, que tudo eu fazia com ela?”. Pois é, aí entra o perigo do foco em um único objeto.

Quando temos outras ligações sólidas, a perda não parece total. Fica mais claro que temos outros propósitos, outras utilidades e, principalmente, que não estamos sós. Que ainda restam objetos para atender as nossas expectativas, para nos admirar, nos proteger ou ajudar a nos auto afirmarmos.

A perda de algo que não nos fazia bem e suas fases
Fases do luto: alternâncias de humor

A etapa melancólica é igual para todos, variando apenas o tempo de permanência. No entanto, quando falamos de relacionamentos abusivos, depois da melancolia, vem a fúria. A fúria ocorre, primeiramente, em função da rejeição. Ninguém quer ser rejeitado, colocado em segundo plano ou substituído, certo? Não, nós somos importantes demais para isso!

A segunda parte da fúria ocorre quando, em consequência do escanteio, procuramos finalmente respostas para aqueles porquês. Catamos argumentos contra o ex-objeto amado para que possamos nos satisfazer, pelo menos, um pouco. Ficam, enfim, evidentes todos os seus defeitos, na tentativa inconsciente de justificar o porquê de não estarmos mais juntos. Afinal, os defeitos que encontrei na outra pessoa fazem muito mais sentido do que qualquer outro motivo que tenha nos levado ao fim do relacionamento.

Bom, depois da fúria, vem a euforia. Essa, eu diria particularmente, é a melhor fase. É o período em que já estamos praticamente descolados do ex-objeto e procuramos, digamos, desesperadamente, por algo ou alguém para substitui-lo. Lançamo-nos novamente ao mercado do amor ou procuramos fazer coisas diferentes: uma viagem, um novo corte de cabelo, um novo trabalho, uma nova atividade de lazer, um novo apartamento para decorar, enfim, um novo entretenimento. Tudo se torna extremamente animador.

A importância de cumprir o luto

Passadas essas três fases, sem, de fato, ter havido um envolvimento fecundo com um novo objeto amoroso, entramos na etapa de reparação. Aqui, é onde vai ocorrer seguramente a elaboração ou, podemos dizer também, a ressignificação do relacionamento anterior. Já não há mais fúria ou euforia. Já não há mais pensamentos fixos ou qualquer necessidade de substituição. É o momento de entender o que aconteceu e de dar respostas apropriadas àqueles porquês. Na reparação, já não há mais um culpado. Há, talvez, responsáveis. Claro, o que não se aplica a situações de ameaças de morte.

Acontece que quando nos sentimos desconfortáveis, é natural que recorramos àquilo que é mais acessível: a fuga. A tendência é que tentemos pular de fase. Você pode até conseguir inicialmente, mas, se seguir sem um envolvimento fecundo com um novo objeto amoroso, invariavelmente, você vai voltar para lá. O luto é intenso, dolorido, porém funciona como um chá de boldo: é amargo, mas resolve.

Você pode até encontrar alguém interessante no meio do luto, com quem ficará tentado a se relacionar. Se cair em tentação, os porquês não serão respondidos e a probabilidade de cair em outra cilada é altíssima. Portanto, muita calma nessa hora!

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Guerra ao amor: por que insistimos no erro? https://blogdosaber.com.br/2023/03/21/guerra-ao-amor-por-que-insistimos-no-erro-do-lado-obscuro-do-amor/ https://blogdosaber.com.br/2023/03/21/guerra-ao-amor-por-que-insistimos-no-erro-do-lado-obscuro-do-amor/#respond Tue, 21 Mar 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1057 Ler mais]]> Baita amor romântico!

Na psicanálise, costumamos dizer que você se apaixona basicamente por dois motivos: ou você encontrou alguém que admira e gostaria de ter sido ou é alguém com quem você se identifica de alguma forma. “Ah, nós somos iguaizinhos: pensamos da mesma forma, gostamos das mesmas coisas”.

