Arquivos separação - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/separacao/ Cultura e Conhecimento Mon, 27 Nov 2023 23:57:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 O amor e suas peculiaridades https://blogdosaber.com.br/2023/11/28/amor-rompimento-enlace-relacionamentos-paixao-casamento/ https://blogdosaber.com.br/2023/11/28/amor-rompimento-enlace-relacionamentos-paixao-casamento/#comments Tue, 28 Nov 2023 09:29:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=3347 Ler mais]]>

Começo citando Nelson Rodrigues, um dos maiores cronistas que conhecemos, quando ele diz que “o amor nada tem a ver com a alegria e nada tem a ver com a felicidade”, para trazer um curioso rompimento e enlace amoroso.

Existe casal perfeito?

Amadeu e Amora era aquele casal que por onde passava causava a admiração de todos; ambos belos, educados, sociáveis, realizados profissionalmente. Eram médicos. Os anos de casamento lhe deram três filhos, de excelentes características, tais quais os pais. Um dia, não se sabe como aconteceu, o casal perfeito se separou.

Ninguém acreditava. Como sempre, os rumores se espalharam: “será que houve traição”, “deve ter sido algo grave” “e aquele amor todo?” Uma pessoa mais próxima comentou que o motivo era porque ele sempre foi muito dedicado ao trabalho, mal parava em casa, deixando uma lacuna, em outras palavras, amava o trabalho. Ela, por mais profissional que fosse, priorizava a família, o crescimento dos filhos. Como agora estavam adultos, tinham se espalhado pelo mundo para estudarem, ela se sentiu só.

As conversas eram muitas e o casal, fino como era, nada justificou. Afinal, era a vida deles, e ninguém tinha nada a ver com isso.

O que não se cogitava era o óbvio, que quando a paixão esfria (e ela sempre esfria) o relacionamento precisa de pilares mais fortes para se sustentar. Talvez o casal não tivesse plantado tais pilares, enfim, não nos interessa, e sim, o que está por vir.

Os amigos de Amadeu cochichavam que ele estava devastado. Amora, sabendo que ele não iria mudar, resolveu viajar, ver um pouco do mundo antes que a velhice e suas impossibilidades a deixasse presa em casa, como a família e o trabalho sempre a deixara.

Amapola

No consultório, que agora era só dele, havia uma “moça velha”, como a gente chama aqui no Nordeste: aquela mulher que por algum motivo, não quis casar, ficou no caritó (uma “solteirona”). A chamaremos de Amapola, como na música de Roberto.

Diziam as más línguas que ela que se achava muito importante para se relacionar com qualquer um. Fato é que ela admirava, desmedidamente, seus patrões e fazia tudo por eles; organizava as consultas, as contas, gerenciava o consultório, e, às vezes, até adentrava na esfera mais pessoal, resolvendo coisas do lar, compras de mantimentos, evento, cuidando até mesmo da agenda das crianças, hoje, adultos. Era aquela pessoa que eles não podiam mais viver sem (ou achavam que não).

Ela, literalmente, não o deixou na mão. Foi ocupando os espaços deixados por Amora, de mansinho, como a noite chegando, depois que o sol vai embora. Tomou a frente de tudo, reorganizou o consultório, a casa, sua rotina, foi tomando um pouco mais de espaço e, em pouco tempo, ocupou também sua cama, sua vida. Ele, creio, de alguma forma, se beneficiou com essas iniciativas, pois foi permitindo essa ocupação do MASA (movimento da Amapola sem amor). Meio que “sem querer querendo”, Amadeu, ainda tentando se reerguer, se deixou acolher por aquela nobre senhorita.

O amor deles chegou como uma brisa furtiva numa noite de verão. Nesse calor insuportável, quem vai fechar a porta?

O amor se apresenta em diferentes formas

Quando estive no consultório, que agora era só dele (Amora se mudara para uma clínica mais moderna), vi Amapola com um semblante diferente. Sabe quando uma criança ganha um brinquedo que há muito tempo queria e, numa data especial, seus pais a decidem presentear? Era assim que Amapola parecia.

