Arquivos complexo de édipo - Blog do Saber https://blogdosaber.com.br/tag/complexo-de-edipo/ Cultura e Conhecimento Mon, 16 Oct 2023 23:34:16 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.3 Sexo, gênero e psicanálise https://blogdosaber.com.br/2023/10/17/sexo-genero-e-psicanalise/ https://blogdosaber.com.br/2023/10/17/sexo-genero-e-psicanalise/#respond Tue, 17 Oct 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=2828 Ler mais]]> Cirurgia trans

Em Sex Education, série britânica da Netflix, o tema “transgênero” é abordado com bastante naturalidade, em especial, na sua quarta e última temporada. Mas essa é uma questão com muitas polêmicas que envolvem discussões, inclusive, sobre a disponibilidade cirúrgica nas redes públicas de saúde em todo o mundo.

As primeiras cirurgias de “mudança de sexo” datam dos anos 1930. Na Inglaterra, a clínica Tavistok, do sistema público e alvo recente de polêmicas, anunciou o encerramento de suas atividades, depois de 30 anos tratando de crianças e adolescentes que não se identificam com o seu sexo biológico, através de acompanhamento psiquiátrico e psicológico, manipulação hormonal e intervenção cirúrgica. Para saber mais, acesse Inglaterra. Crianças transgênero: por que a clinica Tavistok vai fechar.

No Brasil, a primeira operação de redesignação sexual pelo SUS foi realizada em agosto deste ano numa mulher trans, bailarina e professora de dança de 47 anos. Yohanna de Santana vinha sendo acompanhada desde 2018. Dentre os critérios adotados para a realização dos procedimentos cirúrgicos pelo Ministério da Saúde, estão: idade mínima de 21 anos e, pelo menos, dois anos de acompanhamento psicológico. Para saber mais, acesse Bahia faz primeira cirurgia de redesignação sexual pelo SUS.

Eu sou o monstro que vos fala
Pintura de um Frankenstein ativista em muro

Paul B. Preciado é um homem trans, filósofo, escritor e um dos principais pensadores contemporâneos das novas políticas do corpo, de gênero e de sexualidade. Ele é o autor do livro “Eu sou o monstro que vos fala: Relatório para uma academia de psicanalistas”. No final de 2019, Paul foi convidado a participar da Jornada Internacional da Escola da Causa Freudiana em Paris. O tema era “Mulheres na psicanálise” e ele acabou discursando para 3500 psicanalistas. 

O discurso de Paul trazia certo ressentimento quanto à abordagem psicanalítica supostamente arraigada à epistemologia da diferença sexual e, portanto, ao regime patriarco-colonial. Bom, tendo em vista os seus 17 anos de análise pessoal, assim como as diferentes visões da psicanálise nos mais diversos países, com seus posicionamentos quanto à análise leiga, por exemplo, poderíamos considerar, de fato, esse “suposto saber”. 

Considerando ainda Freud e Lacan ao pé da letra, com os seus respectivos “Complexo de Édipo” e “confusão do órgão com o significante”, também é plausível a reclamação de Paul. No entanto, é importante termos em mente que nem o nascimento da psicanálise nem a sua proposta nunca foi e nunca será calcada no “pé da letra”, no palpável. A psicanálise sequer pensava em brotar quando Hegel, Descartes, Kant já preparavam o terreno.

Mas, afinal, o que é Psicanálise?

A psicanálise é filosofia, subjetividade, não determinação. Por trás do Complexo de Édipo, há um matema com variáveis desconhecidas, que podem mudar à medida que o tempo passa. Por que não? Se Freud deixou isso claro? Mas, afinal, o que fica claro na psicanálise? Além disso, não podemos esquecer que Freud, Lacan, Preciado são apenas homens. Homens com opiniões, homens de tempos diferentes, que ora fazem sentido ora não. 

No frigir dos ovos, a psicanálise trata de procurar formas de sobreviver, sendo todas elas possíveis, contanto que o sujeito dê conta. Não é disso, afinal, que se trata? Desde quando a psicanálise precisa de uma epistemologia, se o que conduz a análise é o desejo do sujeito?

E o discurso diz respeito a quem?

É possível ver no discurso de Paul Preciado um discurso, que não se encaixa apenas na comunidade trans, mas que cabe a todos nós, que tentamos sobreviver numa sociedade, numa civilização. Todos nós nos debatemos todos dias a fim de encontrar saídas, para que nos sintamos um pouco menos desconfortáveis diante de expectativas, pessoas e normas julgadoras. 

Citação de Preciado extraída de “Eu sou o monstro que vos fala” (pág. 89-90):

Digo isso a partir da minha posição de homem trans, de corpo não binário que se transformou para poder sair de sua antiga ‘jaula’ e sobreviver inventando, dia após dia, e de modo precário, outras práticas de liberdade.

