Arquivos mulher - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/mulher/ Cultura e Conhecimento Tue, 12 Mar 2024 01:03:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 A mulher frente ao Estado e à ciência https://blogdosaber.com.br/2024/03/12/a-mulher-frente-ao-estado-e-a-ciencia/ https://blogdosaber.com.br/2024/03/12/a-mulher-frente-ao-estado-e-a-ciencia/#respond Tue, 12 Mar 2024 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=4367 Ler mais]]> Dia Internacional da Mulher

Passado o dia internacional da mulher, suas homenagens e menções honrosas, encontramo-nos ainda no mês dela. Ocasião que o comércio aproveita para estender e, nós, mulheres, aproveitamos para usufruir. Passadas as ofertas e comemorações, ficando em segundo plano a luta histórica em que quase 130 operárias reivindicavam igualdade salarial e acabaram morrendo carbonizadas, restam-nos, então, as estatísticas.  

Violência doméstica, assédio moral e sexual em ambiente de trabalho, feminicídio, aborto e planejamento familiar. Esses são tópicos que normalmente pertencem ao “campo de batalha” da mulher, quando deveria ser de interesse de todos os envolvidos. Afinal, todos são filhos, além de avós, pais, tios, irmãos, colegas.

Direito ao aborto

Na semana passada, “A França se tornou o primeiro país do mundo a incluir o direito da mulher ao aborto na Constituição”. Veja citação de artigo da BBC

O aborto é legal na França desde 1975, mas o presidente Macron comprometeu-se a consagrá-lo na Constituição após a Suprema Corte dos Estados Unidos ter revertido a decisão Roe contra Wade, em 2022.

O caso Roe contra Wade se deu em 1973 na Suprema Corte dos Estados Unidos, onde uma mulher grávida, Jane Roe (pseudônimo de Norma McCorvey), entrou com uma ação em busca do aborto de seu terceiro filho, alegando ter sido estuprada. O promotor público que recebia o caso era Henry Wade, defensor da lei antiaborto. 

Apesar do processo de Jane Roe ter sido deferido, com o tempo, ativistas antiaborto acabaram obtendo algumas conquistas, como:

  • lei proibindo “o uso de fundos federais para o aborto, exceto quando necessário para salvar a vida de uma mulher” em 1980;
  • restrições proibindo “abortos em clínicas estaduais ou por funcionários públicos” em 1989;

Entre outras… Até que em 2022, “A Suprema Corte decidiu a favor da proibição do aborto no Mississippi após 15 semanas de gestação”, abrindo precedentes para novas restrições e proibições. Veja mais em Roe x Wade: o que muda com decisão da Suprema Corte dos EUA sobre aborto? 

Os números falam por si

Bom, os números apontam que 85% dos franceses são a favor da emenda constitucional. Portanto, neste caso, podemos dizer que a população em geral entende que o aborto é uma opção necessária. Nos Estados Unidos da América, uma pesquisa de opinião mostrou que 58% dos norte-americanos acreditam que o aborto deve ser legal em todos ou na maioria dos casos. Saiba mais em artigo do Poder 360. Já, no Brasil, a pesquisa divulgada no ano passado apontou que apenas 39% dos cidadãos são a favor nesse tema. 

É claro que entre Brasil, Estados Unidos e França existem diferenças culturais significativas. A começar pela influência direta do tempo de existência desses Estados e da solidificação de suas leis e constituições, o que define, inclusive, um acesso maior ou menor à educação. 

Países em que o acesso à educação e à independência financeira da mulher é maior tendem a contabilizar menos casos de gravidez forçada ou indesejada. E isso significa dizer que os custos do Estado com procedimentos abortivos devem ser menores em comparação a países mais novos. Afinal, argumentos sobre verbas municipais, estaduais e federais sempre entram em pauta, especialmente quando tratamos de Estados laicos.

Estado laico

O Brasil, apesar de laico, possui uma representatividade cristã extremamente alta. Uma pesquisa de 2023 divulgada pela BBC News mostrou que “quase nove a cada dez brasileiros dizem, por exemplo, acreditar em Deus”.

O índice de 89% de crença em um poder superior coloca o Brasil no topo do ranking de 26 países elaborado pelo Ipsos, com base em uma plataforma online de monitoramento que coleta informações sobre o comportamento destas populações.

Dos 89%, 70% afirmaram ser cristãos, católicos e evangélicos em sua maior parte. Isso significa dizer que, apesar de laico, a partir do momento em que as leis são feitas por seres humanos, que experimentam as suas vidas baseadas em crenças, o seu entendimento do que é melhor para a sociedade necessariamente será pautado nessas experiências. Especialmente em se tratando de países cujas constituições ainda não sofreram um processo de amadurecimento tão longo.

Casos em evidência como o do hospital particular São Camilo, em São Paulo, que se recusou a implantar um DIU (dispositivo intrauterino) em uma paciente enviada pelo SUS, acontecem e seguirão surgindo. Apesar do hospital ter convênio com o SUS, ele informou que “não faz procedimentos contraceptivos — em mulheres ou homens”, apenas em casos graves de saúde, como endometriose. Nesse caso, afirma ter orientado “a paciente a buscar outro prestador de serviço dentro da rede credenciada do plano de saúde”. Veja mais em artigo do Conjur.

Mais tarde, o Consultor Jurídico publicou o texto Juiz evoca liberdade de crença para rejeitar ação contra hospital que negou DIU, onde o entendimento do caso pelo juiz é: 

O ato de negar o implante de um dispositivo intrauterino (DIU), usado como método contraceptivo, é válido quando o estatuto social do hospital deixa claro que se trata de uma associação civil, de caráter confessional católico.