Uma pessoa de mente simples, que visualizasse aquele novo casal, num primeiro momento, iria ver que eles não combinavam em nada: o jeito pacato dele, falando sempre baixo e modulado, gastando as palavras “com licença, desculpe, obrigado” a todo instante, em contraste com o jeito expansivo dela se expressar, sua mão de ferro em gerir e até uma certa rudeza quando tratava com funcionários e fornecedores, sempre no intuito de fazer dar certo.

Ele, de alta estatura, nariz afilado. Como vivia alheio a tudo, o tempo não lhe deixara tantas marcas, mesmo estando perto dos sessenta. Ela, baixinha, trazia os sinais do tempo ao longo do rosto, pescoço, e linhas escondidas atrás dos aros grossos dos óculos. E aquele cabelo, ah, aquele cabelo sempre com um tom a mais. Mesmo assim, estava radiante. Estava com o amor de sua vida.

Não existe casal perfeito

Era um casal que destoava em tudo, mas era um casal. E aqui, não nos cabe aprovar ou não, só aceitar que o amor tem dessas peculiaridades.

Percebia-se, levemente, ele um pouco sem jeito, diante dos amigos do antigo casal, mas isso jamais foi problema para ela. Admirei-lhe a desenvoltura em não dar a mínima para isso, afinal, ela estava feliz. Ele também, pelo visto, e era o que realmente importava.

Tomei um gole de meu café, obrigando-me a não os observar tanto. Esse é um dos “males” em ser escritora, observar para se inspirar.

Enfim, era chegado o tempo de desconstruir aquela imagem de casal, de amor, que os livros de romance criaram em nosso imaginário e que as novelas da Globo (nos anos 80) confirmavam.

O amor é uma força da natureza e, como tal, é livre, pode acontecer a qualquer momento e com qualquer um, de diversas formas. Seja de ímpeto, seja de mansinho, o amor sempre será bem-vindo.

E você, já encontrou o amor de sua vida?

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O luto de um relacionamento tóxico https://blogdosaber.com.br/2023/04/03/o-luto-de-um-relacionamento-toxico/ https://blogdosaber.com.br/2023/04/03/o-luto-de-um-relacionamento-toxico/#respond Mon, 03 Apr 2023 11:19:08 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1189 Ler mais]]> Por que não dá pra pular de fase?
Sobre o luto

O luto acontece quando perdemos alguém importante para nós. Não importa se foi via morte ou via separação. No inconsciente, ambos os tipos de perda têm o mesmo valor. Afinal, era alguém que estava ali e que não está mais. Alguém que não atende mais as minhas expectativas, que não vai mais me ouvir, me admirar, me proteger ou ajudar a me auto afirmar.

Quando perdemos alguém de valor, é simplesmente o fim. Nada mais importa. O que pode durar alguns dias, meses ou até anos, dependendo da intensidade do envolvimento e de com quantas mais pessoas estou envolvida em níveis similares.

Sobre os objetos de amor

Na Psicanálise, referimo-nos à pessoa amada como objeto amoroso. Lembrando que quem ama também pode ser objeto de amor, no caso, da pessoa amada. É só pensar no sentido inverso. Tratamos de objetos pois são pessoas que normalmente estão ali para atender as nossas expectativas, não importando o tipo. Para entender um pouco mais sobre as nossas escolhas amorosas, leia também https://blogdosaber.com.br/2023/03/21/guerra-ao-amor-por-que-insistimos-no-erro-do-lado-obscuro-do-amor/.

O motivo da objetalização está justamente no fato de que, enquanto pessoas, ou seja, seres racionais, ficamos dependentes da satisfação do outro, em vez de seguirmos a lógica do livre pensar, livre agir, enfim, da liberdade. Trata-se de sentimentos semelhantes que temos aos objetos de fato: uma roupa bonita, um sapato sexy, um carrão, uma casa nova, tudo isso alimenta o nosso ego, certo?

