Arquivos excesso - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/excesso/ Cultura e Conhecimento Mon, 19 Jun 2023 13:25:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 A fragilidade dos sexos na era do empoderamento feminino e das “machosferas” https://blogdosaber.com.br/2023/06/20/a-fragilidade-dos-sexos-na-era-do-empoderamento-feminino-e-das-machosferas/ https://blogdosaber.com.br/2023/06/20/a-fragilidade-dos-sexos-na-era-do-empoderamento-feminino-e-das-machosferas/#respond Tue, 20 Jun 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1745 Ler mais]]> A gigante acordou

O empoderamento da mulher nas sociedades atuais tem mudado conceitos e evidenciado extremismos. Apesar dos números referentes ao feminicídio e à violência doméstica voltada para a mulher terem aumentado nos últimos anos, a valorização das conquistas do feminino segue no mesmo ritmo. Isso seria uma resposta das mulheres aos casos policiais ou os casos policiais seriam uma resposta dos homens a esse empoderamento? Ou, ainda, teriam os casos policiais apenas mudado de nomenclatura, de homicídio para feminicídio?

Enquanto as mulheres têm descoberto e exercido um poder que elas não faziam ideia que tinham dentro das sociedades patriarcais, os homens simplesmente não sabem o que fazer em relação a isso. Dentro de uma sociedade fálica, aos sexos são atribuídas tarefas, papéis e trejeitos diferentes. Quando o poder é dado ao sexo que não o possuía, existe algo de excitante. Já quando ele é retirado daquele que o possuía, existe algo de frustrante.

Sexos frágeis

As mulheres excitadas querem cada vez mais o que elas descobriram e os homens frustrados, em contrapartida, estão apavorados. Alguns, mais passivos, vão tentar entender o que se passa e, quem sabe, adaptar-se a essa nova mulher. Já outros, mais ativos e dominadores, vão entrar na negação do fato.

Mas, de fato, não é fácil ser homem ou mulher. Talvez, nunca tenha sido. Todos nós, antes de mais nada, somos seres humanos. Seres reprimidos, traumatizados, que têm dúvidas, que se contradizem. Nós somos vulneráveis, sejam os passivos sejam os ativos. O empoderamento da mulher possui pelo menos dois pontos de fragilidade:

  1. Por enquanto, em termos gerais, a mulher tem sido poderosa apenas para ela mesma. Enquanto os homens não entenderem ou se adequarem ao novo papel da mulher na sociedade contemporânea, esse papel continuará sendo negligenciado nas esferas políticas, sociais, profissionais e pessoais;
  2. Nesse novo papel, a mulher também se acha perdida, assim como os homens. É difícil definir até que ponto elas podem ou devem ir. É aquela história de quando o poder sobe à cabeça. “Posso me vestir como eu quiser!”. Mas será que é bem assim?
Direitos e deveres

Configura o crime de ato obsceno, a “manifestação de cunho sexual praticada em local público ou aberto ao público, capaz de ofender o pudor médio da sociedade”. Pudor médio da sociedade. O que isso quer dizer? Muitas coisas! A variar com a perspectiva de cada um. Mas pensando no “mediano” e que a sociedade brasileira é constituída em maior parte por pessoas educadas a partir de uma fé religiosa de natureza cristã, poderíamos dizer que o ato de andar pelas ruas despido, semidespido ou evidenciando genitálias ou zonas erógenas configuraria crime? É provável, não? Mas, na contramão disso, as mulheres vão se vestindo de forma cada vez mais erotizada. E, pasmem, elas não são penalizadas por isso.

Mas os deveres não deveriam ser iguais também? Pois é. É nesse ponto, por exemplo, que a coisa é desvirtuada. Ou melhor dizendo, distorcida. Passar a ter poder significa ter mais poder que o outro? Não deveria, certo? Não, se o discurso é “direitos iguais”. Poderíamos estar falando de abuso de poder, então?

Parece que os excessos levam ao nada

É provável que o “abuso” por parte das mulheres seja o principal fator que contribui para a formação de “machosferas” como a Red Pill, grupos de homens com pensamento conservador, que denigrem a mulher em seu novo papel, e com maioria decidida a não ter mais relacionamentos duradouros com elas. Ou seja, é a contraofensiva. Afinal, grupos reativos só surgem a partir de movimentos radicais. Da mesma forma, a alta no número de feminicídios pode também estar ligada a essa contraofensiva.

Ou não. Talvez, esse número apenas esteja aos poucos se tornando oficial. Antes do poder, as mulheres simplesmente aceitavam o que estava determinado pela sociedade para elas. Raras se separavam ou pediam o divórcio. Mas, com a criação de leis voltadas para mulheres e as redes sociais para propagar os absurdos sofridos por elas, perceberam que unidas eram mais fortes. Com os depoimentos vindo à público, outras mulheres vão se sentindo mais à vontade ou seguras para também contarem as suas próprias histórias e para se imporem.