No entanto, após a decisão, o presidente da Comissão Especial de Bioética da OAB-SP, Henderson Fürst, faz a seguinte crítica:

O planejamento familiar é um direito fundamental expressamente estabelecido pela Constituição, pela Lei do Planejamento Familiar, pela Lei 8.080/1990, e também pela Lei 9.656/1998, ou seja, é um direito tanto no sistema público quanto no sistema suplementar de saúde. Um hospital pode se recusar a realizar o procedimento somente se não estiver na rede de procedimentos contratados com a operadora de saúde. Se estiver contratado, ou se o atendimento é no âmbito do SUS, não há objeção de consciência institucional assegurada por lei — mas há, sim, direito ao planejamento familiar determinado por lei.
A faculdade de julgar: o Estado frente à ciência

Fica mais claro, então, o que significa uma constituição pouco madura e, ao mesmo tempo, a ideia de uma nação dividida entre o antiaborto e o pró-aborto. 

A ideia aqui não é julgar o aborto ou os métodos contraceptivos, mas tentar entender o por quê da posição do nosso Estado em diferentes mandatos, bem como por que a nossa constituição possui tantas brechas. 

Quando se fala de legislação, normalmente, existe um apoio na ciência, certo? Mas, então, por que certas questões como “Quando uma célula se torna uma pessoa?” apresentam posições tão contraditórias? Pois o que era, até então, comum no Alabama, tornou-se uma prática proibida nas clínicas de fertilidade. Três casais norte-americanos conseguiram reverter a legislação estadual, determinando que todos os embriões passassem a ser considerados crianças, depois que tiveram destruídos acidentalmente os seus materiais fecundados. A prática segue operante no restante do país. Leia também Quando uma célula se torna pessoa? O consenso científico sobre a polêmica dos embriões.  

Assim, retornamos à questão da leitura da ciência a partir de um determinado ponto de vista, colocada no último artigo desta coluna, Crítica do saber prático: psicanálise é filosofia:  

Em outras palavras, Hegel diz que os saberes em relação às coisas da vida são construídos a partir da experiência do sujeito, que, por sua vez, encontra-se no mundo físico. Então, apesar da experiência se encontrar na história da mecânica newtoniana, juntamente à ciência, o saber que se produz dela depende da interpretação ou da ligação do sujeito com o mundo, que, então, enquadra-se no movimento da dialética, dentro do campo da metafísica.

O Estado é laico, tendo como premissa a não admissão da influência religiosa na conduta governamental, no entanto, é liderado por pessoas de fé. E, como parte ainda da premissa, deve “respeitar, proteger e tratar de forma igual todas as religiões, fés e compreensões filosóficas da vida”, embora seja governado por seres que nem tudo sabem e nem tudo toleram.

O Estado é laico, mas as pessoas não o são. 

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Dia Internacional da Mulher https://blogdosaber.com.br/2024/03/05/mulher-desafios-comemoracao-violencia-luta-conquistas-direitos/ https://blogdosaber.com.br/2024/03/05/mulher-desafios-comemoracao-violencia-luta-conquistas-direitos/#comments Tue, 05 Mar 2024 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=4312

Sou Mulher

Sinto-me privilegiada por ter nascido mulher, ter meu corpo feminino, minha voz, minha sensibilidade apurada, apesar de tantos obstáculos e da luta diária que travamos por nossos direitos, por respeito e principalmente, pela vida.

No início do mês (do nosso mês), foi noticiado que uma brasileira foi vítima de estupro coletivo na Índia, um país que ainda mantém uma cultura de desvalorização da mulher, a exemplo de outros, na Ásia.

Nas viagens que faço, é comum me deparar com a discrepância entre os sexos em pessoas oriundas desses países. Por exemplo, nos cruzeiros pelo Caribe, em pleno verão, onde as temperaturas ultrapassam os 35 graus Celsius, os homens andam de camiseta, bermuda e chinelos e as pobres mulheres com sáris enormes (aqueles vestidos longos, cheios de tecido quente, e a depender do modelo, cobrem também a cabeça) suando, correndo atrás das crianças.

Sem falar nos países em que as mulheres usam a burca, aquela vestimenta que deixa somente os olhos de fora. Uma mulher vivendo em condições de medo e cerceamento, com certeza, não é feliz.

No Brasil, a violência e o feminicídio bate recordes. Hoje mesmo, enquanto escrevia, durante uma pausa que fiz para tomar água, abri as redes sociais e li a seguinte manchete da CNN:  jovem esfaqueada à beira de rodovia em Minas Gerais morreu ao fugir de cárcere privado.

Meus leitores, está muito perigoso ser mulher nos dias de hoje.

Dia Internacional da Mulher

O dia é internacional da mulher, mas temos mesmo o que comemorar? É inadmissível em pleno século XXI e na era da informação e tecnologia em que estamos nos depararmos com situações sociais perigosas e humilhantes para nós, mulheres.

Quis trazer um texto aprazível, em homenagem ao nosso dia. Até coloquei a música de Erasmo Carlos “Mulher, mulher, a forma em que você foi gerada, jamais tirei um dez, sou forte, mas não chego aos seus pés” para entrar no clima, mas não dá para colorir tudo de rosa. Parece que as cores estão mudando e vemos com mais frequência o roxo dos hematomas e a cor da morte dos cadáveres femininos.

O que é ser mulher?