“E, afinal, o que ela tem que me faz querer ficar nesse relacionamento?”. A resposta é sempre a mesma: algo de familiar. Ela te lembra alguém que você muito admirou. Talvez, até você mesmo. E esse é o motivo pelo qual naturalmente insistimos em algumas relações que, muitas vezes, são infrutíferas, cansativas e, até mesmo, abusivas. Esse é o lado obscuro do amor!

Mas abusivas pra quem?

À exceção dos casos em que o indivíduo é ameaçado de morte, todos continuamos em relacionamentos abusivos porque temos um ganho em algum ponto. Ou o seu parceiro é seu ídolo (seja pelo que você gostaria de ser seja pela similaridade entre vocês), ou você não consegue ficar sozinho ou depende dela financeiramente. Ah, e, claro, tem também o “achar que depende”.

O fato é que quando nos comprometemos com algo, não queremos falhar. Afinal, não se trata somente de você e da outra pessoa com quem está, trata-se também de toda a comunidade, todas as pessoas que te cercam. Vão questionar e, por mais que o problema seja realmente única e exclusivamente do casal, você vai querer se explicar. Que trabalheira, não?

Assim, ficamos à procura de argumentos: “mas ela é linda”, “mas ele cozinha tão bem”, “mas o sexo é o melhor que já tive”, “mas ele dá tanta atenção à minha família”, “mas ela é tão carismática, todos os meus amigos a acham incrível”, “mas ele até me ajuda com as atividades domésticas!”. E seguimos empurrando o relacionamento com a barriga, sem perceber o lado obscuro do amor.

The check, please!

No final das contas, basicamente, permanecemos num relacionamento, digamos, caótico ou entediante, por dois motivos: ou porque não nos suportamos e precisamos de alguém para nos dizer, pelo amor de Deus, o contrário, que “sim, eu sou suportável” ou porque eu me admiro tanto que preciso estar cercada de pessoas como eu. Ou seja, sempre há um ganho. Mesmo que o saldo não seja positivo. Sim, pois amamos e odiamos. E, nesses casos, o ódio é sempre maior que o amor.

Cego em tiroteio

No entanto, quando estamos no relacionamento, não conseguimos enxergar os problemas claramente. É como uma pessoa que sofre de astigmatismo sem os seus óculos: ela vê que há algo ali, vê formato, cor, tamanho, mas está tudo embaçado e fica impossível dizer exatamente do que se trata. Estamos envolvidos, há forças internas e pessoas querendo nos influenciar a seguir no sentido contrário, cada vez que forçamos a vista e tentamos enxergar melhor.

Por isso sofremos tanto ao final de um relacionamento, mesmo sendo aquele abusivo. Mesmo sendo aquele babaca ou aquela pilantra. E por isso, nas fases do luto, passamos pela fúria e, em seguida, pela euforia, logo após a desvinculação com o ‘ex-objeto amoroso’. Saímos do envolvimento e, finalmente, conseguimos ver.

E, afinal, é erro ou não é?

Bom, para a Psicanálise, não existe certo ou errado. Existe, sim, o “até que ponto você banca isso?”. Se, para compreender uma situação, é preciso passar por ela, como podemos chamar de erro a trajetória do conhecimento? Um amor só acaba quando se torna insustentável para pelo menos um dos integrantes. E, para que se torne insuportável, é preciso primeiro fazê-lo valer.

Insistir no erro do amor é tão natural quanto nascer pelado. Mas o tempo que leva para nos darmos conta do “até que ponto eu banco isso?” vai depender do nível de entendimento de cada indivíduo sobre o seu próprio desejo.

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Atração, lei 3D ou universal? https://blogdosaber.com.br/2023/03/07/atracao-lei-3d-ou-universal/ https://blogdosaber.com.br/2023/03/07/atracao-lei-3d-ou-universal/#respond Tue, 07 Mar 2023 09:30:00 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=787 Ler mais]]> A coluna DE PONTA-CABEÇA faz uma REFLEXÃO sobre as coisas e as pessoas que atraímos para as nossas vidas em Atração. Confira a seguir o que aprendemos com as leis da física Newtoniana (polos opostos se atraem), bem como o que nos ensinam a Lei Universal da Atração (o positivo só atrai o positivo e o negativo atrai o negativo) e tire as suas próprias conclusões. 

