Bem que o texto de hoje da nossa querida Ana Madalena poderia estar na coluna reflex\u00e3o ao inv\u00e9s da coluna cr\u00f4nicas, pois nos convida a refletir sobre o mundo desumano em que estamos vivendo, de cada um por si, do farinha pouca meu pir\u00e3o primeiro, do venha n\u00f3s o vosso reino, enfim, um mundo recheado de tanto ego\u00edsmo, que nem nos damos conta da import\u00e2ncia e do valor da fraternidade, e da compaix\u00e3o, que precisamos enxergar, apesar das cicatrizes que acumulamos ao longo da jornada. Ent\u00e3o convido voc\u00ea a ler este lindo e ao mesmo tempo profundo texto reflexivo desta extraordin\u00e1ria escritora!<\/p>\n\n\n\n
Eu tinha at\u00e9 inten\u00e7\u00e3o de responder direitinho, mas sem tempo, resolvi abreviar. Para um bom entendedor, meias palavras \u2026 A pesquisadora ficou muito chateada, mesmo eu n\u00e3o sendo obrigada a responder. Ainda teve aquela cena de humilha\u00e7\u00e3o com a mocinha que estava ao meu lado. Fiquei extremamente indignada; n\u00e3o admito ver maus tratos, muito menos fazer terceiros de saco de pancada. Em \u00e9poca de extremismos, um pouco de empatia \u00e9 pedir demais? Sinceramente, os tempos podem ser outros, mas eu sou a mesma. Certas coisas eu n\u00e3o abro m\u00e3o. Pronto, falei.<\/p>\n\n\n\n
Cena: estava eu no supermercado quando apareceu uma mo\u00e7a fazendo pesquisa. O foco era sobre as aglomera\u00e7\u00f5es no ver\u00e3o. Enquanto analisava a tal pesquisa, uma senhora muito bem vestida caminhava ao lado de uma mocinha, que empurrava o carrinho. A senhora dizia o que levar, talvez lendo uma lista pelo celular. De repente ouvi um xingamento. A mo\u00e7a, bem assustada, explicava que colocara \u201caquilo\u201d porque estava acabando. A reclama\u00e7\u00e3o continuou e ficou imposs\u00edvel n\u00e3o ouvir. Como elas estavam passando pela g\u00f4ndola dos temperos, conclui que um or\u00e9gano da vida tenha sido o motivo do destempero de t\u00e3o \u201celegante\u201d senhora. Sabe vergonha alheia? Eu senti. Por tr\u00e1s das m\u00e1scaras, cada uma de n\u00f3s escondeu um sentimento. Nessa hora meu celular tocou; era meu pai avisando que fosse peg\u00e1-lo no dentista. Devolvi a pesquisa, explicando que n\u00e3o poderia me demorar, mas mesmo assim a mo\u00e7a me seguiu at\u00e9 o caixa, insistindo para que eu terminasse o question\u00e1rio. Foi quando escrevi em letras garrafais BAIXA HUMANIDADE e devolvi a pesquisa.<\/p>\n\n\n\n
Li um artigo que a falta de empatia come\u00e7a na inf\u00e2ncia e tem rela\u00e7\u00e3o com aus\u00eancia de limites. A empatia \u00e9 um sentimento que s\u00f3 pode se manifestar quando nos colocamos no lugar do outro; est\u00e1 ligado \u00e0 compaix\u00e3o e ao processo de identifica\u00e7\u00e3o, al\u00e9m de ser um exerc\u00edcio, uma compet\u00eancia, que s\u00f3 se desenvolve com a pr\u00e1tica. Parece muito simples mas, um exemplo bem atual, as aglomera\u00e7\u00f5es nessa pandemia, mostram exatamente o oposto. E olha que estamos falando em salvar vidas\u2026<\/p>\n\n\n\n
O que determina a origem da civiliza\u00e7\u00e3o? Para a antrop\u00f3loga Margaret Mead, o primeiro sinal de civiliza\u00e7\u00e3o em uma cultura foi um f\u00eamur cicatrizado h\u00e1 quinze mil anos encontrado num sitio arqueol\u00f3gico. Explico: houve um tempo em que a lei era matar ou morrer; n\u00e3o existia mimimi. Uma pessoa machucada atrapalhava todo o restante do grupo, por isso muitos eram deixados \u00e0 deriva. Ter um osso cicatrizado era sin\u00f4nimo de cuidado, de amor ao pr\u00f3ximo. Algu\u00e9m despendeu tempo para com o outro. Dito isso, fico me perguntando qual seria a resposta para essa mesma pergunta nos dias atuais\u2026 A impress\u00e3o que tenho \u00e9 que estamos vivendo uma regress\u00e3o civilizat\u00f3ria.<\/p>\n\n\n\n
Ou n\u00e3o! Enquanto estava aqui refletindo, recebi uma mensagem de padre Rob\u00e9rio, um amigo de muitos anos. A mensagem: \u201d O Papa Francisco comemorou o primeiro Dia Internacional da Fraternidade Humana, participando de um encontro virtual dia 04 de fevereiro de 2021, organizado pelo Xeique Mohammed bin Zayed, em Abu Dabi\u201d. Segundo o Papa, a fraternidade \u00e9 a nova fronteira da humanidade.<\/p>\n\n\n\n
\u201cFraternidade significa estender a m\u00e3o, significa respeito, significa ouvir com o cora\u00e7\u00e3o aberto, significa firmeza nas pr\u00f3prias convic\u00e7\u00f5es. N\u00e3o existe fraternidade se as convic\u00e7\u00f5es forem negociadas. Esse \u00e9 o momento de ouvir. \u00c9 o momento da certeza de que um mundo sem irm\u00e3o \u00e9 um mundo de inimigos. A indiferen\u00e7a \u00e9 uma forma sutil de inimizade. N\u00e3o \u00e9 preciso uma guerra para fazer inimigos\u201d.<\/p>\n\n\n\n
Eu sou uma pessoa otimista! Ainda acredito na humanidade. Sei que vamos cuidar de ossos quebrados e, principalmente das cicatrizes que n\u00e3o aparecem. Finalizo com uma mensagem de Fernando Pessoa: \u201cSomos anjos de uma \u00fanica asa e, s\u00f3 podemos voar, quando nos abra\u00e7amos uns aos outros\u201d. Vamos refletir!<\/p>\n\n\n\n
Um abra\u00e7o fraterno.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"