Arquivos reconhecimento - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/reconhecimento/ Cultura e Conhecimento Tue, 24 Oct 2023 00:39:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 A unidade fragmentada: de Freud a Butler https://blogdosaber.com.br/2023/10/24/a-unidade-fragmentada-de-freud-a-butler/ https://blogdosaber.com.br/2023/10/24/a-unidade-fragmentada-de-freud-a-butler/#respond Tue, 24 Oct 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2965 Ler mais]]> A unidade de Freud e Jobim

Quem flerta ou namora com a psicanálise muito provavelmente já ouviu falar de uma das obras mais conhecidas de Freud, Psicologia das Massas e a Análise do Eu. Dentre tantas questões, o pai da psicanálise aborda a teoria do instinto gregário: que, a partir da observação da multiplicação celular, defende que as pessoas seguiriam uma tendência de formar grupos, seriam compelidas umas às outras.  

Afinal, quem nunca ouviu Tom Jobim com o seu “é impossível ser feliz sozinho”? Encontrar um par, um grupo. Pessoas com quem você se identifica, que possam lhe ouvir sem (tanto) julgamento, que confirmem o seu pensamento, que concordem com o que você diz, que lhe acolham, que lhe reconheçam. Pessoas para chamar de suas: sua esposa, sua amiga, seu colega, seu parceiro. Como é bom ser aceito, como é bom poder contar com alguém. Para ler mais sobre reconhecimento, acesse Por que fazem corpo mole? Entendendo a dialética do reconhecimento.

A unidade de Calligaris e Arendt

O grupo, portanto, é uma unidade. A família é uma unidade. E assim por diante. A unidade indica que os agentes do discurso falam apoiados nas mesmas pressuposições. Por isso o discurso pode parecer sempre o mesmo. Podemos perceber essa tendência de maneira ainda mais evidente nos grupos religiosos e políticos. Mas as falas tendenciosas nos impregnam por todos os grupos dos quais participemos. Em sua obra O grupo e o mal: estudo sobre a perversão social, Contardo Calligaris, baseado em Freud e Hannah Arendt, chega à conclusão de que o indivíduo abdica de sua personalidade em nome de um “fascínio por servir ao outro”.

Prova disso é o cúmplice. Aquele que testemunha um crime de alguém que ama ou admira tende a relevar os fatos. Por isso tantos pais e amantes encobrem crimes de seus filhos e companheiros respectivamente. Por isso tantas pessoas se surpreendem ao descobrir certos comportamentos, antes desconhecidos, de seus entes queridos. “Ele jamais faria isso”. Talvez, não sozinho. 

A perversão é formalmente combatida pela sociedade, mas exercida por debaixo dos panos, sem que sequer percebamos. Não percebemos que tentamos de tudo para sermos aceitos. Para que não nos sintamos sozinhos, excluídos, não fazendo parte. Afinal, os discursos têm que convergir, não é mesmo?

Tecnologia e individualismo

Bom, apesar das teorias bem fundamentadas de Freud, Jobim, Arendt e Calligaris, não dá para negar que, talvez, já estejamos em um outro lugar em termos culturais. À medida que a tecnologia avança e temos mais fácil acesso à informação, outras soluções bem como outros problemas acabam surgindo. Namoro virtual, home office, cursos EAD e jogos online são soluções que produzem o individualismo. O individualismo, por sua vez, pode ter diversos efeitos, positivos e negativos. 

Homem sozinho e pensativo olhando para o mar

Se pensarmos a partir do referencial evolucionista, poderíamos associar o individualismo a uma contracorrente à manutenção da espécie, ao coletivo. Ou, pelo menos, avesso ao formato de sociedade que temos hoje. Já, do ponto de vista da psique, poderia ser uma revolução. Poderia, inclusive, representar liberdade, autonomia. 

Butler, sobre a fragmentação da unidade

Judith Butler questiona em seu Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade se a unidade “é necessária para a ação política efetiva”. Nesse caso, ela se refere ao movimento feminista. Acredita que o feminino e, portanto, o feminismo tem várias faces e, por consequência, diferentes frentes. Ou seja, há diversas maneiras de ser mulher. Butler nos convida a refletir se o feminismo enquanto unidade, como uma única voz, não acabaria atrapalhando as aquisições políticas das mulheres, já que as suas possibilidades deveriam ser infinitas.

