Em meio a tantas not\u00edcias de feminic\u00eddio no Brasil, torna-se realmente necess\u00e1rio tomar algumas atitudes mais dr\u00e1sticas. Isso n\u00e3o quer dizer que o alto \u00edndice de feminic\u00eddio seja uma novidade aqui no pa\u00eds. <\/p>\n\n\n\n
A quest\u00e3o \u00e9 que o n\u00famero de den\u00fancias feitas por mulheres contra viol\u00eancias causadas por atuais ou ex parceiros tem aumentado.<\/p>\n\n\n\n
Como viralizar?<\/h4>\n\n\n\n
Quando os assuntos se tornam manchete, eles ficam em evid\u00eancia, e quando passamos a ver evid\u00eancias de algo que ainda n\u00e3o hav\u00edamos parado para prestar aten\u00e7\u00e3o, ele se torna novidade. <\/p>\n\n\n\n
Assim, quando uma grande quantidade de pessoas entende como novidade, o assunto \u00e9 repercutido ou, na linguagem atual, viralizado.<\/p>\n\n\n\n
E a moral da mulher, onde fica?<\/h5>\n\n\n\n
No caso da viol\u00eancia dom\u00e9stica, soma-se o fato de que se trata realmente de um assunto que acomete grande parte das mulheres. Porque viol\u00eancia dom\u00e9stica n\u00e3o inclui apenas agress\u00e3o f\u00edsica, trata-se tamb\u00e9m de moral. <\/p>\n\n\n\n
A desmoraliza\u00e7\u00e3o da mulher dentro de um n\u00facleo familiar \u00e9 um dos temas mais abordados na cl\u00ednica psicanal\u00edtica. Essa desmoraliza\u00e7\u00e3o come\u00e7a quando o homem diminui o papel da mulher dentro da sociedade ou de sua pr\u00f3pria casa: <\/p>\n\n\n\n
O trabalho dela n\u00e3o \u00e9 importante, ela ganha uma mixaria, ela n\u00e3o sabe cozinhar, ela n\u00e3o cria bem os filhos, ela n\u00e3o faz nada direito.<\/p>\n\n\n\n
Um problema estrutural<\/h5>\n\n\n\n\n![\"\"](\"https:\/\/blogdosaber.com.br\/wp-content\/uploads\/2023\/03\/woman-2997991_1280-1024x682.jpg\")
<\/figure>\nviol\u00eancia dom\u00e9stica <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n\u00c9 por isso que se fala tanto em machismo estrutural. <\/p>\n\n\n\n
No entanto, n\u00e3o nos damos conta que n\u00e3o existiria machismo se n\u00e3o fossem as diferen\u00e7as claramente marcadas pela sociedade entre o homem e a mulher, mas, em sociedades patriarcais, ainda reina \u00c9dipo. <\/p>\n\n\n\n
Quem n\u00e3o conhece o mito do rei que matou o pai e se casou com a m\u00e3e? Uma hist\u00f3ria que, em outras palavras, resume-se \u00e0 agress\u00e3o e conquista de um homem e \u00e0 submiss\u00e3o de uma mulher.<\/p>\n\n\n\n
Jacques Lacan, o segundo nome da Psican\u00e1lise, diz em seu quinto semin\u00e1rio \u201cAs forma\u00e7\u00f5es do inconsciente\u201d:<\/p>\n\n\n\n
“A virilidade e a feminiza\u00e7\u00e3o s\u00e3o os dois termos que traduzem o que \u00e9, essencialmente, a fun\u00e7\u00e3o do \u00c9dipo. Encontramo-nos, a\u00ed, no n\u00edvel em que o \u00c9dipo est\u00e1 diretamente ligado \u00e0 fun\u00e7\u00e3o do Ideal do eu\u201d.<\/p>\n\n\n\n
O poder e a submiss\u00e3o<\/h5>\n\n\n\n
O que quero dizer com isso? <\/p>\n\n\n\n
Que existem caracter\u00edsticas que s\u00e3o t\u00edpicas masculinas e outras tipicamente femininas.<\/p>\n\n\n\n
Na sociedade f\u00e1lica, o homem representa o poder e a mulher, a submiss\u00e3o e em qualquer sociedade, uma pessoa que gosta de agredir naturalmente \u00e9 atra\u00edda por uma outra que aparenta ser mais fr\u00e1gil. <\/p>\n\n\n\n
