Melanie Klein, cuja especialidade \u00e9 a cl\u00ednica infantil, traz em seu livro \u201cInveja e Gratid\u00e3o\u201d a import\u00e2ncia do brincar sozinho, na presen\u00e7a de algu\u00e9m que cuida. Assim, o indiv\u00edduo entende as fronteiras entre o eu e o outro. O que se encaixa perfeitamente com a teoria de D.W. Winnicott, apresentada em seu \u201cO brincar e a realidade\u201d. Segundo ele, a brincadeira e a criatividade s\u00e3o formas de lidar com a separa\u00e7\u00e3o da figura materna – podendo ser representada pela m\u00e3e, pelo pai, tio ou av\u00f4. <\/strong>Seria como substituir essa figura por outras figuras, que, na Psican\u00e1lise, chamamos de objetos transicionais – um paninho, um ursinho de pel\u00facia, uma chupeta e assim vai.<\/p>\n\n\n\n Quanto mais sozinhos estamos, maior a possibilidade de sermos criativos. \u00e9 por isso que artistas tendem a ficar muito tempo enclausurados. Dar a oportunidade de uma crian\u00e7a brincar sozinha \u00e9 aumentar as chances de, enquanto adulto, sobreviver sozinho. De n\u00e3o sofrer tanto com as perdas que a vida reserva para n\u00f3s. A morte de pessoas amadas, o t\u00e9rmino de um relacionamento, a demiss\u00e3o de um emprego, a fal\u00eancia de um neg\u00f3cio.<\/p>\n\n\n\n Dar a oportunidade de uma crian\u00e7a brincar sozinha \u00e9 aumentar as chances de, enquanto adulto, bater asas e voar. De conseguir tomar decis\u00f5es importantes com mais facilidade e pensando mais em si do que no outro. De ser mais independente.<\/p>\n\n\n\n Proporcionar um ambiente criativo \u00e9 o maior presente que um indiv\u00edduo pode ganhar em sua vida. \u00c9 a ferramenta mais eficiente para n\u00e3o s\u00f3 sobreviver, mas para viver uma vida mais intensa, mais presente. Question\u00e1-lo, jogar o porqu\u00ea de volta, faz\u00ea-lo pensar permite a reflex\u00e3o sobre o que foi dito ou feito, coloca o indiv\u00edduo em uma posi\u00e7\u00e3o que Klein chama de \u2018depressiva\u2019. Mas, n\u00e3o se preocupe, essa \u00e9 a depress\u00e3o do bem.<\/p>\n\n\n\n No entanto, aten\u00e7\u00e3o! Quando se fala em brincar s\u00f3, \u00e9 sempre na presen\u00e7a de algu\u00e9m respons\u00e1vel, de algu\u00e9m que tenha tempo para questionar. Algu\u00e9m que tenha afeto para dedicar. Deixar uma crian\u00e7a completamente sozinha pode se enquadrar em abandono, tanto legalmente quanto pela pr\u00f3pria interpreta\u00e7\u00e3o infantil. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"O brincar e a criatividade<\/h5>\n\n\n\n
Da depress\u00e3o ao abandono<\/h5>\n\n\n\n