Citação de Judith Butler em Problemas de Gênero, pág. 40:

“Não será, precisamente, a insistência prematura no objetivo de unidade a causa da fragmentação cada vez maior e mais acirrada nas fileiras? Certas formas aceitas de fragmentação podem facilitar a ação, e isso exatamente porque a ‘unidade’ da categoria das mulheres não é nem pressuposta nem desejada.
(…) tratar-se-á de uma assembleia que permita múltiplas convergências e divergências, sem obediência a um telos normativo e definidor.”
A sociedade fragmentada

Agora, pensemos em todos os transtornos que temos visto crescer no mundo: depressão, ansiedade, bipolaridade, TDAH. O que as pessoas com esses transtornos têm em comum? Elas tentam suportar a realidade que se apresenta. Uma realidade que já não cabe mais dentro da atual conjuntura cultural. Assim, a sociedade vai se fragmentando em depressivos, ansiosos, bipolares, desatenciosos. Pessoas que querem fazer diferente, mas com certa dificuldade de abandonar o que é mais aceitável, a normalidade. E cresce o número de autistas! Pessoas que fazem diferente e que nem têm ideia do que é normal? Afinal, o normal ainda é pressuposto e desejado como já foi um dia?

O que quero dizer com tudo isso? 

Se a formação de bandos tende a promover uma ‘dessubjetivação’ das pessoas ou ‘anulação’ do pensamento crítico e se pensarmos a evolução da espécie também a partir de uma transformação psíquica, podemos esperar uma tendência à fragmentação, ao individualismo, não? Seriam os formatos de unidade familiar que mais crescem no mundo – solteiro ou casado, com ou sem animal de estimação, sem filhos – um sinal disso?

Afinal, se há diversas formas de ser mulher, também existem diferentes maneiras de ser humano, certo? Talvez, tudo seja só uma questão de tempo.

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A busca pelo reconhecimento https://blogdosaber.com.br/2023/10/23/a-busca-pelo-reconhecimento/ https://blogdosaber.com.br/2023/10/23/a-busca-pelo-reconhecimento/#respond Mon, 23 Oct 2023 10:21:59 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2958 Ler mais]]> E a importância da validação

Em um mundo movido pelas redes sociais e pela constante comparação, a necessidade de validação tornou-se uma constante na vida de muitas pessoas. A busca pelo reconhecimento e aprovação externa tem se intensificado cada vez mais, especialmente em tempos onde a autoestima e confiança parecem estar em baixa. Essa é uma das questões cruciais na filosofia de Sátre, filósofo existencialista do século XX.

O inferno são os outros.
“Satre”

A busca pelo reconhecimento e a importância da validação.

Mas, por quê isso acontece?

A validação

Por quê nossa visão de eu é construída na visão do outro. Isso acontece desde o inicio da nossa existência quando ainda estamos no útero materno e geramos expectativas dos adultos que nos rodeiam. A escolha do nosso nome é uma demonstração disso, bem como a construção dos nossos primeiros relacionamentos afetivos. Neste contexto, é crucial compreender a importância da validação para o desenvolvimento pessoal e emocional.

A validação é um processo complexo que envolve o ato de receber reconhecimento, apoio e aceitação de outras pessoas em relação a quem somos e o que fazemos. É uma necessidade humana intrínseca, uma vez que todos buscamos ser vistos, ouvidos e valorizados. Quando nos sentimos validados, experimentamos uma sensação de pertencimento e confiança em nós mesmos e em nossas escolhas. Dai a busca pelo reconhecimento.

Por outro lado, a falta de validação pode ter efeitos negativos sobre nossa autoestima e autoconfiança. Quando não recebemos o reconhecimento que desejamos, podemos começar a duvidar de nossas habilidades e valor pessoal. A dependência excessiva da validação externa também pode nos levar a uma busca incessante por aprovação, o que pode comprometer nossa autenticidade e bem-estar emocional.

A autoavaliação positiva

No entanto, reforçar a ideia de que a validação externa é o único caminho para a autoaceitação seria um equívoco. A validação mais importante e valiosa vem de dentro de nós mesmos. É fundamental desenvolver uma autoavaliação positiva e cultivar a confiança em nossas próprias habilidades e escolhas. Quando nos validamos internamente, temos a capacidade de enfrentar desafios e resistir à pressão externa.

Na maturidade “saudável emocionalmente” essa necessidade vai perdendo força e vamos seguindo a nossa vida com mais liberdade e aceitação. Não do outro, mas nossa!