Crescemos tidas como o sexo frágil, mas na verdade, somos as maiores fortalezas para aqueles que nos rodeiam. Não, não estou falando de trabalho braçal, pois para isso, criaram as máquinas. Estou falando daquelas grandes batalhas internas que destroçam qualquer ser humano.

Os homens têm demonstrado uma fraqueza assustadora. Não conseguem resolver os próprios conflitos e os trazem para dentro do lar, que deveria ser um refúgio para tudo de ruim que acontece lá fora. E o papel de apaziguadora, pacificadora, recai para nós, mulheres, seja através da maternidade ou do matrimônio. Muitas vezes, servindo de saco de pancadas para as frustrações dos outros.

Não estou querendo demonizar a figura masculina, mas nossos agressores são os homens. Isso é fato. Mas aí vem um grande questionamento: Quem educa esses homens? São as mães, as avós, as tias, as babás, em síntese, a mulher. Talvez seja o momento de rever que educação e ensinamentos estamos passando para a próxima geração.

O dia 08 de Março

O dia 08 de março foi criado oficialmente pela ONU, em 1975, para celebrar a luta pelos direitos das mulheres. Isso depois de várias manifestações mundiais que vinham ocorrendo na América e Europa. Nos anos anteriores, as mobilizações ocorriam sobre a igualdade salarial e redução de jornadas trabalhistas. Hoje, com aumento da violência contra a mulher, estamos pedindo paz, em primeiro lugar.

Mulheres que inspiram

Já vencemos muitos obstáculos, isso é notório e sem querer, estamos perdendo um pouco de nossa essência para mimetizar o ser masculino e assim, conquistar mais respeito.

Li uma frase que dizia assim “Ela não sonha com um príncipe encantado. A donzela da atualidade está se tornando o homem de seus sonhos” e achei extremamente desagradável. Eu não quero ser o homem dos meus sonhos. Eu quero ser mulher bem feminina e que esse “homem dos sonhos,” ou algo assim, esteja ao meu lado para somar, crescermos juntos.

Creio que precisamos manter nossa essência onde quer que estejamos.

Vamos olhar para mulheres como Marie Curie, a cientista premiada, que fez importantes descobertas para a medicina, Bertha Von Suttner, que ganhou o prêmio Nobel da Paz por expor a violência das guerras, Rosa Parks, que foi um ícone contra a segregação racial americana…

Bem perto de nós, temos nossa potiguar Alzira Soriano, protagonista da política, dentre tantas outras mulheres maravilhosas que deixaram sua marca e deixam por onde atuam. Estas, não precisaram perder a feminilidade para se posicionar como mulher e conquistadoras/defensoras de direitos.

Recentemente, conheci uma mulher notável, a Capitã Kate, que comanda o navio Beyond da companhia Celebrity. Muito simpática e com um aperto de mão firme. Lá está ela, comandando um navio enorme com uma tripulação de quase 3 mil pessoas, além dos hóspedes, num mercado predominantemente masculino. Ver uma mulher adentrado num espaço que “não lhe cabia” e exercendo a função com maestria, me deixou muito feliz.

Na verdade, há espaços para todos, em todas as áreas. Não queremos disputar queda de braço com ninguém, apenas ter nosso lugar ao sol.

Nascemos empoderadas!

Como mulheres, nascemos com a missão mais importante da terra, a maternidade. Somos nós que carregamos a vida por meses, parimos, amamentamos, acalentamos e criamos. Eu não vejo função mais nobre e importante no universo.

O empoderamento feminino que a mídia fala vem se confundindo com invasão e inversão de papeis. Essa individualidade que pregam é cansativa e sobrecarrega nossa vida. Não temos que fazer tudo sozinhas. Vivemos em sociedade e como tal, precisamos conviver com racionalidade.

Há particularidades inerentes às mulheres, da mesma forma que há atividades próprias aos homens, até pelas diferenças físicas que possuímos. Ser racional é reconhecer isso no dia a dia.

De qualquer forma, parabéns para nós, mulheres!

Todos os dias são nossos, pois fazemos acontecer. Somos nós que transformamos uma casa num lar, sabemos extrair o que há de melhor na alma humana e somos maternais por natureza. Com nossa essência, deixamos a vida mais bela.

Vivem falando que o mundo ainda será feminino. Bem, que seja um mundo bem mais delicado, pacífico, com jeito de mãe, cheio de amor e cuidado e mais acolhedor como nosso abraço. Que tenha mesmo a nossa cara e jeito de mulher!

Feliz Dia Internacional da Mulher!

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Maternidade https://blogdosaber.com.br/2023/11/08/maternidade/ https://blogdosaber.com.br/2023/11/08/maternidade/#respond Wed, 08 Nov 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=3001 Ler mais]]> Sheila Heti
Os ganhos e as perdas para uma mulher que decide pela maternidade.

Eu não quero ser uma passagem”. Na coluna DICA DE LIVRO desta quarta-feira, falaremos um pouco sobre um tema muito importante, A Maternidade. Tratado na obra da escritora canadense, Sheila Heti, a respeito do seu livro Maternidade. Que nos leva para uma REFLEXÃO profunda sobre a opção de não ter filhos. Em Maternidade, Sheila Heti reflete sobre os ganhos e as perdas para uma mulher que decide se tornar mãe. No entanto, tratando a decisão que mais traz consequências na vida adulta com a franqueza, a originalidade e o humor que lhe renderam reconhecimento internacional por seu livro anterior, How Should a Person Be? Heti dá voz a um tipo de mulher que até agora não tinha sido representada: a que decide não ter filhos

Idade para maternidade

Ao se aproximar dos quarenta anos, numa fase em que todas as suas amigas se perguntam quando irão ter filhos. A narradora do romance intimista e urgente de Heti. ― No limiar entre a ficção e autorreflexão ― questiona se aquela é uma experiência que ela quer ter. Numa narrativa que se estende ao longo de muitos anos. Moldada a partir de conversas com seus pares e seu parceiro e de sua relação com os pais. Ela se vê em um embate para fazer uma escolha sábia e coerente. Depois de buscar ajuda na filosofia, no próprio corpo, no misticismo e no acaso, ela descobre a resposta num lugar bem mais familiar do que imaginaria.

