Prefeitura de Natal decide cancelar carnaval de rua
Município diz que decisão se deu em virtude dos índices crescentes dos atuais quadros virais e que decisão era inevitável.
Por g1 RN
Último dia de shows no carnaval de Natal em 2020 — Foto: Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi
A prefeitura de Natal comunicou na noite desta quarta-feira (12) que decidiu cancelar o carnaval de rua na capital potiguar em 2022. De acordo com o município, a decisão aconteceu “em virtude dos índices crescentes dos atuais quadros virais relacionados à Covid-19 e à gripe Influenza”.
Segundo o prefeito Álvaro Dias (PSDB), a decisão atende a recomendações do comitê científico do município e de técnicos da Secretaria Municipal de Saúde, que usaram como base os cerca de 600 atendimentos por dia nos dois Centros de Enfrentamento às Síndromes Gripais, que funcionam desde dezembro.
“Tendo em vista que os índices de pessoas acometidas pelo coronavírus com essa nova variante ômicron, e também das síndromes respiratórias virais na nossa cidade, que tem aumentado constantemente, o comitê científico de Natal voltou a se reunir hoje [quarta-feira] e decidiu cancelar o carnaval na cidade”, disse Álvaro Dias.
“Seguindo o exemplo de cidades que tem o carnaval consolidado, como Rio de Janeiro, Salvadore Olinda, vamos pensar e entender que a grande prioridade de qualquer gestor deve ser zelar pela saúde pública e pela vida de seus munícipes”
Prefeito de Natal anuncia cancelamento do carnaval de rua
Sobre os eventos privados, o prefeito disse que vai ter novas reuniões com o comitê científico para definição.
Com o cancelamento do carnaval de rua, a prefeitura disse em nota que entende que essa medida preventiva vai “preservar vidas e prestar a melhor assistência em saúde à população da cidade”.
“Realizar o Carnaval iria de encontro a esse princípio. Primeiro, pelo alto potencial do evento de mobilizar grandes públicos e, consequentemente, por ampliar os riscos de uma maior propagação das doenças que hoje afetam a cidade ao mesmo tempo”, pontuou a nota.
A nota reafirma ainda que, após os debates, a conclusão é de que o cancelamento da programação carnavalesca “não é apenas necessário, mas inevitável”.
Na coluna ANÁLISE POLÍTICA deste sábado, aqui no Blog do Saber você vai assistir a mais um comentário político do super competente R4odrigo Constantino, que trata da tentativa de cancelamento e linchamento dos Sleeping Giants sobre Guilherme Fiuza, jornalista e comentarista de Os Pingos Nos Is. Assista ao vídeo completo, reflita e tire suas conclusões.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), anunciou nesta terça-feira (4) o cancelamento do Carnaval de rua da cidade. A informação foi dada pelo prefeito durante live nas redes sociais. A Prefeitura se reuniu nesta terça com representantes da Associação Independente dos Bloco da cidade (Sebastiana) para discutir o tema.
“Acabei de ter, nesse momento, uma reunião com o pessoal dos blocos de rua, e a gente comunicou a eles que o Carnaval de rua, nos moldes que eram feitos até 2020, não acontecerá em 2022. Infelizmente, eu falo aqui como prefeito que gosta de Carnaval, como cidadão, e infelizmente a gente não pode fazer.”
“Propus que nós levássemos esses blocos para três pontos da cidade onde nós pudéssemos estabelecer controle, como passaporte vacinal, testagem, e gratuitamente oferecesse um carnaval, para manter a cadeia produtiva dos blocos, o dinheiro que gera, as pessoas que emprega, e ao mesmo tempo permitir que a população pudesse desfrutar de um carnaval de graça, sem nenhum tipo de cobrança.”, explicou.
Ainda de acordo com Paes, os lugares seriam no Parque Olímpico, na zona oeste do Rio, Parque Madureira, e outro ponto ainda em definição. A liga dos blocos de rua tem até esta sexta-feira (07) para fazer uma contraproposta para o modelo alternativo da realização dos desfiles.