Silvana Vieira

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A taxação sobre os super-ricos e o jeitinho brasileiro https://blogdosaber.com.br/2023/09/05/a-taxacao-sobre-os-super-ricos-e-o-jeitinho-brasileiro/ https://blogdosaber.com.br/2023/09/05/a-taxacao-sobre-os-super-ricos-e-o-jeitinho-brasileiro/#comments Tue, 05 Sep 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2360 Ler mais]]> Uma ideia da esquerda?

Na semana passada, a BBC Brasil postou o seguinte artigo ‘Taxar super-ricos não é mais ideia só da esquerda’: os argumentos de milionário americano que quer pagar mais imposto. Segundo Morris Pearl, ex-diretor da BlackRock e presidente da organização Patriotic Millionaires, o sistema de tributação nos Estados Unidos acaba favorecendo os mais ricos, já que os impostos em cima de bens e investimentos são mais baixos que aqueles cobrados sobre os próprios salários. 

Pearl acrescenta que os ricos costumam deixar o dinheiro parado, em contas bancárias, por exemplo, em vez de aplicado na economia. O artigo mostra ainda os seguintes dados: entre 2010 e 2018, famílias bilionárias norte-americanas teriam pago em média 8,2% de seus ganhos em imposto de renda, enquanto que, em 2022, um trabalhador solteiro de renda média pagou 30%. É o famoso dito “o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre”. 

Morris Pearl compartilhou as suas teorias no Brasil, na ocasião do Fórum Internacional Tributário, no final do mês passado. E, no dia 1° de setembro, o governo começou a explicar nas redes sociais como funcionará a taxação de super-ricos no Brasil. 

O abismo social e suas origens

Esse sistema não costuma funcionar de maneira muito diferente em outros países capitalistas. Inclusive, quando falamos de nações subdesenvolvidas ou emergentes, dentro desse mesmo regime, normalmente ainda nos deparamos com situações agravantes, como um sistema de corrupção altamente irrigado. Algo que não acomete apenas a esfera pública, mas que faz parte da educação, da essência, de todas aquelas pessoas que compõem determinada nação. 

Em seu Hello, Brasil!, o psicanalista e escritor Contardo Calligaris traz a análise da civilização brasileira. Uma sociedade construída a partir de uma colonização extrativista, ou seja, a partir de colonizadores que exploram e de colonos e escravos africanos que são explorados. Um Brasil que, em fantasia, faz uma promessa de acolhimento, mas que acaba decepcionando, uma vez que não atende a expectativa daqueles que ali chegam. Então, geram-se os slogans: “esse país não presta”, “o país do futuro” – tendo nas entrelinhas: um futuro que nunca chega – e o famigerado “jeitinho brasileiro”.

Chegada de exploradores a um novo território

Calligaris faz uma reflexão sobre as possíveis origens dessas expressões que estão constantemente saindo da boca do próprio brasileiro. Expressões de revolta, de esperança e de recalque. Mas que, no fim das contas, traduzem o desespero por um reconhecimento. O reconhecimento do colono como brasileiro, um branco escravizado por seus semelhantes; daqueles que trabalham e querem ser gratificados dignamente. O reconhecimento “em uma sociedade em que é fácil ser insignificante”, em que “um privilégio indevido pode servir para restituir a qualquer um, por um instante, uma necessária dimensão de dignidade.”. Novamente, o tal do reconhecimento, tema também abordado aqui em Expressões: a arte e a coragem, Apocalipse Zumbi: uma solução para a selvageria e Por que fazem corpo mole? Entendendo a dialética do reconhecimento.

A história e seus sinais

Lembre-se: um povo conta a sua história a partir do que tem. Não que não seja possível mudar. Mas toda mudança requer um entendimento, uma compreensão sobre a fundação do problema. Da mesma forma que em um tratamento psicanalítico é preciso retornar à infância, em uma mudança estrutural, é preciso voltar ao passado e simular a construção de uma sociedade. Afinal, o buraco é sempre mais embaixo. E, pra variar, não existe receita de bolo. Cada país terá que descobrir a fórmula eficaz de fazer a sua economia girar de maneira salutar tanto para o dinheiro quanto para as pessoas. 

Afinal, Morris Pearl demonstra uma angústia plausível “Estamos preocupados com a perspectiva de que muito em breve, em algum momento, as pessoas não aguentem mais isso.”. E um sinal disso é que os transtornos mentais são a terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil.