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Despedaçados: a dor da perda de um filho https://blogdosaber.com.br/2023/08/15/despedacados-a-dor-da-perda-de-um-filho/ https://blogdosaber.com.br/2023/08/15/despedacados-a-dor-da-perda-de-um-filho/#respond Tue, 15 Aug 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2153 Ler mais]]> Uma mulher aos pedaços

O filme Peaces of a Woman, de 2020, que rendeu à protagonista o Volpi Cup do Festival de Veneza e acabou sendo adquirido pela Netflix, traz o drama de uma família durante um parto caseiro e após a perda do recém-nascido. Bom, na verdade, de acordo com o título do filme, o trauma é focado na mãe que vê o filho morrer em seus braços, nessa mulher que se despedaça enquanto enfrenta o luto. 

É bem verdade que a forma de sentir dor proveniente da perda em uma mãe e em um pai é diversa. Afinal, uma carrega a criança em seu próprio útero e o outro, não. Uma sente literalmente o bebê dentro de si, todas as suas necessidades, e o outro, não. Uma vê seu corpo transformado pelo desenvolvimento de um feto e o outro, não. Uma sente as consequências da liberação de hormônios que o outro jamais sentirá. E apenas o fato de uma se tratar de uma mulher e o outro, de um homem, já supõe backgrounds completamente diferentes e, portanto, expectativas em relação a um filho provavelmente bem distintas também. Quando pensamos nas suas classes sociais, então, tão opostas: dois pesos, duas medidas.

O peso da dor

Mas, quando falamos de quantidade de dor, estamos tratando de algo extremamente subjetivo, sendo proporcional ao quanto de exposição alguém é submetido ao tema. Pela falta ou pelo excesso. Quando somos recebidos no pronto-socorro de um hospital, por exemplo, é protocolo nos questionarem o quanto de dor sentimos numa escala de um a dez. Agora, imaginemos um homem e uma mulher, ambos envolvidos na gravidez, vivendo a doce espera todos os dias daqueles nove meses. Eles acabaram de perder o seu bebê no parto. Quanto você acha que cada um vai indicar de dor se lhes perguntarem? 

Um pai segurando o seu bebê

O relacionamento do casal antes e durante a gravidez não é evidenciado, mas o filme deixa claro que existe um companheirismo entre os dois e uma entrega à maternidade/paternidade até o momento do parto. Também é possível observar que ambos sofrem e que ele segue tentando manter uma parceria com a companheira, que não consegue dar uma resposta à altura.

As formas do luto

A protagonista se fecha, não dialoga com o parceiro e acaba optando por sofrer calada, sozinha. Sem resposta, ele, cujo passado o filme vai revelando que foi um tanto quanto conturbado, acaba não conseguindo sustentar a superação do seu antigo vício. Outras problemáticas vão se desencadeando a partir daí, envolvendo agressão, traição e suborno.  Assim, vemos as diferentes formas de viver o luto. 

Apesar de uma gravidez ocorrer no corpo de uma mulher, isso não quer dizer que outras pessoas não possam se envolver e sofrer junto com essa futura mãe. A gente acaba evocando um maior respeito pela mulher nessas situações, talvez, porque ela sofra de uma maneira mais aceitável pela sociedade: calada, quieta, “deserotizada”. Mas a maneira como a mulher sofre, em geral, conta muito da sua história dentro dessa sociedade, conta da sua natureza. Da mesma forma, a maneira como o homem sofre também mostra a sua história, a sua natureza.  

Talvez seja preciso desconstruir algumas ideias, reconhecermos a importância de cada indivíduo independentemente de seu sexo ou de suas escolhas. No final das contas, estamos todos no mesmo barco, todos desesperados para acertar, para viver a vida da melhor maneira possível. 

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A fragilidade dos sexos na era do empoderamento feminino e das “machosferas” https://blogdosaber.com.br/2023/06/20/a-fragilidade-dos-sexos-na-era-do-empoderamento-feminino-e-das-machosferas/ https://blogdosaber.com.br/2023/06/20/a-fragilidade-dos-sexos-na-era-do-empoderamento-feminino-e-das-machosferas/#respond Tue, 20 Jun 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1745 Ler mais]]> A gigante acordou

O empoderamento da mulher nas sociedades atuais tem mudado conceitos e evidenciado extremismos. Apesar dos números referentes ao feminicídio e à violência doméstica voltada para a mulher terem aumentado nos últimos anos, a valorização das conquistas do feminino segue no mesmo ritmo. Isso seria uma resposta das mulheres aos casos policiais ou os casos policiais seriam uma resposta dos homens a esse empoderamento? Ou, ainda, teriam os casos policiais apenas mudado de nomenclatura, de homicídio para feminicídio?

Enquanto as mulheres têm descoberto e exercido um poder que elas não faziam ideia que tinham dentro das sociedades patriarcais, os homens simplesmente não sabem o que fazer em relação a isso. Dentro de uma sociedade fálica, aos sexos são atribuídas tarefas, papéis e trejeitos diferentes. Quando o poder é dado ao sexo que não o possuía, existe algo de excitante. Já quando ele é retirado daquele que o possuía, existe algo de frustrante.