Por um ou por outro, o fato é que todos estamos tendo que lidar com mudanças extremamente significativas: o abuso de poder das mulheres, a contraofensiva masculina, a desconstrução do masculino e do feminino e ainda o abuso de poder dos homens, nas mais diversas esferas da sociedade. É um momento confuso e cada um busca reencontrar o seu próprio papel. É como se estivéssemos, nesse momento, desrotulados e, por mais que ainda haja quem tente dar rótulos, eles simplesmente não cabem em nós. Não mais. Somos como peixes fora da água, mas à margem dela. Temos tudo e não temos nada. Somos tudo e não somos nada.

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Vício: quando o conforto tem efeitos colaterais https://blogdosaber.com.br/2023/05/23/vicio-quando-o-conforto-tem-efeitos-colaterais/ https://blogdosaber.com.br/2023/05/23/vicio-quando-o-conforto-tem-efeitos-colaterais/#respond Tue, 23 May 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1555 Ler mais]]> Drogas lícitas e ilícitas

Algumas substâncias proibidas acabam tendo livre comercialização quando vendidas em formatos alternativos. Com as brechas na legislação, é possível fazer uso de algumas drogas sem ter que, digamos, esconder-se. Esse é o caso dos cogumelos psicodélicos, cujo componente alucinógeno é proibido, mas vendidos in natura atendem a lei.

Estudiosos apontam para um aumento do consumo dos fungos alucinantes juntamente com a maconha e elegem a divulgação dessas drogas, através de debates de descriminalização ou de séries documentais em plataformas streaming, como catalisador dessa onda de euforia.

Bom, acho que estamos esquecendo de citar aqui também as bebidas alcoólicas, certo? Pois é, apesar dos inúmeros casos de alcoolismo e de acidentes fatais envolvendo pessoas sob o efeito do álcool, este segue ileso e sendo fabricado a todo vapor. Mas, se seguirmos nesse raciocínio, podemos ir longe. Podemos citar o cigarro e, inclusive, os alimentos com excesso de sódio, gordura ou açúcar. Afinal, o que tem todos esses itens em comum? Eles são todos viciantes.

Compulsão à repetição

Entre liberação de dopamina e aumento dos níveis de opioides num organismo, ainda existe muito a ser desvendado. Mas o simples fato observável de tendermos a salivar e comermos compulsivamente ao vermos, sentirmos o cheiro ou colocarmos um pedaço de picanha gordurosa, uma empada ou um salgadinho ultra processado na boca é inegável. Por isso, esses alimentos têm sido comparados a algumas drogas, como o álcool e o cigarro. Drogas estas legalizadas.

Somado a isso, os alimentos mais viciantes são justamente aqueles que nos remetem as nossas infâncias: chocolates, docinhos, bolos, salgadinhos, salgados fritos e de forno, refrigerante. Isso tudo lembra ou não lembra uma festinha de criança? Pois é, esses são os alimentos mais fáceis de agradar as nossas papilas gustativas. Por isso é comum se dizer que uma pessoa tem paladar de criança quando só gosta de comer “porcarias” ou quando, por exemplo, mete um ketchup nos alimentos para disfarçar o sabor deles.

Conexão alimento-lembrança
Garoto se deliciando com um doce

Na Psicanálise, sempre nos referimos à infância porque é uma época em que normalmente somos cuidados por alguém. Tem alguém para nos alimentar e para nos dar colo, aconchego. Alguém que olha constantemente para nós. A infância, em grande parte dos casos, é um cenário seguro, pelo menos, até onde vai o nosso entendimento enquanto crianças.

Reviver sabores e odores da infância é mais que nostálgico. É real. Para a nossa psique, trata-se de uma realidade instantânea. Uma realidade onde nos sentimos seguros, mesmo que seja apenas por alguns minutos. Por isso combinar momentos de insegurança com alimentos que nos remetem lembranças felizes pode acabar funcionando como uma faca de dois gumes: conforta, mas a questão é “por quanto tempo necessitaremos permanecer nessa zona de conforto?”

Quando falamos de alimentos viciantes ou drogas, entramos na mesma região de perigo. No entanto, os excessos normalmente são cometidos quando nos encontramos em estados de fuga. Ou seja, quando a realidade é dura demais para conseguirmos lidar com ela. Sendo importante ressaltar aqui que as dificuldades dependem de um referencial, elas são relativas. Ninguém está apto a classificar as dificuldades dos outros, apenas as suas próprias.

Atenção!

Nos momentos difíceis, raramente, nos daremos conta dos nossos excessos, embora haja formas de tentar reduzir os estragos: mantendo uma alimentação saudável e evitando ter as “tentações” acessíveis, por exemplo. Claro que, para alguns, tratar-se-á de uma necessidade esporádica, mas, para outros, manter uma alimentação saudável e evitar as “tentações” podem ser tarefas que requerem uma energia descomunal. Neste caso, a procura por um profissional da saúde mental se faz necessário.

Os altos e baixos fazem parte das nossas jornadas, da excitante vida moderna construída dentro de um sistema capitalista. O que devemos avaliar é quanto permanecemos num pico ou quanto permanecemos num vale. E ainda mais importante: o quanto esses picos e vales nos afetam emocional e fisicamente.

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