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Apocalipse zumbi: uma solução para a selvageria? https://blogdosaber.com.br/2023/07/18/apocalipse-zumbi-uma-solucao-para-a-selvageria/ https://blogdosaber.com.br/2023/07/18/apocalipse-zumbi-uma-solucao-para-a-selvageria/#respond Tue, 18 Jul 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1986 Ler mais]]> Psicanálise e política 

Muito discute a Psicanálise a respeito das causas sociais. Nada é por acaso. Freud, o fundador, bem como diversos outros psicanalistas viveram o holocausto ou, pelo menos, a ideia dele. Muitos tiveram que fugir de seus países. Era uma época marcada pelo regime nazista e ideologias socialistas. Há, inclusive, quem tenha lutado pelo uso da Psicanálise na rede pública de saúde, como foi o caso de Wilhelm Reich, com as suas policlínicas.

Quando nos dirigimos aos assuntos de relevância, aqui no Brasil, deparamo-nos com uma polarização política: uma direita extremista, que luta pela liberdade econômica e conquista de riqueza através do capitalismo, contra uma esquerda extremista, que defende o socialismo e distribuição das riquezas de forma mais homogênea, tirando do rico e dando para o pobre.

O poder para o rico e para o pobre

Bom, seja de lá ou de cá, o fato é que falamos de extremos. E todo radicalismo pode ser perigoso. Mas, em linhas gerais, é como uma briga entre poder e rebeldia, empregador e empregado. Um que detém a renda e esbanja poder e o outro que quase não tem renda e deseja o poder do primeiro. Assim, é a inveja. Não que não haja razões para isso. De fato, há muitas. Mas todo o ódio que circunda ambos os lados gira em torno do desejo sobre o poder: um de mantê-lo, às custas de alguém que perde, e o outro de conquistá-lo, às custas de alguém que ganha. 

Os primeiros defendem que fizeram por onde, que trabalharam, dedicaram-se, suaram, usaram de sua expertise. Já, as demais dizem que não tiveram oportunidades. Para uns, a ideia da instauração do socialismo é insustentável, para outros, essa é a solução. E chego a pensar no socialismo como um apocalipse zumbi: um ponto em que zeramos as nossas pontuações, igualamo-nos. Finalmente, ninguém é mais que ninguém. Talvez, uma bela oportunidade de invertermos as nossas posições nesse jogo de xadrez.

A selvageria do reconhecimento

A Psicanálise tem um discurso ferrenho sobre o capitalismo selvagem, diz que ele seria o responsável pelo adoecimento das pessoas: ansiedade, depressão etc. Bom, é inegável a sua participação nisso. Mas não ele somente. Existem diversos pontos a serem considerados numa discussão como essa. 

Parece-me que o conservadorismo, por exemplo, não deveria estar relacionado ao capitalismo. Conservar a família faria parte de uma ideia de perpetuação da espécie, além, claro, do medo que temos de sermos resumidos a pó, de sermos esquecidos quando passamos dessa para melhor. Ou seja, é bem verdade que muitos querem perpetuar também as suas conquistas, os seus impérios. Mas esse é apenas um adendo, pois, no final das contas, o império se traduz na lembrança do que alguém foi, que relevância esse alguém teve. Para ler mais sobre a busca pelo reconhecimento, acesse Por que fazem corpo mole? Entendendo a dialética do reconhecimento.

E quanto ao papel do estado? 

Pagamos altos impostos, mesmo recebendo pouco. A empresa em que trabalhamos paga quase o valor de um salário nosso para dar ao estado. O que poderia ser usufruído por nós! Ainda por cima, o estado nos faz pagar por um plano de saúde particular, uma segurança particular, entre outras necessidades, simplesmente porque os impostos que pagamos não são transformados em serviços de qualidade. 

E, então, pergunto: quanto é preciso trabalhar para bancar tudo isso? 

Há algumas dezenas de anos, trabalhar 44 horas semanais podia até ser uma necessidade do próprio ser humano, talvez, de fugir um pouco de casa, do marido, da esposa, dos filhos, uma forma de se entreter. No entanto, hoje, as coisas são diferentes. Já temos entretenimentos muito além do que conseguimos dar conta. A percepção de tempo é completamente outra. Assim, hoje, a necessidade é fugir PARA casa, não DE casa.

