O conceito da Psican\u00e1lise \u00e9 t\u00e3o complexo, que fica dif\u00edcil defini-la, explic\u00e1-la e, por consequ\u00eancia, propag\u00e1-la. Sigmund Freud, o seu fundador, precisou usar uma linguagem mais acess\u00edvel para que pudesse convencer as pessoas de suas teses e, finalmente, difundir a Psican\u00e1lise. Por esse motivo, ele \u00e9 o favorito e, em contrapartida, tamb\u00e9m o mais recha\u00e7ado. Afinal, \u00e0s vezes, para tornar f\u00e1cil a compreens\u00e3o, \u00e9 preciso ser um pouco rude \u2013 n\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que a express\u00e3o \u201ca grosso modo\u201d est\u00e1 na boca do povo.<\/p>\n\n\n\n
O meu primeiro contato com a segunda figura mais importante da Psican\u00e1lise, Jacques Lacan, gerou-me um bocado de ang\u00fastia, para ser bem sincera. Na hora, pensei \u201cfilho da m\u00e3e! Escreveu pra ningu\u00e9m entender!\u201d. Bom, at\u00e9 ent\u00e3o, eu nem sabia que ele nada havia escrito de fato. As suas obras s\u00e3o\u00b4, na verdade, transcri\u00e7\u00f5es de seus semin\u00e1rios, na maior parte, feitas pelo genro Jacques-Alain Miller. O fato \u00e9 que eu s\u00f3 comecei mesmo a entender Lacan quando eu j\u00e1 tinha, pelo menos, dois anos de an\u00e1lise pessoal.<\/p>\n\n\n\n
A Psican\u00e1lise n\u00e3o fica por a\u00ed. H\u00e1 diversos outros grandes contribuintes, como Melanie Klein, Wilhelm Reich, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Anna Freud, al\u00e9m de seus sucessores. Cada um com sua vis\u00e3o um pouco mais espec\u00edfica, um pouco contrariada ou, poder\u00edamos dizer puramente, cada um com a sua refer\u00eancia. Ponto. Porque, afinal, \u00e9 disso que se trata a Psican\u00e1lise: ver com os pr\u00f3prios olhos.<\/p>\n\n\n\n
Na Psican\u00e1lise, n\u00e3o existe uma receita, um passo-a-passo, um padr\u00e3o. E isso se justifica pelo fato de todos sermos indiv\u00edduos, ou seja, seres \u00fanicos. Cada caso \u00e9 um caso e o papel principal do Psicanalista \u00e9 ouvir o paciente, para que ele possa se ouvir e, finalmente, tornar-se analisante do seu pr\u00f3prio case<\/em>.<\/p>\n\n\n\n N\u00e3o existe, portanto, espa\u00e7o para conselhos. O analisante deve chegar sozinho as suas pr\u00f3prias conclus\u00f5es. O analista est\u00e1 ali basicamente para direcionar o paciente para as quest\u00f5es que realmente importam, ou seja, para aquilo que o paciente vem apontando inconscientemente como poss\u00edveis origens do que ele apresenta como queixa e entende como problema.<\/p>\n\n\n\n E essa \u00e9 uma das quest\u00f5es que dificultam o merchandising<\/em> da Psican\u00e1lise: o psicanalista nada pode prometer. Tudo \u00e9 muito subjetivo e a an\u00e1lise depende de n vari\u00e1veis para progredir: a disposi\u00e7\u00e3o e disponibilidade do analisante, a disposi\u00e7\u00e3o e a disponibilidade do analista, se a qu\u00edmica cerebral do analisante est\u00e1 equilibrada, se a an\u00e1lise pessoal e a supervis\u00e3o do analista est\u00e3o em dia, entre outras.<\/p>\n\n\n\n De uma forma bem grosseira, talvez at\u00e9 mais do que aquela com que Freud costumava se expressar (risos), eu diria, de acordo com a meu pr\u00f3prio ponto de vista, que experimentar a psican\u00e1lise, se n\u00e3o for vive-la, \u00e9 pelo menos dar uma lambida na liberdade. Porque psicanalisar \u00e9 compreender o que voc\u00ea deseja apesar dos outros. \u00c9 apreender que nada \u00e9 para sempre, que tudo depende de um referencial e que existe um mundo de possibilidades.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Liberdade<\/h5>\n\n\n\n