{"id":3094,"date":"2023-11-07T06:30:00","date_gmt":"2023-11-07T09:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/blogdosaber.com.br\/?p=3094"},"modified":"2023-11-06T19:08:59","modified_gmt":"2023-11-06T22:08:59","slug":"a-maternidade-e-as-escolhas-femininas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/blogdosaber.com.br\/2023\/11\/07\/a-maternidade-e-as-escolhas-femininas\/","title":{"rendered":"A maternidade e as escolhas femininas"},"content":{"rendered":"\n
Escolhas da natureza<\/h5>\n\n\n\n

O que \u00e9 uma escolha feminina? E por que tem que ser propriamente feminina? Por que n\u00e3o pode ser uma escolha puramente humana? Por que somos estigmatizadas pela sociedade, inclusive pelas nossas pr\u00f3prias m\u00e3es?<\/p>\n\n\n\n

Somos crian\u00e7as mais calmas e doces. Temos instinto materno, somos mais benevolentes, preocupamo-nos mais com os nossos filhos, cuidamos mais, somos mais afetivas. Mais neur\u00f3ticas, tamb\u00e9m? Mais fr\u00e1geis? A \u00fanica capacidade natural e efetivamente comprovada da mulher \u00e9 a de ser m\u00e3e?<\/p>\n\n\n\n

Bom, parece que esse discurso est\u00e1 um pouco ultrapassado, n\u00e3o?<\/p>\n\n\n\n

Talvez, em alguma \u00e9poca ou \u00e9pocas, essa narrativa representasse mais fielmente o feminino. Mas, o fato \u00e9 que a humanidade mudou. E, junto com ela, a mulher, claro. Ela tem outras percep\u00e7\u00f5es e, portanto, necessidades outras. A maternidade j\u00e1 n\u00e3o pertence mais a todas. Enquanto que o trabalho remunerado, esse sim. <\/p>\n\n\n\n

Hoje, a humanidade tem solu\u00e7\u00f5es para quase tudo. E por que n\u00e3o aplic\u00e1-las \u00e0s quest\u00f5es femininas tamb\u00e9m? Atualmente, as t\u00e9cnicas de reprodu\u00e7\u00e3o assistida ganham espa\u00e7o entre os novos papais e mam\u00e3es. Amanh\u00e3, a gesta\u00e7\u00e3o poder\u00e1 ser apenas uma forma de reprodu\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie Homo sapiens<\/em>. Por que n\u00e3o? Por que tudo pode evoluir, divergir de seu aspecto natural, exceto a maternidade?\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Maternidade<\/h5>\n\n\n\n

Apesar de existir um discurso psicanal\u00edtico de que a maternidade e a feminilidade s\u00e3o coisas divergentes, elas s\u00f3 o s\u00e3o quando de fato ocorre a maternidade. No entanto, antes dela, toda mulher, em sua idade f\u00e9rtil, est\u00e1 teoricamente na imin\u00eancia da maternidade. Isso quer dizer que, a partir do momento em que se espera que a mulher engravide, sup\u00f5e-se que a sua feminilidade esteja investida naquele prop\u00f3sito, ou seja: no jogo da conquista, no casamento e, por fim, na procria\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Bom, toda essa teoria passada de m\u00e3e para filha ao longo das gera\u00e7\u00f5es e que, de t\u00e3o repetida, tornou-se a verdade do feminino, nas necessidades da atualidade, traz-nos, a n\u00f3s mulheres, dilemas, sentimentos de culpa e estados paranoides. Desde situa\u00e7\u00f5es mais simples, como a falta de vaidade, a falta de atra\u00e7\u00e3o por homens ou mesmo de libido, a falta de desejo pela maternidade. At\u00e9 situa\u00e7\u00f5es mais complexas, como a laqueadura, a histerectomia, o aborto ou cirurgias corretivas e preventivas<\/p>\n\n\n\n

Manuten\u00e7\u00e3o da feminilidade<\/h5>\n\n\n\n

O tratamento do c\u00e2ncer, por exemplo, \u00e9 algo que acaba tendo peso em dobro para a mulher, por inferir diretamente na sua aparente feminilidade (perda de curvas, perda de cabelo, de brilho, de vitalidade).\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Em 2013, a atriz Angelina Jolie anunciou ter realizado mastectomia por preven\u00e7\u00e3o, ap\u00f3s a descoberta de uma muta\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica em seu genoma, que estimava em 87% as chances de desenvolver c\u00e2ncer de mama. Em 2015, ela removeu tamb\u00e9m os ov\u00e1rios, pois os m\u00e9dicos apontavam 50% de chance para c\u00e2ncer naqueles \u00f3rg\u00e3os. <\/p>\n\n\n\n

Apesar de outros estudos cient\u00edficos virem um pouco na contram\u00e3o e chamarem a aten\u00e7\u00e3o para um certo reducionismo na avalia\u00e7\u00e3o da muta\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica no caso Jolie, j\u00e1 que afirmam ser baseada em popula\u00e7\u00f5es e n\u00e3o no indiv\u00edduo em si, a cirurgia profil\u00e1tica n\u00e3o deveria deixar de ser considerada. Saiba mais no texto do livro cient\u00edfico Sporum O \u2018efeito Angelina Jolie\u2019 e o determinismo gen\u00e9tico<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Op\u00e7\u00e3o do feminino<\/h5>\n\n\n\n

Da mesma forma, nenhuma grande decis\u00e3o deveria tender a uma \u00fanica op\u00e7\u00e3o em fun\u00e7\u00e3o de uma verdade imposta. Quem sabe grandes decis\u00f5es nem fossem t\u00e3o grandes assim.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Afinal, a feminilidade deveria estar acima da humanidade de uma mulher? A vontade de viver, de existir, de executar projetos, deveriam valer menos do que o feminino? Deveriam valer menos se n\u00e3o estiverem no formato que conhecemos do feminino? Afinal, de quantas formas \u00e9 poss\u00edvel ser mulher? Ou melhor, de quantas formas \u00e9 poss\u00edvel ser?<\/p>\n\n\n\n

Como diria Gerda Lerner em A Cria\u00e7\u00e3o do Patriarcado<\/em>, “(…) anatomia j\u00e1 foi destino. Essa declara\u00e7\u00e3o \u00e9 precisa e leva em considera\u00e7\u00e3o o contexto hist\u00f3rico. O que j\u00e1 foi n\u00e3o \u00e9 mais; n\u00e3o precisa nem deve mais s\u00ea-lo.”<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Escolhas da natureza O que \u00e9 uma escolha feminina? E por que tem que ser propriamente feminina? Por que n\u00e3o pode ser uma escolha puramente humana? Por que somos estigmatizadas pela sociedade, inclusive pelas nossas pr\u00f3prias m\u00e3es? Somos crian\u00e7as mais calmas e doces. 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