Sexos frágeis

As mulheres excitadas querem cada vez mais o que elas descobriram e os homens frustrados, em contrapartida, estão apavorados. Alguns, mais passivos, vão tentar entender o que se passa e, quem sabe, adaptar-se a essa nova mulher. Já outros, mais ativos e dominadores, vão entrar na negação do fato.

Mas, de fato, não é fácil ser homem ou mulher. Talvez, nunca tenha sido. Todos nós, antes de mais nada, somos seres humanos. Seres reprimidos, traumatizados, que têm dúvidas, que se contradizem. Nós somos vulneráveis, sejam os passivos sejam os ativos. O empoderamento da mulher possui pelo menos dois pontos de fragilidade:

  1. Por enquanto, em termos gerais, a mulher tem sido poderosa apenas para ela mesma. Enquanto os homens não entenderem ou se adequarem ao novo papel da mulher na sociedade contemporânea, esse papel continuará sendo negligenciado nas esferas políticas, sociais, profissionais e pessoais;
  2. Nesse novo papel, a mulher também se acha perdida, assim como os homens. É difícil definir até que ponto elas podem ou devem ir. É aquela história de quando o poder sobe à cabeça. “Posso me vestir como eu quiser!”. Mas será que é bem assim?
Direitos e deveres

Configura o crime de ato obsceno, a “manifestação de cunho sexual praticada em local público ou aberto ao público, capaz de ofender o pudor médio da sociedade”. Pudor médio da sociedade. O que isso quer dizer? Muitas coisas! A variar com a perspectiva de cada um. Mas pensando no “mediano” e que a sociedade brasileira é constituída em maior parte por pessoas educadas a partir de uma fé religiosa de natureza cristã, poderíamos dizer que o ato de andar pelas ruas despido, semidespido ou evidenciando genitálias ou zonas erógenas configuraria crime? É provável, não? Mas, na contramão disso, as mulheres vão se vestindo de forma cada vez mais erotizada. E, pasmem, elas não são penalizadas por isso.

Mas os deveres não deveriam ser iguais também? Pois é. É nesse ponto, por exemplo, que a coisa é desvirtuada. Ou melhor dizendo, distorcida. Passar a ter poder significa ter mais poder que o outro? Não deveria, certo? Não, se o discurso é “direitos iguais”. Poderíamos estar falando de abuso de poder, então?

Parece que os excessos levam ao nada

É provável que o “abuso” por parte das mulheres seja o principal fator que contribui para a formação de “machosferas” como a Red Pill, grupos de homens com pensamento conservador, que denigrem a mulher em seu novo papel, e com maioria decidida a não ter mais relacionamentos duradouros com elas. Ou seja, é a contraofensiva. Afinal, grupos reativos só surgem a partir de movimentos radicais. Da mesma forma, a alta no número de feminicídios pode também estar ligada a essa contraofensiva.

Ou não. Talvez, esse número apenas esteja aos poucos se tornando oficial. Antes do poder, as mulheres simplesmente aceitavam o que estava determinado pela sociedade para elas. Raras se separavam ou pediam o divórcio. Mas, com a criação de leis voltadas para mulheres e as redes sociais para propagar os absurdos sofridos por elas, perceberam que unidas eram mais fortes. Com os depoimentos vindo à público, outras mulheres vão se sentindo mais à vontade ou seguras para também contarem as suas próprias histórias e para se imporem.

Por um ou por outro, o fato é que todos estamos tendo que lidar com mudanças extremamente significativas: o abuso de poder das mulheres, a contraofensiva masculina, a desconstrução do masculino e do feminino e ainda o abuso de poder dos homens, nas mais diversas esferas da sociedade. É um momento confuso e cada um busca reencontrar o seu próprio papel. É como se estivéssemos, nesse momento, desrotulados e, por mais que ainda haja quem tente dar rótulos, eles simplesmente não cabem em nós. Não mais. Somos como peixes fora da água, mas à margem dela. Temos tudo e não temos nada. Somos tudo e não somos nada.

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Poder e submissão: https://blogdosaber.com.br/2023/03/28/poder-e-submissao-ate-que-ponto-o-estado-e-efetivo-contra-a-violencia-domestica/ https://blogdosaber.com.br/2023/03/28/poder-e-submissao-ate-que-ponto-o-estado-e-efetivo-contra-a-violencia-domestica/#respond Tue, 28 Mar 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1134 Ler mais]]> Até que ponto o estado é efetivo contra a violência doméstica?
Crime contra a mulher

A Câmara dos Deputados aprovou no último dia 21 um projeto de lei voltado para a proteção de mulheres vítimas de violência. Para mais informações sobre o projeto, acesse https://www.camara.leg.br/noticias/947084-camara-aprova-projeto-que-determina-protecao-imediata-a-mulher-que-denuncia-violencia.

Em meio a tantas notícias de feminicídio no Brasil, torna-se realmente necessário tomar algumas atitudes mais drásticas. Isso não quer dizer que o alto índice de feminicídio seja uma novidade aqui no país.

A questão é que o número de denúncias feitas por mulheres contra violências causadas por atuais ou ex parceiros tem aumentado.

Como viralizar?

Quando os assuntos se tornam manchete, eles ficam em evidência, e quando passamos a ver evidências de algo que ainda não havíamos parado para prestar atenção, ele se torna novidade.

Assim, quando uma grande quantidade de pessoas entende como novidade, o assunto é repercutido ou, na linguagem atual, viralizado.