Sobre os desfiles das escolas de samba, a ideia da prefeitura é transferir os protocolos sanitários dos estádios de futebol para a Sapucaí, assim como as festas fechadas para a realização dos desfiles dos blocos, com controle de público e exigência do passaporte de vacinação.
Ainda na live, o prefeito informou que houve um aumento também na taxa de positividade dos testes para a Covid-19. Na cidade, o número subiu de 9,6% para 13% nas últimas semanas. A cidade já possui três casos confirmados da variante Ômicron, e investiga outros 180 casos suspeitos.
Esse é o segundo ano consecutivo que a cidade não recebe a tradicional festa popular, que é responsável pela importante movimentação econômica do estado. Segundo dados da Subsecretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, o Carnaval gera um impacto econômico de R$ 2,2 bilhões de reais na economia da cidade do Rio de Janeiro, deixando um retorno aos cofres públicos de aproximadamente R$ 155 milhões de reais em tributos municipais, estaduais e federais recolhidos durante o evento.
Após cancelamento de shows do réveillon, programação do Natal em Natal ganha novas atrações
Cavaleiros do Forró e Walkyria Santos estão entre as novidades. Prefeitura disse que shows acontecem com base em parecer do comitê científico e que, para o réveillon, foi considerado o potencial de aglomeração dos shows musicais na virada de ano.
Por g1 RN
20/12/2021 19h02 Atualizado há 10 horas
Árvore de Mirassol, Natal em Natal — Foto: Alex Régis/Prefeitura de Natal
A prefeitura de Natal acrescentou shows musicais à programação do Natal em Natal neste fim de ano. Mesmo depois de cancelar as apresentações do réveillon, o município acertou com outros artistas para se apresentarem.
Entre as novas atrações, estão a banda Cavaleiros do Forró, que se apresenta no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, na Árvore de Mirassol, e a cantora Walkyria Santos, que canta no dia 23 de dezembro na rua Atol das Rocas, Potengi, na Zona Norte.
Os dois artistas não constavam na programação inicial do Natal em Natal, divulgada em novembro. As apresentações também não estavam incluídas no site do evento até a última atualização desta reportagem.
No dia 1º de dezembro, a prefeitura decidiu cancelar os shows de música que ocorreriam no réveillon como uma medida de prevenção à Covid e às novas variantes. Os novos shows foram contratados após essa decisão. A queima de fogos, que também havia sido cancelada, foi retomada recentemente
Prefeitura de Natal volta atrás e confirma queima de fogos na virada o ano
Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura/Fundação Cultural Capitania das Artes (Secult/Funcart) informou que a realização desses novos shows se dá com base em um parecer do comitê científico do município.
O órgão disse que o cancelamento dos eventos de fim de ano ocorreram porque “com o show pirotécnico realizado na Ponte-Forte-Redinha, o poder de aglomeração dos shows musicais numa virada de ano passa a ser bem maior, fator que foi considerado na decisão”.
A pasta disse ainda que os shows mencionados já estavam previstos desde o lançamento do Natal em Natal.
O Diário Oficial do Município (DOM), no entanto, mostra o contrato do show do Cavaleiros do Forró publicado no dia 10 de dezembro por R$ 60 mil – após, inclusive, o cancelamento do réveillon. O da cantora Wakyria Santos foi publicado no dia 16, por R$ 29 mil.
Programação
Árvore de MIrassol
Na Árvore de Mirassol, a programação vai de quarta (22) até domingo (26). Na quarta tem a banda Panka de Bakana, às 19h, e Leo Sambalaio, às 21h.
Na quinta-feira (23) tem o espetáculo Presente de Natal com atores potiguares, às 19h. Após a apresentação, tem show de Felipe Toca, às 21h.
No dia 24, tem o Cortejo de Natal do Renascimento, às 19h, que percorre as ruas do bairro, seguido do Presente de Natal às 20h, e shows de Amazan, 21h, e Cavaleiros do Forró, 22h30.
No dia 25 tem a segunda apresentação do Cortejo de Natal do Renascimento, seguido do Presente de Natal. Depois, Padre Caio Sanfoneiro, às 21h.
E no domingo (26), shows de Banda Sinfônica & Convidados (Talma Gadelha e Dodora Cardoso) e fechando a noite, às 21h, tem Dias Blue.