Todos tentamos. Sair da jaula. Ter mais liberdade. Seja com as nossas sublimações, explosões, solidões, análises, transformações, escolhas difíceis. Seja com os nossos fracassos.

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Gêneros: do Complexo de Castração a uma análise combinatória de personalidades https://blogdosaber.com.br/2023/07/11/generos-do-complexo-de-castracao-a-uma-analise-combinatoria-de-personalidades/ https://blogdosaber.com.br/2023/07/11/generos-do-complexo-de-castracao-a-uma-analise-combinatoria-de-personalidades/#respond Tue, 11 Jul 2023 09:30:00 +0000 https://blogdosaber.com.br/?p=1917 Ler mais]]> Como a homossexualidade se encaixa no Complexo de Édipo?

Por algum tempo, a Psicanálise tratou a homossexualidade como uma espécie de disfunção. Afinal, ser homossexual implicava dizer que se estava, digamos, na contramão do Complexo de Édipo, que acabava se baseando em características consideradas tipicamente femininas ou tipicamente masculinas. Bom, mas isso não deixa de ser verdade, tendo em vista que a ideia do Complexo de Castração foi construída em cima de uma sociedade patriarcal.

Hoje, a Psicanálise olha para esse esquema não mais pensando nos sexos biológicos envolvidos, mas nas personalidades por si sós dos indivíduos que constituem a unidade familiar. O que isso quer dizer? Que mesmo ainda estando dentro de uma sociedade fálica, as coisas já não funcionam mais como um dia funcionaram. O homem e a mulher possuem papéis mais diversificados. E, por isso, existe uma maior gama de opções para a construção das personalidades bem como uma maior tolerância aos diferentes tipos de sentimentos. Isso resulta, portanto, em uma maior variação por identificações, inclusive, de gêneros.

De ponta cabeça

O homem chora e a mulher sustenta a casa. O homem fica apaixonado e a mulher fica poderosa. Os papéis se invertem, descontroem-se, remodelam-se. Para ler mais sobre, acesse também A fragilidade dos sexos na era do empoderamento feminino e das “machosferas”.

A figura materna continua sendo aquela mais importante nas nossas vidas, é aquela dos primeiros encontros das nossas vidas. Mas ela já não necessariamente é mais a mãe. Pode ser um pai, uma avó, um irmão mais velho. Os núcleos familiares já não são mais um homem e uma mulher que geraram a criança necessariamente. Pode ser uma mãe solteira, um pai viúvo, avós com vários netos ao mesmo tempo. Sem falar nos seus mais diversos gêneros.

O que eu quero dizer com tudo isso é que não existe mais um modelo padrão de família e, ainda, que o tradicional já não representa mais a maioria. Com a emancipação das mulheres, o direito ao divórcio, o reconhecimento do casamento gay e da adoção para casais homoafetivos, um mundo de possibilidades invade a casa das famílias convencionais.

Combinação Simples
Exemplo de combinação de dois dados

Na matemática, dentro de Análise Combinatória, estudamos Combinação, que são os subconjuntos formados a partir de um número de elementos que constituem o conjunto em si. Em outras palavras, são todas as combinações possíveis, por exemplo, de dois dados: 1-1, 1-2, 1-3, 1-4, 1-5, 1-6, 2-1 e assim por diante. Dois dados geram 36 possíveis combinações. Quando incluímos mais um dado, esse número sobe para 216. Onde quero chegar?

No século XVIII, as famílias eram usualmente constituídas por uma mãe que se dedicava exclusivamente aos filhos e ao marido, numa posição tipicamente submissa, passiva, enquanto que o homem era o provedor, numa posição ativa e cheia de regalias. As regras eram rígidas e, portanto, limitavam as expressões individuais. Não havia muitas opções de estilos de vida. Na verdade, o destino era predeterminado no nascimento ou na descoberta do sexo do bebê.

A grosso modo, a psique de um sujeito se constitui a partir da combinação das personalidades dos seus responsáveis, tendo como pano de fundo o meio em que ele cresce. Fazendo uma analogia com a matemática, quantas mais pessoas estiverem envolvidas diretamente nessa formação, com as mais diferentes orientações sexuais e nos meios os mais heterogêneos – entrando em questão: lares diferentes, realidades sociais diferentes, acessos facilitados às tecnologias e às oportunidades de carreira -, maior será o número de combinações possíveis. Bom, essa pode ser uma explicação para a evolução do LGBT para o LGBTQIA+.

Jogo de sorte

A Análise Combinatória pode ser também uma justificativa para o fato de não haver uma predeterminação, de não existir uma receita, de aceitarmos que não há como prever que alguém será assim ou assado e que terá preferência por isso ou aquilo. É claro que podemos tentar a Probabilidade e definir que existe um número de casos favoráveis em relação ao total de casos possíveis. Mas é como qualquer jogo de azar. Ou melhor, neste caso, é um jogo de sorte. Afinal, uma coisa é certa: tornamo-nos sempre a melhor versão do que podemos ser.

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