E a moral da mulher, onde fica?

No caso da violência doméstica, soma-se o fato de que se trata realmente de um assunto que acomete grande parte das mulheres. Porque violência doméstica não inclui apenas agressão física, trata-se também de moral.

A desmoralização da mulher dentro de um núcleo familiar é um dos temas mais abordados na clínica psicanalítica. Essa desmoralização começa quando o homem diminui o papel da mulher dentro da sociedade ou de sua própria casa:

O trabalho dela não é importante, ela ganha uma mixaria, ela não sabe cozinhar, ela não cria bem os filhos, ela não faz nada direito.

Um problema estrutural

É por isso que se fala tanto em machismo estrutural.

No entanto, não nos damos conta que não existiria machismo se não fossem as diferenças claramente marcadas pela sociedade entre o homem e a mulher, mas, em sociedades patriarcais, ainda reina Édipo.

Quem não conhece o mito do rei que matou o pai e se casou com a mãe? Uma história que, em outras palavras, resume-se à agressão e conquista de um homem e à submissão de uma mulher.

Jacques Lacan, o segundo nome da Psicanálise, diz em seu quinto seminário “As formações do inconsciente”:

“A virilidade e a feminização são os dois termos que traduzem o que é, essencialmente, a função do Édipo. Encontramo-nos, aí, no nível em que o Édipo está diretamente ligado à função do Ideal do eu”.

O poder e a submissão

O que quero dizer com isso?

Que existem características que são típicas masculinas e outras tipicamente femininas.

Na sociedade fálica, o homem representa o poder e a mulher, a submissão e em qualquer sociedade, uma pessoa que gosta de agredir naturalmente é atraída por uma outra que aparenta ser mais frágil.

É uma questão de sobrevivência. Você não vai bater em alguém maior que você, certo?

Dentro de uma sociedade, as características típicas dos dois sexos podem ficar mais ou menos evidenciadas, dependendo se ela dá mais ou menos importância às diferenças.

No entanto, é interessante ter em mente que quando falo de sociedade, não estou me referindo às autoridades, mas aos próprios indivíduos que compõem essa organização.

O papel do estado

O que mais quero dizer com isso?

Que o feminicídio constata uma cultura vivida e propagada pela própria sociedade, tanto por homens quanto por mulheres, e que tratar desse assunto é algo muito mais complexo, mas, ao mesmo tempo, não tão menos viável do que se imagina.

O projeto de lei da ministra Simone Tebet é, a princípio, válido e pode salvar muitas vidas, mas, como com diversos programas que temos no Brasil, pergunto-me “até quando?”.

Programas estes que não possuem fiscalização, que não têm um plano estratégico associado. Esses tipos de programas e leis acabam sendo uma forma de “tapar o sol com a peneira”.

As mulheres não precisam de cota ou espaço para atuarem, isso elas já têm. O que elas precisam é se sentir livres dos papéis atribuídos pela sociedade patriarcal.

Ao se sentirem livres dessa posição enrijecida, elas não sentirão mais que precisam de proteção, seja de seus parceiros (proteção essa, muitas vezes, contraditória) ou da polícia.

Mas isso, apesar de ser uma mudança individual, deve acontecer em coletivo, marcando, assim, uma mudança cultural, estrutural. E o início dessa transformação deve ocorrer na infância.

Então, se o estado tem um papel grandioso nisso, é o de garantir a segurança e uma educação de qualidade para as crianças. Escolas onde elas sejam incentivadas a se questionarem.

Sem mais.

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Eu Estou Foda-se https://blogdosaber.com.br/2023/03/08/eu-estou-foda-se-um-grito-de-guerra/ https://blogdosaber.com.br/2023/03/08/eu-estou-foda-se-um-grito-de-guerra/#respond Wed, 08 Mar 2023 13:00:28 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=904 Ler mais]]> Hoje você vai ler mais uma maravilhosa e irada crônica da nossa incrível Ana Madalena que tem uma imaginação super fértil, com eu estou foda-se um grito de guerra do empoderamento feminino.

Desta vez ela nos presenteia com um conto fenomenal acerca de uma peça do vestuário feminino chamada “Cropped’.

O Cropped

Uma minúscula blusinha que deixa a mostra a metade da barriga e o umbigo.

Sua imaginação vai tão longe que retroage na moda dos anos 40 e volta até os nossos dias citando a inesquecível e incrível Marília Mendonça.

Que consegue criar com um cropped a expressão “Eu sou foda-se”!

Eu estou foda-se

Era uma vez uma mocinha chamada Gabriela, que um dia foi convidada para sair com um rapaz.

Ela ficou eufórica, mas infelizmente sua futura história de amor chegou ao fim antes mesmo de começar. 

Gabriela “levou um bolo” e ficou numa profunda tristeza. Sua irmã resolveu dar uma força e tweetou:

 –  Vai mulher, reage, coloca um cropped!

Em pouco tempo a publicação atingiu altos níveis de compartilhamento e como por encanto, a Internet arranjou uma solução prática e simples para espantar os problemas e desânimo das pessoas.

Colocar um cropped virou um grito de liberdade!


Do it yourself

E também a peça de roupa do momento, embora tenha surgido na década de 30.

Usado principalmente nas roupas de banho.

Já na década de 80, virou tendência, no estilo DIY,  Do it yourself – faça você mesmo, quando “uma galera” passou a tesoura nas suas blusas longas.

A indústria da moda, percebendo esse movimento, caiu em campo; o cropped voltou repaginado, atendendo a todos os corpos, ajudando  mulheres a se desligar das pressões estéticas.