A Lei

A Lei da Atração ou Gravitação Universal foi enunciada pelo físico e matemático Isaac Newton em 1682.

Ela afirma que uma força é exercida entre dois corpos em função desses corpos possuírem certa massa.

E, mais, que essa força é tão maior quanto maiores forem as massas dos corpos e quanto menor a distância entre eles.

Partindo-se desse princípio, quanto maior a sua curiosidade sobre outro indivíduo e quanto menor a distância entre vocês, maior a probabilidade de vocês desenvolverem uma comunicação.

E, dessa comunicação, evoluir para algum tipo de relacionamento, certo?

Afinal, como posso conhecer pessoas se não vou ao seu encontro?

Como posso fazer amizades ou me apaixonar se não estou disponível?

A probabilidade

Não existem números para definir as probabilidades de você atrair semelhantes.

Semelhantes são aquelas pessoas que possuem perfis parecidos com o seu.

Diferentemente do clichê “os opostos se atraem”, a Lei da Atração defende o outro clichê “

O positivo só atrai o positivo e o negativo atrai o negativo”, tentando não destruir a Teoria Atômica, claro.

Alguns falam em perfil, outros falam em energia e há até mesmo quem fale em vibe.

O esforço para encontrar semelhantes

O fato é que o esforço empregado para fazer um carro sair de 0 para 50 km/h ou vice-versa é muito maior do que mantê-lo parado ou em velocidade constante.

Em suma, quem vive uma vida baseada em otimismo, consciente ou inconscientemente, por inércia, quer continuar vivendo uma vida colorida e, portanto, rodeia-se de pessoas otimistas.

Essa pessoa, inconscientemente, procura pelo seu semelhante. Ela sorri para as pessoas, porque ela sabe que se a devolutiva for positiva, existe uma probabilidade ainda maior de se tratar de um semelhante seu.

E apresenta suas ideias positivas a respeito da vida, porque o momento da verdade é a réplica do ouvinte. Esse é o ápice.

O momento em que ocorre a identificação ou não entre os participantes do diálogo.

O caso dos pessimistas ocorre da mesma forma.

Por inércia, um pessimista prefere continuar no pessimismo.

A diferença é que o pessimista, por apreciar, inconscientemente, o martírio, acaba atraindo não somente pessoas que sofrem como também aquelas que machucam.

Porque a convivência com qualquer desses tipos garantirá que ele permaneça enxergando tudo cinza, a sua natural zona de conforto.

O horror

Mas desde quando o mundo é tão perigoso?

Desde quando o mundo é tão preconceituoso? Tão racista? Tão sexista? Tão vampiresco?

Há quem diga que sempre foi assim, apenas não se era noticiado.

Mas se sempre foi assim, por que, no Brasil, por exemplo, o número de farmácias continuou crescendo indiscriminadamente.

Mesmo após a crise de 2014, enquanto os empreendimentos dos demais setores seguiam fechando as suas portas?

Dados da Organização Mundial da Saúde, apontaram que o Brasil apresenta, hoje, a maior taxa de ansiedade entre todos os países do mundo: 9,3%.

As pessoas estão doentes porque estão cercadas de pessoas doentes ou elas estão cercadas de pessoas doentes porque estão doentes?

Atração fatal

O que você quer atrair? Farmácias? Parques?

Que tipo de atração você quer ser? Um Valium? Um pique-nique? As opções são infinitas. Para atrair, basta ser.

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Carolina https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/carolina/ https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/carolina/#respond Wed, 30 Nov 2022 21:07:52 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=98 Ler mais]]> A nossa coluna crônicas desta quarta-feira trás mais uma incrível história da nossa ex-colaboradora e competentíssima escritora na Madalena, ainda inédita aqui no blog do saber. Trata-se de um triângulo amoroso extraordinariamente bem pensado pela autora difícil de qualquer afegão médio imaginar. Por isso convido você a ler essa crônica maravilhosa e se divertir a valer!