\u00c9 uma quest\u00e3o de sobreviv\u00eancia. Voc\u00ea n\u00e3o vai bater em algu\u00e9m maior que voc\u00ea, certo? <\/p>\n\n\n\n
Dentro de uma sociedade, as caracter\u00edsticas t\u00edpicas dos dois sexos podem ficar mais ou menos evidenciadas, dependendo se ela d\u00e1 mais ou menos import\u00e2ncia \u00e0s diferen\u00e7as. <\/p>\n\n\n\n
No entanto, \u00e9 interessante ter em mente que quando falo de sociedade, n\u00e3o estou me referindo \u00e0s autoridades, mas aos pr\u00f3prios indiv\u00edduos que comp\u00f5em essa organiza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
O papel do estado<\/h5>\n\n\n\n
O que mais quero dizer com isso?<\/p>\n\n\n\n
Que o feminic\u00eddio constata uma cultura vivida e propagada pela pr\u00f3pria sociedade, tanto por homens quanto por mulheres, e que tratar desse assunto \u00e9 algo muito mais complexo, mas, ao mesmo tempo, n\u00e3o t\u00e3o menos vi\u00e1vel do que se imagina. <\/p>\n\n\n\n
O projeto de lei da ministra Simone Tebet \u00e9, a princ\u00edpio, v\u00e1lido e pode salvar muitas vidas, mas, como com diversos programas que temos no Brasil, pergunto-me \u201cat\u00e9 quando?\u201d. <\/p>\n\n\n\n
Programas estes que n\u00e3o possuem fiscaliza\u00e7\u00e3o, que n\u00e3o t\u00eam um plano estrat\u00e9gico associado. Esses tipos de programas e leis acabam sendo uma forma de \u201ctapar o sol com a peneira\u201d.<\/p>\n\n\n\n
As mulheres n\u00e3o precisam de cota ou espa\u00e7o para atuarem, isso elas j\u00e1 t\u00eam. O que elas precisam \u00e9 se sentir livres dos pap\u00e9is atribu\u00eddos pela sociedade patriarcal. <\/p>\n\n\n\n
Ao se sentirem livres dessa posi\u00e7\u00e3o enrijecida, elas n\u00e3o sentir\u00e3o mais que precisam de prote\u00e7\u00e3o, seja de seus parceiros (prote\u00e7\u00e3o essa, muitas vezes, contradit\u00f3ria) ou da pol\u00edcia. <\/p>\n\n\n\n
Mas isso, apesar de ser uma mudan\u00e7a individual, deve acontecer em coletivo, marcando, assim, uma mudan\u00e7a cultural, estrutural. E o in\u00edcio dessa transforma\u00e7\u00e3o deve ocorrer na inf\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n
Ent\u00e3o, se o estado tem um papel grandioso nisso, \u00e9 o de garantir a seguran\u00e7a e uma educa\u00e7\u00e3o de qualidade para as crian\u00e7as. Escolas onde elas sejam incentivadas a se questionarem.<\/p>\n\n\n\n
Sem mais.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
<\/figure>\n\u00c9 por isso que se fala tanto em machismo estrutural. <\/p>\n\n\n\n
No entanto, n\u00e3o nos damos conta que n\u00e3o existiria machismo se n\u00e3o fossem as diferen\u00e7as claramente marcadas pela sociedade entre o homem e a mulher, mas, em sociedades patriarcais, ainda reina \u00c9dipo. <\/p>\n\n\n\n
Quem n\u00e3o conhece o mito do rei que matou o pai e se casou com a m\u00e3e? Uma hist\u00f3ria que, em outras palavras, resume-se \u00e0 agress\u00e3o e conquista de um homem e \u00e0 submiss\u00e3o de uma mulher.<\/p>\n\n\n\n
Jacques Lacan, o segundo nome da Psican\u00e1lise, diz em seu quinto semin\u00e1rio \u201cAs forma\u00e7\u00f5es do inconsciente\u201d:<\/p>\n\n\n\n