Rua João Pessoa
Nesta segunda (20), sobem ao palco Café Quarteto (16h) e Nailson (17h). Na terça-feira (21) é a vez do de Roberto do Acordeon (16h) e JN Explode. Na quinta tem a apresentação de dança e canto “Não tem Pé nem Cabeça” (16h) e os poetas violeiros Felipe Pereira e Amâncio Sobrinho (17h) Na quinta-feira (23), shows de Fuxico de Feira e Kanelinha (das 16h às 18h).
Zona Norte
Os shows acontecem na rua Atol das Rocas, Potengi. Na quarta (22), tem shows de Aduilio Mendes, Lito Lins e Tonny Farra. Na quinta (23) é a vez de Walkyria Santos, Ferro na Boneca e Chama de Menina.
PL confirma cancelamento do ato de filiação de Bolsonaro no dia 22
Partido Liberal divulgou nota neste domingo (14). Bolsonaro afirmou que ainda “há muito a conversar” sobre o assunto
Thais Arbex
Atualizado 14/11/2021 às 15:29
A filiação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Partido Liberal (PL) foi adiada após comum acordo entre ambos, confirmou uma nota divulgada pelo partido neste domingo (14). Pouco depois de a CNN publicar o documento, o PL divulgou uma nova nota reiterando a alteração do cronograma.
“Após intensa troca de mensagens na madrugada deste domingo 14 com o presidente Jair Bolsonaro, decidimos, em comum acordo, pelo adiamento da anunciada cerimônia de filiação”, afirma a nota assinada pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto.
“Portanto, a data de 22 de novembro foi cancelada, não havendo, ainda, uma nova data para o compromisso de filiação”, conclui o comunicado.
Antes da divulgação do informe, Bolsonaro havia comentado que “ainda há muito o que conversar” com o partido para cravar um dia para a cerimônia de filiação.
Em Dubai, Bolsonaro confirmou que a nota do PL foi divulgada após combinado com Valdemar Costa Neto. A jornalistas, o presidente disse ser “difícil” viabilizar a filiação para acertar o que chamou de “casamento” com a sigla, e afirmou ainda ter “muita coisa a conversar” antes do ato de filiação.
De acordo com o presidente, é necessário alinhar pautas “conservadoras, nas questões de interesse nacional, na política em relação ao exterior, na questão de defesa também” que, segundo ele, estão caminhando bem até o momento.
“É um casamento que precisa ser perfeito. Se não for 100%, que seja 99%. É essa a ideia. É isso que o povo espera de todos nós”, afirmou. “Eu acho difícil essa data de 22 [de novembro]. Estamos conversados de comum acordo que podemos atrasar esse casamento um pouco pra que ele não comece sendo muito igual aos outros”, disse Bolsonaro.
Um dos requisitos citados por Bolsonaro para cravar a filiação é o partido não apoiar “alguém do PSDB” nas eleições em São Paulo, onde ele afirmou não ter candidato ainda – apesar de ter mencionado o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, como uma possibilidade.
“Sabemos da importância de termos duas bancadas na Câmara e no Senado. Mas também de fechar com governadores que possam ser diferentes de muitos que estão aí no momento”, disse o presidente.
A França disse na sexta-feira (17) que iria convocar seus embaixadores de Washington e de Canberra para consulta sobre o acordo de segurança trilateral também envolvendo a Grã-Bretanha que afundou a demanda multibilionária por submarinos franceses.
“O presidente Biden pediu para falar com o presidente da República e haverá uma conversa entre eles nos próximos dia”, disse Gabriel Attal, porta-voz do governo francês, ao canal de notícias BFM TV. A França está buscando “esclarecimentos” sobre o cancelamento de uma demanda por submarino, disse Attal.
O sucateamento do contrato, firmado em 2016, causou a fúria do governo francês, que afirma não ter sido consultado por seus aliados. O governo australiano, no entanto, diz ter deixado suas preocupações claras durante meses.
Após o “choque” inicial do cancelamento, as discussões precisariam ocorrer sobre cláusulas contratuais, com compensação para o lado francês, acrescentou Attal.
