\u00c9 bem verdade que a forma de sentir dor proveniente da perda em uma m\u00e3e e em um pai \u00e9 diversa. Afinal, uma carrega a crian\u00e7a em seu pr\u00f3prio \u00fatero e o outro, n\u00e3o. Uma sente literalmente o beb\u00ea dentro de si, todas as suas necessidades, e o outro, n\u00e3o. Uma v\u00ea seu corpo transformado pelo desenvolvimento de um feto e o outro, n\u00e3o. Uma sente as consequ\u00eancias da libera\u00e7\u00e3o de horm\u00f4nios que o outro jamais sentir\u00e1. E apenas o fato de uma se tratar de uma mulher e o outro, de um homem, j\u00e1 sup\u00f5e backgrounds<\/em> completamente diferentes e, portanto, expectativas em rela\u00e7\u00e3o a um filho provavelmente bem distintas tamb\u00e9m. Quando pensamos nas suas classes sociais, ent\u00e3o, t\u00e3o opostas: dois pesos, duas medidas.<\/p>\n\n\n\n Mas, quando falamos de quantidade de dor, estamos tratando de algo extremamente subjetivo, sendo proporcional ao quanto de exposi\u00e7\u00e3o algu\u00e9m \u00e9 submetido ao tema. Pela falta ou pelo excesso. Quando somos recebidos no pronto-socorro de um hospital, por exemplo, \u00e9 protocolo nos questionarem o quanto de dor sentimos numa escala de um a dez. Agora, imaginemos um homem e uma mulher, ambos envolvidos na gravidez, vivendo a doce espera todos os dias daqueles nove meses. Eles acabaram de perder o seu beb\u00ea no parto. Quanto voc\u00ea acha que cada um vai indicar de dor se lhes perguntarem? <\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n O relacionamento do casal antes e durante a gravidez n\u00e3o \u00e9 evidenciado, mas o filme deixa claro que existe um companheirismo entre os dois e uma entrega \u00e0 maternidade\/paternidade at\u00e9 o momento do parto. Tamb\u00e9m \u00e9 poss\u00edvel observar que ambos sofrem e que ele segue tentando manter uma parceria com a companheira, que n\u00e3o consegue dar uma resposta \u00e0 altura.<\/p>\n\n\n\n A protagonista se fecha, n\u00e3o dialoga com o parceiro e acaba optando por sofrer calada, sozinha. Sem resposta, ele, cujo passado o filme vai revelando que foi um tanto quanto conturbado, acaba n\u00e3o conseguindo sustentar a supera\u00e7\u00e3o do seu antigo v\u00edcio. Outras problem\u00e1ticas v\u00e3o se desencadeando a partir da\u00ed, envolvendo agress\u00e3o, trai\u00e7\u00e3o e suborno. Assim, vemos as diferentes formas de viver o luto. <\/p>\n\n\n\n Apesar de uma gravidez ocorrer no corpo de uma mulher, isso n\u00e3o quer dizer que outras pessoas n\u00e3o possam se envolver e sofrer junto com essa futura m\u00e3e. A gente acaba evocando um maior respeito pela mulher nessas situa\u00e7\u00f5es, talvez, porque ela sofra de uma maneira mais aceit\u00e1vel pela sociedade: calada, quieta, “deserotizada”. Mas a maneira como a mulher sofre, em geral, conta muito da sua hist\u00f3ria dentro dessa sociedade, conta da sua natureza. Da mesma forma, a maneira como o homem sofre tamb\u00e9m mostra a sua hist\u00f3ria, a sua natureza. <\/p>\n\n\n\n Talvez seja preciso desconstruir algumas ideias, reconhecermos a import\u00e2ncia de cada indiv\u00edduo independentemente de seu sexo ou de suas escolhas. No final das contas, estamos todos no mesmo barco, todos desesperados para acertar, para viver a vida da melhor maneira poss\u00edvel. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"O peso da dor<\/h5>\n\n\n\n
![\"\"](\"https:\/\/blogdosaber.com.br\/wp-content\/uploads\/2023\/08\/baby-2616673_1920-1-1024x683.jpg\")
As formas do luto<\/h5>\n\n\n\n