A moda é assunto sério, embora para alguns seja apenas um pedaço de tecido.

Dois psicólogos de uma universidade americana cunharam o termo ” cognição indumentária” para explicar como a roupa que usamos tem interferência sistemática nos processos psicológicos de cada um.

Transmitindo sensações, como auto-estima e poder.

Quem nunca “se sentiu” com uma roupa?


A primeira semana de moda do mundo aconteceu em 1943, chamada de “Press Week”;

Tinha como objetivo apresentar as coleções parisienses para quem não pôde viajar até a capital francesa, depois da Segunda Guerra Mundial.

De lá para cá, muito mudou;

Atualmente a maior revolução da moda  é oferecer aos clientes as roupas que acabaram de “passear” nas passarelas.

No ano passado a griffe Burberry instituiu os desfiles “see-now-buy-now”, “veja agora, compre agora”,

Resultado da popularização das redes sociais e dos tapetes vermelhos, que transmitem ao vivo os desfiles, despertando no consumidor o desejo de adquirir  imediatamente o que foi apresentado.


Um estudo feito sobre o impacto das redes sociais e o consumo  concluiu que o consumidor está cada dia mais imediatista.

Não tem paciência para esperar que os lançamentos demorem meio ano para chegar às lojas.

Esse fenômeno comportamental deve-se ao fato de hoje tudo ser muito rápido e os “looks” serem exibidos à exaustão, tornando o produto praticamente “fora de moda”, seis meses depois, ao chegar nas araras.

No Brasil, as próximas semanas de moda terão apenas desfiles com roupas que possam ser comprados imediamente.

Alguns fabricantes estão pessimistas,  dizem que é um tiro no escuro, que não sabem se o produto vai ser bem aceito, além do risco de um investimento alto.

Realmente não é fácil fabricar algo que agrade multidões, além, óbvio, do fator econômico, que tanto atinge o empresariado, quanto o consumidor.

Com a pandemia e o isolamento, o setor sofreu bastante.


Fast fashion

A industria da moda é a segunda mais poluente do mundo, perdendo apenas para o setor de petróleo.

Essa posição no ranking é creditada ao “fast fashion”, nome dado pela rapidez que as grandes marcas lançam novas coleções, hoje, a cada duas semanas.

O “fast fashion” é um conceito no qual a produção, o consumo e o descarte de uma peça de roupa tem um ciclo muito rápido.

O lixo têxtil, resíduos oriundos das confecções, não tem valor no mercado de reciclagem e terminam no lixão.


O slow food

Contrapondo com a rapidez do “fast fashoin”, já existe o movimento “slow living”, que consiste em um estilo de vida mais tranquilo e cuja filosofia pode ser utilizada em vários setores.

O “modo slow” nasceu na Itália, em 1986, quando um ativista protestou contra a abertura de um restaurante fast food em Roma.

Ele pregava o “slow food”, que consiste numa alimentação sustentável, prestigiando os produtores locais. Vale lembrar que o movimento “slow” não quer dizer moroso, nem muito menos preguiçoso.

Ele oferece a possibilidade de vivermos o presente, pois geralmente projetamos o futuro, ou relembramos o passado, enquanto que a correria nos desliga do presente, que é o único tempo que a vida acontece de verdade.

Na moda, o “slow fashion” é baseado em reduzir as compras para  um número menor de peças, mas com estilo e qualidade de  produtos.

Esse movimento tem por objetivo convidar as pessoas a repensar seus hábitos e estilo de vida.

Pois a correria do dia a dia, além da quantidade de informações a que somos submetidos, resultou no adoecimento das pessoas e, não por acaso, a ansiedade é a doença do século.


O Estou Foda-se de Marília Mendonça

Assisti a um show de Marília Mendonça, onde ela estava vestindo um cropped;. em determinado momento ela disse:


– Eu queria dizer que hoje eu estou inaugurando o uso de um cropped na minha vida.

É por que estou magra? Não, não é.  Eu não estou magra. Eu estou foda-se!


A plateia foi ao delírio e esse vídeo viralizou rapidamente, como tudo que Marília fazia.

Segundo ela, a decisão de usar a famosa blusinha com acabamento acima do umbigo significava a liberdade de poder vestir o que gosta e não se importar com críticas.

E cá pra nós, ela soube, como ninguém, levantar o ânimo da mulherada.

Ela e Gabi, que criou o @menibadocroped e desde então a lista para o uso da frase não pára:


-Está infeliz? Reaja e coloque um cropped!

-Está com problemas financeiros? Reaja e coloque um cropped!

-Está preocupada com o futuro da humanidade? Reaja e coloque um cropped!

-Eu estou foda-se, um grito de guerra, reaja e coloque um cropped!


E eu pergunto: ficou com preguiça de ler essa crônica? Reaja e coloque um cropped! Eu vesti o meu para lhe escrever!

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Infiel de Ayaan Hirsi Ali, uma Autobiografia de Arrepiar! https://blogdosaber.com.br/2023/02/15/infiel-de-ayaan-hirsi-ali-uma-autobiografia-de-arrepiar/ https://blogdosaber.com.br/2023/02/15/infiel-de-ayaan-hirsi-ali-uma-autobiografia-de-arrepiar/#respond Wed, 15 Feb 2023 11:26:38 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=577 Ler mais]]> Hoje é quarta-feira e é dia de DICA DE LIVRO.

A DICA DE LIVRO de hoje é INFIEL de Ayaan Hirsi Ali.

Talvez a melhor biografia que eu já tenha lido na minha vida.