O Ministério da Saúde notificou na manhã deste domingo a Precisa Medicamentos para se manifestar sobre o interesse da pasta de romper o contrato para a aquisição de vacinas Covaxin.
A notificação é o primeiro passo para o cancelamento do contrato pela pasta, antecipado na sexta-feira pela CNN. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu rescindir o contrato após o anúncio feito na sexta-feira pela manhã pela Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, de que a Precisa não era mais sua representante no Brasil em razão da adulteração em documentos entregues ao ministério para que o contrato fosse celebrado.
Na notificação encaminhada neste domingo, o Ministério da Saúde apresentou à empresa as justificativas para a rescisão e pede que ela se manifeste sobre o assunto. Foi a forma encontrada para dar segurança jurídica ao cancelamento.
A Precisa, conforme mostrou a CNN, contesta que seja a responsável pela adulteração. De acordo com a empresa, foi uma parceira da Bharat a responsável pelos documentos adulterados.
Por todo o país, cidades do Carnaval vivem tristeza e ‘rotina fora de época’
Fernanda Santana e Pedro Jordão e José Maria Tomazela, da Agência Estado
14 de fevereiro de 2021 às 17:46
Foto: Arquivo Agència Brasil + Divulgação
Sem confete, glitter ou trio elétrico nas ruas. Pela primeira vez, Elielson Suplício (o Léo Fissura), de 47 anos, observou pelas janelas, abriu a porta, percorreu quilômetros e não encontrou vestígio de carnaval. Até acordou perdido no fuso, em Salvador. “Não chorei por fora, mas por dentro”, diz o porteiro. É a primeira vez, que se tenha registro histórico, que o carnaval não acontecerá. E o cancelamento da grande festa popular, pela Covid-19, atinge os demais polos turísticos da folia espalhados pelo país.
É rotina fora de época. Osmar (no Campo Grande) – amanheceram e anoiteceram sem foliões. A prefeitura cancelou o ponto facultativo para evitar aglomerações. “O dia acordou estranho. Estou feliz por ter saúde, e não acho mesmo que deveria ter festa, mas o coração está partido”, disse Léo Fissura. Ele costuma sair os seis dias – pois o carnaval abriria oficialmente na quinta -, para seguir o trio de Bell Marques.
E para quem a festa significa sustento acordar sem planos de ir para a avenida, matar a sede e a fome dos foliões, foi ainda mais penoso. “Quase chorei”, diz a vendedora ambulante Derivalda Oliveira, de 57 anos, que trabalha há 15 no circuito Dodô. Um estudo da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia mostrou que, sem a folia, R$ 1,7 bilhão deixará de circular na cidade e 60 mil trabalhadores ficarão sem renda.
Um ano sem o Galo
No sábado (13, primeiro dia oficial da festa em Pernambuco, a cidade do Recife não teve o tradicional desfile do Galo da Madrugada e as ladeiras de Olinda ficaram silenciosas e desertas, em função dos decretos do governo Estadual, que visam a evitar aglomerações e proíbem até o comércio nos centros históricos.
Como em Salvador, artistas, blocos e bandas programaram lives para levar a folia ao público por redes sociais e canais de compartilhamento de vídeos. O plano era produzir vídeos com até 50 carnavalescos, mas até isso foi restringido. Na quinta o governo baixou norma limitando cada live a dez pessoas.
O folião Luiz Carlos Mendes, de 58 anos, relata que vai ao Galo da Madrugada há 40 anos, sem nenhuma exceção. “Faça chuva ou faça sol, estou lá. Já fui para o Galo com dengue diagnosticada pelo médico, que me deu 15 dias de repouso. Eu disse: doutor, 15 dias não dá, porque na próxima semana eu tenho o Galo. Ele disse que eu não podia ir e, mesmo assim, eu fui”, relata.
“Nunca perdi o Galo! E essa pandemia, essa falta do Galo, é como se houvesse tido uma amputação de alguma parte minha, está um vazio muito grande. Eu chorei muito, não tenho vergonha de dizer. Só de falar já fico emocionado”, afirmou Mendes.