Muita coisa mudou e não dá pra pensar sempre da mesma forma. O estado também tem sempre um papel fundamental em como as pessoas se sentem frente ao dinheiro e frente a elas mesmas. E, apesar do vai e vem de mandatos, a essência do estado permanece a mesma. Não importa se entra comunista ou capitalista, quem está no poder sempre quer mais. Há muito de interesse e quase nada de ideal. 

Quem ainda não percebeu isso: Que “o homem é o lobo do homem”?

Essa frase era frequentemente usada pelo filósofo Thomas Hobbes para explicar a natureza humana: egoísta e má, especialmente em seu “Leviatã”. Para explicar que o homem é o maior inimigo dele mesmo. Parece-me que não importa que bandeira ele erga. O homem é homem antes de qualquer bandeira. Em busca de ser, em busca de ter, em busca de se fazer reconhecer…  De repente, você é um leão caçando a presa. De repente, você é um sobrevivente matando zumbi. De repente, você é um oportunista. De repente, você é um selvagem tirando vantagem, com ou sem apocalipse.

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Quando a ficção se torna realidade, o herói se materializa https://blogdosaber.com.br/2023/05/30/quando-a-ficcao-se-torna-realidade-o-heroi-se-materializa/ https://blogdosaber.com.br/2023/05/30/quando-a-ficcao-se-torna-realidade-o-heroi-se-materializa/#respond Tue, 30 May 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1596 Ler mais]]> No mês passado, a BBC publicou um artigo onde se questiona o papel de filmes e séries que trazem cenários apocalípticos provenientes de mudanças climáticas. Tyler Harper, o autor, afirma que somos levados a acreditar que assistir a esses roteiros de ficção científica desperta em nós um ativismo, uma vontade de mudar para que o nosso destino seja transformado e não fadado.

O autor, que é um estudioso literário e dá aula em um curso chamado “Climate Fiction”, não só não acredita nesse potencial de salvação dos filmes, como acredita que o gênero pode ser ativamente perigoso, “prejudicando nossa capacidade cultural de imaginar um futuro digno de ser vivido ou pelo qual vale a pena lutar”. Harper conta, inclusive, que grande parte de seus alunos – muitos dos quais estariam envolvidos com o Youth Climate Movement –, durante suas aulas, acabaram “se convencendo, pelo menos momentaneamente, de que o ativismo climático não tem propósito”.

Nossos heróis

Falamos no artigo Por que fazem corpo mole? sobre o quão importante pensamos ser ou, pelo menos, gostaríamos de ser. E qual é o símbolo máximo da importância? Não são os heróis, aqueles que salvam o mundo? Quando somos crianças, temos até os heróis da vida real: o nosso pai, a nossa mãe, aquele que nos protege e que provê para nós não ficarmos desamparados. Na infância, tudo tem um significado aumentado: os objetos e a casa são gigantes, os puxões de orelha e sermões que recebemos nos provocam a rebeldia ou uma tristeza extrema a ponto de chorarmos, nossos pais são heróis porque, afinal, é deles que dependemos para sobreviver.

Quem não quer ser um herói?

E quem não quer ter tamanha importância para outras pessoas? Quem não quer ser reconhecido, admirado? Quando atendemos a demanda dos outros para que esses outros nos tragam uma satisfação através do reconhecimento da nossa imagem, esse pode ser um jogo narcísico perigoso. E não é essa a demanda do herói: o perigo? Pois então.

Assim, de um lado, temos a necessidade do reconhecimento e, do outro, a inveja. Mas como a inveja entra nesse contexto? No artigo A arte do divertimento – Por que se divertir parece tão fácil?, mas sentimos como se não fosse?, falamos mais sobre esse sentimento, que tentamos evitar a todo custo. Mas o fato é que a inveja está tão presente nas nossas vidas quanto o amor. Ser herói pode ser uma compensação por aquilo que não conseguimos obter de forma material: o casarão que meus amigos construíram, o carro esportivo que meu vizinho comprou e assim por diante. O apocalipse é o ponto em que zeramos as nossas pontuações, igualamo-nos. Finalmente, ninguém é mais que ninguém.

Ufa, chega de ‘correr atrás’, agora, o negócio é ‘correr de’

Enfim, parece valer a pena trocar o cansaço mental pelo físico, não? No apocalipse, temos oportunidades iguais e, então, aumentam as chances de eu conseguir me destacar por uma habilidade inata. Ou, no mínimo, saio de um ciclo vicioso, de uma jornada improdutiva. É o momento de renascer e tentar provar novamente a que viemos. Que não estamos aqui à toa, que temos significado.