“A virilidade e a feminiza\u00e7\u00e3o s\u00e3o os dois termos que traduzem o que \u00e9, essencialmente, a fun\u00e7\u00e3o do \u00c9dipo. Encontramo-nos, a\u00ed, no n\u00edvel em que o \u00c9dipo est\u00e1 diretamente ligado \u00e0 fun\u00e7\u00e3o do Ideal do eu\u201d.<\/p>\n\n\n\n
O poder e a submiss\u00e3o<\/h5>\n\n\n\n
O que quero dizer com isso? <\/p>\n\n\n\n
Que existem caracter\u00edsticas que s\u00e3o t\u00edpicas masculinas e outras tipicamente femininas.<\/p>\n\n\n\n
Na sociedade f\u00e1lica, o homem representa o poder e a mulher, a submiss\u00e3o e em qualquer sociedade, uma pessoa que gosta de agredir naturalmente \u00e9 atra\u00edda por uma outra que aparenta ser mais fr\u00e1gil. <\/p>\n\n\n\n
\u00c9 uma quest\u00e3o de sobreviv\u00eancia. Voc\u00ea n\u00e3o vai bater em algu\u00e9m maior que voc\u00ea, certo? <\/p>\n\n\n\n
Dentro de uma sociedade, as caracter\u00edsticas t\u00edpicas dos dois sexos podem ficar mais ou menos evidenciadas, dependendo se ela d\u00e1 mais ou menos import\u00e2ncia \u00e0s diferen\u00e7as. <\/p>\n\n\n\n
No entanto, \u00e9 interessante ter em mente que quando falo de sociedade, n\u00e3o estou me referindo \u00e0s autoridades, mas aos pr\u00f3prios indiv\u00edduos que comp\u00f5em essa organiza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
O papel do estado<\/h5>\n\n\n\n
O que mais quero dizer com isso?<\/p>\n\n\n\n
Que o feminic\u00eddio constata uma cultura vivida e propagada pela pr\u00f3pria sociedade, tanto por homens quanto por mulheres, e que tratar desse assunto \u00e9 algo muito mais complexo, mas, ao mesmo tempo, n\u00e3o t\u00e3o menos vi\u00e1vel do que se imagina. <\/p>\n\n\n\n
O projeto de lei da ministra Simone Tebet \u00e9, a princ\u00edpio, v\u00e1lido e pode salvar muitas vidas, mas, como com diversos programas que temos no Brasil, pergunto-me \u201cat\u00e9 quando?\u201d. <\/p>\n\n\n\n
Programas estes que n\u00e3o possuem fiscaliza\u00e7\u00e3o, que n\u00e3o t\u00eam um plano estrat\u00e9gico associado. Esses tipos de programas e leis acabam sendo uma forma de \u201ctapar o sol com a peneira\u201d.<\/p>\n\n\n\n
As mulheres n\u00e3o precisam de cota ou espa\u00e7o para atuarem, isso elas j\u00e1 t\u00eam. O que elas precisam \u00e9 se sentir livres dos pap\u00e9is atribu\u00eddos pela sociedade patriarcal. <\/p>\n\n\n\n
Ao se sentirem livres dessa posi\u00e7\u00e3o enrijecida, elas n\u00e3o sentir\u00e3o mais que precisam de prote\u00e7\u00e3o, seja de seus parceiros (prote\u00e7\u00e3o essa, muitas vezes, contradit\u00f3ria) ou da pol\u00edcia. <\/p>\n\n\n\n
Mas isso, apesar de ser uma mudan\u00e7a individual, deve acontecer em coletivo, marcando, assim, uma mudan\u00e7a cultural, estrutural. E o in\u00edcio dessa transforma\u00e7\u00e3o deve ocorrer na inf\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n
Ent\u00e3o, se o estado tem um papel grandioso nisso, \u00e9 o de garantir a seguran\u00e7a e uma educa\u00e7\u00e3o de qualidade para as crian\u00e7as. Escolas onde elas sejam incentivadas a se questionarem.<\/p>\n\n\n\n
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