Segundo uma lenda japonesa, as pessoas são unidas por um fio vermelho, um fio que nos liga a pessoa que estamos predestinadas, não apenas de forma romântica. Eu não acredito em destino; se assim fosse, nós seríamos passivos e inertes esperando pelo futuro. Nunca me imaginei carregando um fio, procurando a quem me amarrar…


– Eu posso ter dez minutinhos de sua atenção? Sei que o que tenho a dizer não interessa a nenhum de vocês, mas é por isso mesmo que quero sua ajuda. Eu me chamo Júlia, sou uma mulher independente, solteira e com muitas dúvidas. Sou filha única e, talvez por isso, tenha me acostumado com o silêncio da casa dos meus pais. Aos 25 anos resolvi morar  sozinha, ter meu cantinho e detesto que invadam minha privacidade. Já tive alguns relacionamentos, mas não prosperaram. Confesso que sou muito exigente, não dou atenção a qualquer um. O que espero de um homem é que ele tenha, pelo menos,  uma boa interlocução, algo raro nos ambientes que frequento, cheios de pessoas da geração “mimadium”, que, incapazes de passar por alguma rejeição, já ficam cheios de mimimi.  Mas, apesar de todo esse meu discurso, há dois anos eu quebrei a cara!


Conheci André e me encantei!  Ele parecia ser um homem maduro, muito familia, além de extremamente romântico. Nós nos dávamos super bem, ele sempre me elogiou muito, o tipo de homem que valoriza a mulher. Ele, apesar de ter seu apartamento, sempre preferia passar o fim de semana comigo, quando fazíamos programas bem caseiros.  Tudo estava indo bem até que há um ano ele foi dispensado do emprego, onde trabalhava com informática.


Ele me propôs morarmos juntos e eu, apesar de não achar o momento para isso, afinal ele estava desempregado, me iludi achando que ele estava fazendo planos para casarmos e aceitei na hora. Dormi com sonhos de Cinderela e acordei com pesadelos: muito cedo ele chegou com malas e cuias! Fiquei sem graça, mas ele veio com aquele papo de que poderíamos começar nossa vida ali no meu apartamento e depois partiríamos para um lugar maior. Tambem falou que seu contrato de aluguel estava expirando e, morando juntos, dividiríamos as despesas. Achei uma proposta razoável.


Mas, dois meses se passaram e ele não se movimentou para arranjar um emprego. Passamos a discutir por tudo, até porque ele não estava colaborando com despesa alguma. Como uma pessoa que acabou de receber a rescisão e estava no seguro desemprego, não tinha dinheiro nem para o cigarro? Resolvi ter uma conversa e ele, todo chateado e melindroso, disse o óbvio, que colaboraria mas, à partir daquele dia, coisas banais passaram a se tornar maiúsculas. Nessas alturas do campeonato, eu já estava cavando uma boa briga para ele ir embora.


Ele, percebendo algo no ar; disse que estava montando a própria empresa, que não estava inerte, como estava sendo “acusado”. Sugeriu colocar o escritório no segundo quarto do apartamento, onde era uma espécie de   closet. Mais uma vez fiquei sem graça em dizer não, mas diante da possibilidade dele conseguir clientes e resgatar sua auto estima, aceitei a proposta. Dois dias depois ele trouxe uma moça para ser sua secretária, alegando que ela trabalhara com ele e que era uma excelente pessoa e muito eficiente.  Falou também que ela tinha os dados dos clientes da empresa que fora dispensado e que iria propô-los o mesmo serviço, por um preço bem inferior. Tinha certeza que todos aceitariam. Ele faria as visitas aos clientes, abriria mercado e Carolina faria a parte burocrática. Apesar de eu ter várias ressalvas, reconheci, com o passar dos dias, que Carolina era um amor de pessoa,  além de extremamente organizada.