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Por que fazem corpo mole? https://blogdosaber.com.br/2023/02/14/dialetica-do-reconhecimento/ https://blogdosaber.com.br/2023/02/14/dialetica-do-reconhecimento/#respond Tue, 14 Feb 2023 11:00:00 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=515 Ler mais]]> Entendendo a dialética do reconhecimento
O narcisismo no jogo do reconhecimento

O ser reconhecido faz parte da construção da estrutura narcísica em todo indivíduo. O reconhecer a minha imagem diante de um espelho, o reconhecer a minha presença diante do olhar enquanto me alimento através do seio ou da mamadeira, o reconhecer a minha necessidade de me alimentar, o reconhecer a minha dor quando tenho cólicas, o reconhecer as minhas palavras e atitudes cada vez que me exprimo. Por isso, as figuras maternas e paternas são essenciais no fortalecimento do ego do sujeito: afinal, para que haja reconhecimento, é preciso que alguém reconheça.

Reconhecer é conhecer de novo. Ou seja, reconhecer é lembrar. E a gente só lembra de alguém através de atitudes: ou foi algo que esse alguém fez ou foi algo que esse alguém disse. E, a partir do momento em que se forma uma civilização e passamos a viver em sociedade, o reconhecer deixa de ser uma função exclusiva daquele que gerou e passa a ser de todos que nos cercam. Por isso, sentimo-nos desconfortáveis quando alguém entra no elevador e não nos cumprimenta. Sentimo-nos desconhecidos, invisíveis, excluídos. 

A civilização contra a liberdade

Quando falamos de sociedade, falamos de teoria de formação de grupos, ou seja, de psicologia das massas. Para entrar em um grupo, é preciso aceitação. Em outras palavras, aceitação é aprovação a partir de identificações. Assim, as pessoas fazem amizade ou se agregam porque se identificam umas com as outras. No entanto, quando se trata de fazer parte de uma sociedade, as identificações ficam bastante a desejar, afinal, são muitos os “poréns”.

Se o sujeito quer participar dessa sociedade, ele precisa abrir mão de fragmentos de sua liberdade. Da mesma forma, quando o indivíduo é contratado para trabalhar em uma empresa, ele também é convidado a abrir mão de vários aspectos dessa liberdade para poder cumprir as regras. Fazendo um cálculo rápido, o sujeito entende que a troca da liberdade por regras é justa, tendo em vista que essa é a condição para ser aceito ou reconhecido naquela comunidade ou quadro de colaboradores.

Por mais contraditório que pareça, quando não há regras, há sofrimento

Para o filósofo e sociólogo alemão Alex Honneth, o sofrimento deriva da exclusão e da indeterminação. Dentro de uma empresa, a indeterminação pode fazer referência à falta de regras ou ao não entendimento delas por parte dos colaboradores, quando as regras, por exemplo, são confusas.

A exclusão é mais óbvia: trata-se de não se sentir parte de algo, de não se sentir útil, de não se sentir contribuinte de um bem maior. Isso acontece quando falta engajamento e delegação de competências por parte dos gestores ou quando a própria empresa não possui um plano de carreira ou objetivos claros – o que entra novamente em indeterminação, pois, se a empresa não tem bem definidos os seus objetivos, o colaborador também não consegue definir as suas metas dentro dela. 

Sem regras, não há metas. Sem metas, não há reconhecimento. E, sem reconhecimento, não há negocio. Porque o negocio é ser reconhecido. Então, vira terra sem lei e cada um faz como entende que é menos sofrido. Afinal, nessa terra, parece haver espaço para cada um criar as suas próprias regras, certo?

Em suma

Lembre-se: todo mundo quer ser importante ou, pelo menos, sentir-se assim. Mas quando a troca da liberdade pelas regras não mais se sustenta, por uma questão de economia de energia psíquica, o sujeito tende a procurar a vantagem ou o custo benefício em outro tipo de relação, seja dentro ou fora da sua empresa.

Fique atento aos sintomas: se na sua empresa você tem a impressão de que as pessoas normalmente não estão dando o melhor de si ou que a rotatividade de gente é anormal, alerta vermelho! Isso é um problema estrutural. O sofrimento é generalizado: para os colaboradores, que não se sentem reconhecidos, e para os processos, que acabam não evoluindo. 

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