No Jap\u00e3o p\u00f3s pandemia, desde mar\u00e7o, quando o uso de m\u00e1scaras deixou de ser obrigat\u00f3rio, popularizou-se um curso para exercitar o sorriso. A hora\/aula custa em torno de 55 d\u00f3lares, servindo para fortalecer os m\u00fasculos faciais e ajudar os seus alunos a se acostumarem com o riso novamente.<\/p>\n\n\n\n
Durante a pandemia de Covid-19, muitos h\u00e1bitos foram extintos e outros colocados em seus lugares. Foi um momento de readequar as nossas rotinas: o uso de m\u00e1scaras, o isolamento social, as compras online, as aulas \u00e0 dist\u00e2ncia. Tudo isso acompanhado de not\u00edcias tr\u00e1gicas e de desesperan\u00e7a. Era o fim do mundo!<\/p>\n\n\n\n
Alguns pa\u00edses mais e outros menos enrolados em leis e metodologias de tratamento e profilaxia. Alguns pa\u00edses com mais e outros com menos mortes. Alguns com mais e outros menos contamina\u00e7\u00f5es. Dependendo de onde voc\u00ea estivesse, voc\u00ea poderia estar mais ou menos isolado, mais ou menos melanc\u00f3lico. Mas, dependendo do que, afinal? Da cultura, claro.<\/p>\n\n\n\n
A verdade \u00e9 que as leis s\u00e3o reflexo da sociedade. As legisla\u00e7\u00f5es v\u00e3o se implementando conforme a permissividade. Quando as pessoas de uma sociedade, por exemplo, tendem a ser mais individualistas, mais f\u00e1cil ser\u00e1 de adotarem regras que convergem para a individualidade. O Brasil, por exemplo, assim como a maioria dos pa\u00edses latinos, \u00e9 conhecido pelo calor humano. As pessoas gostam de abra\u00e7ar, de beijar, enfim, do toque. O Jap\u00e3o, por outro lado, \u00e9 uma na\u00e7\u00e3o pouco calorosa.<\/p>\n\n\n\n
Enquanto no Jap\u00e3o e outros pa\u00edses economicamente desenvolvidos o uso de m\u00e1scara e o isolamento eram comuns, no Brasil as pessoas n\u00e3o sabiam muito bem o que fazer em rela\u00e7\u00e3o a isso. Longe de uma necessidade de obedecer \u00e0s autoridades, tratava-se mais de uma mistura dos sentimentos de medo (da morte) e do desejo de manter o calor humano, de manter o que j\u00e1 fazemos naturalmente, de manter o la\u00e7o (bem apertado).<\/p>\n\n\n\n
Mascarados, n\u00f3s brasileiros aprendemos a rir com os olhos e a cumprimentar com as piscadelas! J\u00e1 as aglomera\u00e7\u00f5es, apesar de tratadas como algo proibido, n\u00e3o eram nada que o jeitinho brasileiro n\u00e3o pudesse dar um jeito! Que fosse a c\u00e9u aberto, com m\u00e1scaras abaixo do nariz, parcelando ou reduzindo o n\u00famero de convidados. N\u00f3s aprendemos a fazer de um jeito que se encaixasse em uma brecha do que as autoridades divulgavam.<\/p>\n\n\n\n
O japon\u00eas vem de uma cultura que, al\u00e9m de contar com a disciplina, \u00e9 mais fechada, de pouco toque, de pouco riso. O isolamento apenas intensificou o que j\u00e1 era inato. Nesses casos, o uso de m\u00e1scaras pode inclusive ser uma forma de fuga em massa do contato social. Por isso a necessidade das aulas de pr\u00e1tica do sorriso ao retornar da tormenta. Pr\u00e1tica de algo que n\u00e3o tem lugar de pertencimento. Muito diferente do que representa para n\u00f3s do pa\u00eds tropical. Assim, tormenta para uns e n\u00e3o t\u00e3o atormentador para outros. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"