A empresa em pouco tempo começou a dar lucros; André, conseguiu captar uns 80% dos antigos clientes, além de ter aberto uma lista de novos contratos. Ele realmente era muito bom no que fazia. Carolina tambem se revelou uma profissional dedicada, além de ir além de sua funções; a gente quase não se encontrava: a hora que eu saía, ela estava chegando e vice versa. Ela se deixava presente em detalhes, como na louça que ficava na pia e ela sempre lavava ou quando eu chegava à noite e a mesa do jantar estava posta, às vezes com alguns mimos, tipo pães que ela comprava ou biscoitinhos.


Tudo parecia caminhar bem, até que um dia, precisei voltar mais cedo para casa e peguei meu namorado jogando videogame em pleno expediente. Carolina confidenciou  que ele jogava o dia todo e ela que fazia todo o trabalho, mal tirava meia hora para almoçar. Também disse-me que esse foi o motivo dele ter sido dispensado; várias vezes foi pego jogando. Fiquei indignada, mas aguardei um momento propicio para tocar no assunto.


Uma manhã ele veio com um papo que Carlolina tinha sido expulsa da casa dos pais porque estava grávida e que não tinha para onde ir. O namorado dela tinha sumido e ele, solidário ao problema, convidou para ela passar uns dias conosco, até arranjar um lugar para ficar. Na hora me senti duplamente chateada, afinal a casa era minha e eu tinha que ser consultada. Também não me agradava ter minha intimidade dividida com outra pessoa; como já disse, sou filha única e me acostumei a viver só. Mas, minha natureza de canceriana, com ascendente em todos os signos, fez eu aceitá-la como hóspede temporária.


O convívio com Carolina foi, para meu espanto, muito bom. Ela é uma pessoa leve, bem-humorada, que nunca pesa no ambiente. Por termos muito em comum, viramos amigas, tão amigas ao ponto de André ficar incomodado e terminar o nosso namoro. Confesso que estranhei, mas não achei ruim, foi até um alívio. Mas, com isso, ele também tirou a “empresa” e Carolina foi demitida. Achei isso de um mau-caratismo, afinal ela estava grávida… De certa forma, me senti responsável por ela.


Carolina agora está com oito meses de gravidez e decidiu saber o sexo do bebê: uma menina! Disse-me que vai se chamar Júlia, em minha homenagem. Fiquei emocionada! Mas, (sempre tem um mas…) Carolina resolveu ir embora; vai morar no sítio de uma tia, num vilarejo muito pobre. Confessou- me, para meu desespero,  que essa criança é filha de André e que ela não aguentava mais mentir para mim. Ela disse que quando ele soube da gravidez pediu que abortasse, que não queria filhos. Eu, depois de todo o relato, me senti novamente traída.


Confesso que não me agrada saber que Carolina, uma moça tão inteligente, terá que viver em um sítio, sem a menor possibilidade de um crescimento profissional, além de Julinha crescer num ambiente limitado. Por outro lado, meu coração já está tão apegado a Carolina e a essa menininha, que até pensei em considerar delas morarem comigo. Meu receio é que, caso ela aceite o convite, quando a criança nascer, André resolva assumí-la e tirar-me desse convívio. Fico triste só em imaginar…O que faço?  Será que esse é o tal fio vermelho do meu destino? Aguardo respostas!

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Relacionamento aberto https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/relacionamento-aberto/ https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/relacionamento-aberto/#respond Wed, 30 Nov 2022 20:38:17 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=86 Ler mais]]> É com muito orgulho e prazer que trago mais um texto inédito da nossa ex-colaboradora e fantástica cronista Ana Madalena para publicar, aqui na nossa coluna crônicas de todas as quartas-feiras do ano. Como sempre, é impossível não ter a curiosidade de ler do começo ao fim, não só pelo prazer, mas principalmente para ver até onde vai a sua imaginação. O título, relacionamento aberto não é, como sempre, o que imaginamos antes de começar a ler e sempre me surpreendo com o desenrolar de suas histórias. Por isso convido você a ler mais essa crônica maravilhosa dessa fenomenal escritora.

