Arquivos pai - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/pai/ Cultura e Conhecimento Mon, 14 Aug 2023 22:06:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 Despedaçados: a dor da perda de um filho https://blogdosaber.com.br/2023/08/15/despedacados-a-dor-da-perda-de-um-filho/ https://blogdosaber.com.br/2023/08/15/despedacados-a-dor-da-perda-de-um-filho/#respond Tue, 15 Aug 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2153 Ler mais]]> Uma mulher aos pedaços

O filme Peaces of a Woman, de 2020, que rendeu à protagonista o Volpi Cup do Festival de Veneza e acabou sendo adquirido pela Netflix, traz o drama de uma família durante um parto caseiro e após a perda do recém-nascido. Bom, na verdade, de acordo com o título do filme, o trauma é focado na mãe que vê o filho morrer em seus braços, nessa mulher que se despedaça enquanto enfrenta o luto. 

É bem verdade que a forma de sentir dor proveniente da perda em uma mãe e em um pai é diversa. Afinal, uma carrega a criança em seu próprio útero e o outro, não. Uma sente literalmente o bebê dentro de si, todas as suas necessidades, e o outro, não. Uma vê seu corpo transformado pelo desenvolvimento de um feto e o outro, não. Uma sente as consequências da liberação de hormônios que o outro jamais sentirá. E apenas o fato de uma se tratar de uma mulher e o outro, de um homem, já supõe backgrounds completamente diferentes e, portanto, expectativas em relação a um filho provavelmente bem distintas também. Quando pensamos nas suas classes sociais, então, tão opostas: dois pesos, duas medidas.

O peso da dor

Mas, quando falamos de quantidade de dor, estamos tratando de algo extremamente subjetivo, sendo proporcional ao quanto de exposição alguém é submetido ao tema. Pela falta ou pelo excesso. Quando somos recebidos no pronto-socorro de um hospital, por exemplo, é protocolo nos questionarem o quanto de dor sentimos numa escala de um a dez. Agora, imaginemos um homem e uma mulher, ambos envolvidos na gravidez, vivendo a doce espera todos os dias daqueles nove meses. Eles acabaram de perder o seu bebê no parto. Quanto você acha que cada um vai indicar de dor se lhes perguntarem? 

Um pai segurando o seu bebê

O relacionamento do casal antes e durante a gravidez não é evidenciado, mas o filme deixa claro que existe um companheirismo entre os dois e uma entrega à maternidade/paternidade até o momento do parto. Também é possível observar que ambos sofrem e que ele segue tentando manter uma parceria com a companheira, que não consegue dar uma resposta à altura.

As formas do luto

A protagonista se fecha, não dialoga com o parceiro e acaba optando por sofrer calada, sozinha. Sem resposta, ele, cujo passado o filme vai revelando que foi um tanto quanto conturbado, acaba não conseguindo sustentar a superação do seu antigo vício. Outras problemáticas vão se desencadeando a partir daí, envolvendo agressão, traição e suborno.  Assim, vemos as diferentes formas de viver o luto. 

Apesar de uma gravidez ocorrer no corpo de uma mulher, isso não quer dizer que outras pessoas não possam se envolver e sofrer junto com essa futura mãe. A gente acaba evocando um maior respeito pela mulher nessas situações, talvez, porque ela sofra de uma maneira mais aceitável pela sociedade: calada, quieta, “deserotizada”. Mas a maneira como a mulher sofre, em geral, conta muito da sua história dentro dessa sociedade, conta da sua natureza. Da mesma forma, a maneira como o homem sofre também mostra a sua história, a sua natureza.  

Talvez seja preciso desconstruir algumas ideias, reconhecermos a importância de cada indivíduo independentemente de seu sexo ou de suas escolhas. No final das contas, estamos todos no mesmo barco, todos desesperados para acertar, para viver a vida da melhor maneira possível. 

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Tempo bom https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/tempo-bom/ https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/tempo-bom/#respond Wed, 30 Nov 2022 21:58:00 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=109 Ler mais]]> Reflexão sobre aproveitar a vida

Nesta sexta-feira estamos republicando mais um artigo da nossa ex-colaboradora Deborah Braga publicado na coluna de ponta-cabeça em 06/05/2019, intitulada à procura que traz uma reflexão sobre as perspectivas e o saber aproveitar a vida. Leia, reflita e tire as suas próprias conclusões.

Conhecer meu pai é como ler Poliana para adultos. Meu pai é uma das pessoas mais otimistas que conheço. Não existe tempo ruim. E olhe que ele já esteve em muitas guerras e já perdeu bastantes batalhas contra si mesmo. Apesar das derrotas, nunca caiu do cavalo. Eu sempre tinha dúvidas se realmente havia ocorrido uma guerra. A dúvida era sanada quando eu olhava para a minha mãe.

Dizem que viver, hoje em dia, não é coisa fácil. Se você está lendo e apreciando este artigo, parabéns. Normalmente, não temos tempo ou afirmamos não termos tempo para viver fora do nosso escopo de trabalho. Isso foi uma das coisas que não aprendi com o meu pai.

Claro que eu o vi trabalhando em casa, às vezes, até exaustivamente lutando contra o sono. Mas ele estava lá. E nunca negou atenção quando eu precisava tirar dúvidas sobre as tarefas da escola. Aliás, meu pai nunca negou nada. Nunca negou uma presença ou uma discussão filosófica alegando estar cansado ou ocupado, nunca negou presentear alguém mesmo estando duro. Inclusive, não é uma palavra com a qual ele não é muito familiarizado.

Sempre soube tirar proveito, literalmente falando, das situações indesejadas, como apreciar o toque musical de espera do serviço de atendimento telefônico ou apreciar uma viagem de ônibus de 21 horas, aproveitando para atualizar seu blog e admirar a paisagem; das desejadas, nem se fala.

Nunca vi meu pai de cara fechada. Se vi, ela deve ter durado cerca de três segundos. Nunca vi meu pai reclamando de dor. Reclamar, por si só, já vi. Algumas vezes. Mas em todas elas, o tom era de desabafo, nunca remoendo ou com o intuito de difamar alguém.

Para o meu pai, viver é uma grande montanha-russa, em cuja fila ele entraria várias vezes. Porque cada vez que você vai, você tem uma perspectiva diferente.

A primeira vez, você vai e vomita. A segunda vez, você vai com os olhos fechados com medo de vomitar de novo, mas vai. A terceira vez, você vai e já consegue abrir os olhos. A quarta, já consegue gritar. A quinta, você vai e consegue admirar a paisagem. A sexta, você já consegue até identificar, lá de cima, os conhecidos que estão te esperando entediados e alguns desconhecidos assustados, que não têm coragem de entrar na fila, lá embaixo.

Dentre os que saem do brinquedo, existem aqueles cansados, exaustos, que só querem ir para casa e os que enfrentam a fila da foto, compram a foto e procuram pela próxima atração. E adivinha em qual desses grupos o meu pai está..?

De fato, viver o tempo bom não é para muitos. Mas aprendi com o meu pai que viver as oportunidades que a vida oferece é disciplina obrigatória, jamais optativa.

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