Uma história de vida de arrepiar qualquer um.

Nesses dias de tanto questionamento sobre igualdade de gêneros um exemplo de uma verdadeira guerreira, uma heroína.

Em novembro de 2004, o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino.

Que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava sua próxima vítima:

Ayaan Hirsi Ali, que fizera ao lado de Theo o filme Submissão , sobre a situação da mulher muçulmana.

E assim essa jovem exilada somali, eleita deputada do parlamento holandês e conhecida na Holanda por sua luta pelos direitos da mulher muçulmana.

Por suas críticas ao fundamentalismo islâmico, tornou-se famosa mundialmente.

No ano seguinte, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes do mundo.

Como foi possível para uma mulher nascida em um dos países mais miseráveis e dilacerados da África chegar a essa notoriedade no Ocidente?


Em Infiel , sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida,.

Desde a infância tradicional muçulmana na Somália, até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente.

É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade.

Surras frequentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura do crânio.

É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente.

Era um importante opositor da ditadura de Siad Barré: a família fugiu para a Arábia Saudita, depois Etiópia, e fixou-se finalmente no Quênia.


Obrigada a frequentar escolas em muitas línguas diferentes.

Conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia (onde as mulheres não saíam à rua sem a companhia de um homem) à mistura cultural do Quênia.

A adolescente Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade.

Mas a guerra fratricida entre os clãs da Somália e a perspectiva de ser obrigada a casar com um desconhecido escolhido por seu pai.

Conforme uma tradição que ela questionava, mudaram a sua vida.

Ela acabou fugindo e se exilando na Holanda.

Ayaan descobre então os valores ocidentais iluministas da liberdade, igualdade e democracia liberal.

Passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo.

Concentrando-se especialmente na situação de opressão e violência contra a mulher na sociedade muçulmana.

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Um artigo para reflexão: Padrão https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/um-artigo-para-reflexao/ https://blogdosaber.com.br/2022/11/30/um-artigo-para-reflexao/#respond Wed, 30 Nov 2022 21:26:45 +0000 http://blogdosaber.com.br/?p=102 Ler mais]]> Padrões que são definidos pela sociedade

Na coluna de ponta-cabeça desta segunda-feira, Deborah Braga faz uma reflexão sobre os padrões que são definidos pela sociedade e questiona o que é normal, em padrão. Convido o leitor a ler, refletir e tirar as suas próprias conclusões.

Toda vez que pronuncio a palavra normal, pergunto-me se era realmente isso o que eu queria dizer. Porque normal é absolutamente relativo. E, de fato, depende do seu referencial. Claro que existe todo um aspecto cultural e de legislação por trás de cada um de nós. Mas certos comportamentos saem completamente do escopo cultural ou constitucional. Ou até mesmo ético.

Por exemplo, usar uma meia diferente da outra em cada pé, simultaneamente. Alguém diria, certamente, que elas estão trocadas. Mas quem definiu que elas estão trocadas? Talvez, a indústria viu por bem fabricar meias aos pares, já que temos dois pés? Mas as meias não se diferenciam por pé, correto? E se a indústria optou por fabricar meias aos pares com o intuito de vender sempre pelo menos duas meias e, portanto, sempre faturar mais?

O que eu poderia fazer com uma única meia? Usá-la com qualquer outra que eu achasse bonita. Afinal, quem define como devo me vestir? A indústria da moda define padrões, lança-os para a sociedade e, sublinarmente, afirma que se você não se veste assim ou assado, você não está combinando ou não está em harmonia ou não está de acordo.

De fato, quando vemos o Falcão vestido daquele jeito, parece assustador. Mas vamos fingir que não existem padrões ou que os padrões, agora, são vender meia em unidade e usar cores chamativas com xadrez, listrado, tudo misturado (inclusive, um pouco disso já tem voltado como “tendência” no mundo da moda, não é mesmo?). Será que continuaríamos vendo o Falcão da mesma forma? E, mais, será que esse personagem existiria? Ou será que existiria, mas ele se vestiria segundo os padrões atuais? E o brega, na verdade, seria a forma como os “normais” se vestem hoje?

Algumas pessoas afirmam que ser heterossexual é obviamente o normal porque só o homem e a mulher juntos podem reproduzir. Partindo-se do princípio de que a Terra precisa ser povoada, até pode ser sensato pensar na heterossexualidade como normalidade. Mas digamos que as afirmações preocupantes sobre a redução dos recursos naturais e a superpopulação mundial sejam verdadeiras. Não seria sensato pensar que deveríamos reduzir as nossas procriações? E que, talvez, o homossexual, agora tenha um papel fundamental nesse freio reprodutivo? E que, talvez, o homossexual também seja uma solução para uma redução acelerada dos órfãos no mundo?

Sabe por que ficamos abasbacados com a autenticidade das crianças? Porque elas ainda não entendem de padrões. Ou, pelo menos, não completamente. Se você nunca colocar açúcar no suco de uma criança, ela vai entender que aquele é o sabor normal do suco e quando ela experimentar um suco adoçado, irá estranhá-lo e, provavelmente, reprová-lo. Se você nunca diferenciar uma pessoa negra de uma pessoa branca na frente de uma criança, ela vai entender que o branco e o negro se distinguem exatamente da mesma forma que todas as pessoas são diferentes umas das outras. Se você nunca fizer distinção entre feio e bonito na frente de uma criança, ela somente julgará a beleza pela essência.

Ah, as crianças! Não erraram ao afirmarem que as crianças são o futuro. Já, nós, adultos, estamos fadados ao padrão.

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