Que saudade das minhas viagens! Me orgulho em dizer que, quando planejo um passeio, sou disputada pelos amigos; dizem que na minha companhia não ficam entediados, nem sentem o tempo passar. Realmente, viajar, mesmo em pequenos grupos não é para qualquer um. Eu mesma me preparo alguns meses antes; estudo temas variados para entreter quem estiver por perto. Óbvio que sigo algumas regras, como não conversar assuntos delicados, muito menos pela manhã. Geralmente essa é a hora de conversar amenidades, contar algum sonho, eu mesma invento vários, embora na vida real não sonhe nunca. Ou se sonho, não lembro. O café da manhã tem que ser festivo, com sorrisos de bom dia. Claro que muitas vezes não são retribuídos; algumas pessoas só acordam depois das dez, mesmo que fisicamente já tenham feito várias coisas, desde as sete.  Não se brinca com o relógio biológico!


Gosto de dirigir,  fazer viagens onde possa conhecer caminhos e, sobretudo, ver paisagens (adoro a palavra “sobretudo”, dá um ar de sofisticação ao vocabulário, cada vez mais empobrecido). Viajar é uma oportunidade de aprender várias coisas e eu realmente me organizo para tirar o melhor proveito dessa experiencia; faço playlist, lanchinhos e meto o pé na estrada! A única coisa que me irrita é ter hora marcada. Geralmente viajo com hotel reservado somente na chegada e no meu destino final. O meio do caminho é sempre uma surpresa!


Não gosto de viajar de avião, principalmente voos longos. Quem gosta? Além de desconfortável, exige um grau de intimidade que me incomoda, principalmente quando meu assento é na fileira do meio, entre estranhos. Por mais que procure fazer as coisas com antecedência, selecionar meu lugar, as vezes acontece de grande parte dos passageiros terem me antecedido. E o percurso vira, no mínimo, um tédio. Geralmente levo um livro, o que me salva por algum tempo, e. rezo para que as pessoas ao meu redor não ronquem, o que invariavelmente acontece.


Nunca fiz um cruzeiro, embora seja um desejo antigo, mas fiquei com um pé atrás depois de ouvir sobre infecções alimentares e, mais recentemente, surtos de covid, etc. Acho que, tirando esses problemas, é uma viagem muito boa. Não ter que fazer e desfazer malas o tempo todo, além de ter uma estrutura que possibilite fazer mil coisas, é o melhor dos mundos.


O único meio de transporte que tenho fobia, ou melhor, claustrofobia, é o elevador. Sempre tive medo de entrar naquela cabine, desde quando, ainda criancinha, me mudei para um prédio, numa época quando ainda não era comum ter geradores residenciais.   Não, não foi na pré-história, se é o que está pensando. A verdade é que a sina de ficar presa em elevadores me acompanha desde então.


Na primeira vez , eu tinha sete anos de idade e vinha com minha irmã mais nova do colégio, no fim da tarde. Nós morávamos no terceiro andar, uma viagem até rápida, mas  mal entramos, faltou energia. Ficou tudo escuro e eu me desesperei. Ela, muito madura, segurou a minha mão e disse que não me preocupasse. Minha irmã sempre foi uma pessoa corajosa; nunca derramou uma lágrima por nervosismo, nem quando precisava  tomar injeção. Já eu, ao contrário, nasci com todos os medos! Dizem que os filhos mais velhos são um poço de insegurança, por causa da inexperiência dos pais, que depois do “estágio” do primeiro filho, tiram de letra os próximos. O primogênito que lute contra seus fantasmas, no meu caso, muitos!


E como exercício contra a timidez e medos bobos, meus pais me colocaram desde cedo para fazer um curso de música. Quer coisa mais aterrorizante do que se apresentar para uma plateia? Minha professora, percebendo que eu gostava de saber sobre a história por trás da música, aos poucos foi quebrando meu nervosismo, me incentivando a, antes da apresentação, comentar um pouco sobre a autoria da música a ser apresentada. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida! Eu discorria sobre tudo, desde a vida do músico, em um grau de intimidade como se fôssemos os melhores amigos, até sobre questões técnicas da partitura. Isso quebrava um pouco minha timidez e dali seguia com menos medo de errar.