Entretanto, engana-se quem pensa que esses objetos se restringem ao parceiro ou parceira. Pode-se incluir aqui ainda o pai, a mãe, os irmãos, os amigos, os filhos ou até mesmo a empresa em que você trabalha. Tudo vai depender do seu nível de envolvimento com esses objetos.

A perda

Desvincular-se de algo que nos satisfaz de alguma forma não é tarefa fácil. A princípio, não aceitamos. Questionamo-nos “por que?” inúmeras vezes. Estamos tão apegados, tão habituados àquela pessoa, que todas as memórias se voltam para ela. E, neste momento, trata-se apenas de boas lembranças. O medo da perda, do novo, do “o que será de mim sem ela?”, do “o que faço agora, que tudo eu fazia com ela?”. Pois é, aí entra o perigo do foco em um único objeto.

Quando temos outras ligações sólidas, a perda não parece total. Fica mais claro que temos outros propósitos, outras utilidades e, principalmente, que não estamos sós. Que ainda restam objetos para atender as nossas expectativas, para nos admirar, nos proteger ou ajudar a nos auto afirmarmos.

A perda de algo que não nos fazia bem e suas fases
Fases do luto: alternâncias de humor

A etapa melancólica é igual para todos, variando apenas o tempo de permanência. No entanto, quando falamos de relacionamentos abusivos, depois da melancolia, vem a fúria. A fúria ocorre, primeiramente, em função da rejeição. Ninguém quer ser rejeitado, colocado em segundo plano ou substituído, certo? Não, nós somos importantes demais para isso!

A segunda parte da fúria ocorre quando, em consequência do escanteio, procuramos finalmente respostas para aqueles porquês. Catamos argumentos contra o ex-objeto amado para que possamos nos satisfazer, pelo menos, um pouco. Ficam, enfim, evidentes todos os seus defeitos, na tentativa inconsciente de justificar o porquê de não estarmos mais juntos. Afinal, os defeitos que encontrei na outra pessoa fazem muito mais sentido do que qualquer outro motivo que tenha nos levado ao fim do relacionamento.

Bom, depois da fúria, vem a euforia. Essa, eu diria particularmente, é a melhor fase. É o período em que já estamos praticamente descolados do ex-objeto e procuramos, digamos, desesperadamente, por algo ou alguém para substitui-lo. Lançamo-nos novamente ao mercado do amor ou procuramos fazer coisas diferentes: uma viagem, um novo corte de cabelo, um novo trabalho, uma nova atividade de lazer, um novo apartamento para decorar, enfim, um novo entretenimento. Tudo se torna extremamente animador.

A importância de cumprir o luto

Passadas essas três fases, sem, de fato, ter havido um envolvimento fecundo com um novo objeto amoroso, entramos na etapa de reparação. Aqui, é onde vai ocorrer seguramente a elaboração ou, podemos dizer também, a ressignificação do relacionamento anterior. Já não há mais fúria ou euforia. Já não há mais pensamentos fixos ou qualquer necessidade de substituição. É o momento de entender o que aconteceu e de dar respostas apropriadas àqueles porquês. Na reparação, já não há mais um culpado. Há, talvez, responsáveis. Claro, o que não se aplica a situações de ameaças de morte.

Acontece que quando nos sentimos desconfortáveis, é natural que recorramos àquilo que é mais acessível: a fuga. A tendência é que tentemos pular de fase. Você pode até conseguir inicialmente, mas, se seguir sem um envolvimento fecundo com um novo objeto amoroso, invariavelmente, você vai voltar para lá. O luto é intenso, dolorido, porém funciona como um chá de boldo: é amargo, mas resolve.

Você pode até encontrar alguém interessante no meio do luto, com quem ficará tentado a se relacionar. Se cair em tentação, os porquês não serão respondidos e a probabilidade de cair em outra cilada é altíssima. Portanto, muita calma nessa hora!

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