Trouxe esse ensinamento para minha vida. No colégio, eu sempre pedia para apresentar trabalhos, mesmo que na véspera não conseguisse dormir e chorasse de nervoso. Sou canceriana e “chorar” é quase como respirar; os sentimentos vêm antes de mim, para o bem e para o mal. E foi assim que me tornei uma pessoa comunicativa, embora tímida. Só eu sei o deserto que tive que atravessar para me tornar quem sou hoje.


Fiz intercâmbio em uma época que não era  comum. Ali eu realmente quebrei barreiras! Ter que conviver com pessoas de uma realidade totalmente adversa da minha foi, em princípio, um susto, mas também uma libertação. Eu não só tive que superar medos, como também superá-los noutra língua. Minha família estrangeira era maravilhosa, conversava bastante comigo e eu, envergonhada e sem saber o que falar, comecei a inventar histórias. O café da manhã era a minha hora da mentira;  eles prestavam atenção a cada detalhe do que eu contava. Lembro que meu “pai americano” sempre perguntava se a história era em cores ( inventei uma vez de dizer que sonhava em preto e branco) e se em inglês. No dia que respondi “yes” para as duas perguntas, ele me deu parabéns e disse que eu estava totalmente adaptada à minha nova vida. Nova vida? Quer dizer que posso ter mais de uma? Que maravilha!


Como já disse antes, sou canceriana. Levo esse signo muito a sério, até porque explica grande parte das minhas ações. Esse ano, pelos astros, vai ser um grande ano para mim! Dizem que Júpiter me atrapalhou nos últimos onze anos e finalmente mercúrio, que aqui comparo com minha professora de música, vem com tudo para abrir meus caminhos. E pelo que li, vai ser uma guinada daquelas! Novas oportunidades, desafios e, sobretudo (olha minha palavrinha preferida), uma nova vida! Há a previsão de eu viajar, para outro país! Um novo intercâmbio se abre para mim, só que dessa vez não ficarei com uma família. Depois do Airbnb, a possibilidade de me hospedar em um lugar onde possa “participar” diretamente da vida de outra pessoa é muito instigante. É quase como um relacionamento, onde inicialmente trocamos algumas informações, depois conversamos um pouco sobre nossos interesses e finalizamos quando ocupamos o espaço daquela pessoa que aluga não só seu imóvel, como parte da sua vida. É o que chamo de  relacionamento aberto! Compartilhar uma casa, manusear objetos de outra pessoa, folhear seus livros, ver fotos de família na estante… O meu primeiro relacionamento aberto foi em um outono distante, quando aluguei um quarto numa casa linda, cercada de pinheiros e esquilos, o famoso “bed and breakfest”. Depois que selecionei o local, que entrei em contato com o proprietário e quando já estávamos quase amigos, ele precisou viajar na véspera da minha chegada. Para minha surpresa, ele deixou um bilhete de boas vindas, em cima do balcão da cozinha, junto com vários cupcakes que devo ter mencionado que gostava nas nossas conversas. A geladeira estava abastecida, e na porta, pregado com um imã, nome de vários mercadinhos e dicas de locais interessantes para conhecer.


E foi assim que vivi outra vida, de tantas que já tive oportunidade de viver. Raramente me hospedo em hotéis, gosto de conhecer novas pessoas e formas de viver. De comum, todos “Airbnbistas” que conheci, têm a cultura do desapego, de uma vida minimalista, além de uma lista de regras para boa convivência, que poderiam perfeitamente existir em todos os lugares, inclusive nas nossas próprias famílias. Sou muito a favor do que é dito, do não deixar  subentendido. Todas essas pessoas com quem pude partilhar um pouco, tornaram-se amigos, principalmente com a ajuda das redes sociais.


Alguém disse, certa vez, que não é a distância que separa as pessoas, mas o “tanto faz”… Tenho amigos espalhados pelos quatro cantos do mundo, de várias vidas que já vivi, para quem nunca fui “tanto faz” e com quem divido minha “camuflada” timidez. À eles, dedico meu patrimônio emocional.

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