Já as ladeiras de Olinda ficaram desertas ontem, sob vigilância policial. “Há poucas pessoas transitando, um silêncio nunca visto. Às vezes, uma ou outra pessoa passa cantando uma marchinha, levando vizinhos às lágrimas”, diz Meire Oliveira, de 63 anos, entristecida.
Como o comércio de rua e os shoppings vão funcionar amanhã e terça, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (Abrasel-PE) criou um festival gastronômico. “O turismo em Pernambuco teve uma receita de R$ 2,3 bilhões em 2020 e não sabemos o que vai ser deste ano”, disse o presidente, André Araújo.
Minas
Já as ondas de foliões que desciam e subiam as ladeiras de Ouro Preto, em Minas, também vão ficar na saudade, pelo menos este ano. A prefeitura cancelou o ponto facultativo entre os dias 15 e 17 e o carnaval presencial, considerado um dos melhores do país, está sem data.
No lugar, a prefeitura lançou o carnaval virtual “Beleza Pura”, em 2021. “Todos os blocos se dispuseram a contribuir conosco e fizeram lives que serão mostradas durante este período”, disse Felipe Guerra, secretário de Governo.
Paraitinga
As tradicionais marchinhas continuarão presentes este ano, em São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, mas sem os foliões que abarrotam a cidade. A prefeitura lançou o “Carnaval Virtual de Marchinhas”, que já escolheu as 16 composições que serão apresentadas em um canal do YouTube e na página da Viva Produções Culturais nas redes sociais.
As músicas foram compostas por artistas locais e de outras cidades paulistas e gravadas por bandas de apoio com número limitado de integrantes contratados pela organização.
Em sua 36ª edição desde que aboliu outros ritmos, permitindo somente marchinhas, o carnaval da pequena cidade do interior está entre os melhores do país. No ano passado, mesmo com limitações impostas pelo município à entrada de ônibus e vans, atraiu 80 mil foliões.
Os 25 blocos que tradicionalmente animam o Carnaval pretendem agora fazer uma ação neste período para valorizar a cultura carnavalesca local. Integrantes principais estarão se apresentando individualmente no centro histórico, sem a presença de público.
O destaque desta segunda-feira, aqui na coluna COMPORTAMENTO é a cultura do cancelamento da internet, que surgiu com a onda do politicamente correto se tornou a prática massiva do ato de apontar os erros que uma pessoa cometeu. Com o advento das redes sociais os cancelamentos passaram a acontecer no Twitter, no Facebook e no Instagram. Atinge a todos, mas principalmente os mais famosos. Te convido a ler o artigo completo a seguir para conhecer tudo sobre o assunto!
A cultura de cancelamento da internet
11 min de leitura
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Você conhece uma pessoa que já foi “cancelada”? Ou será que você é essa pessoa? Se você não tem o hábito de frequentar o ambiente virtual rotineiramente, talvez não entenda do que se trata o ato de “cancelar” uma pessoa.
Por outro lado, se você está sempre online, já deve ter identificado que os cancelamentos são bastante comuns em redes sociais como o Twitter, o Facebook e o Instagram. Em geral, eles acontecem com pessoas famosas, mas isso não é uma regra. Qualquer um está sujeito ao cancelamento.
Caso você não conheça esse termo, deve estar se perguntando o que é, na prática, disseminar o cancelamento virtual. O que acontece com a pessoa que é cancelada? Quem define quem será alvo desse processo? Para entender melhor essa questão, continue lendo o artigo!
O que é a cultura do cancelamento?
A cultura do cancelamento é, em termos simplificados, a prática massiva do ato de apontar os erros que uma pessoa cometeu. Ela acontece nas redes sociais, podendo incluir o uso de hashtags indicando o nome da pessoa que teve uma postura negativa e a ação que ela realizou. Uma vez que um indivíduo é cancelado, a sociedade deve, teoricamente, parar de apoiar essa pessoa ou de consumir o que ela produz.
Indicar os erros de alguém não seria um problema, mas o cancelamento ocorre de uma maneira que impede que o indivíduo que é alvo desse processo se posicione e conserte o próprio erro. Uma chuva de comentários negativos e de mensagens privadas é o que uma pessoa que está sofrendo um cancelamento pode enfrentar na melhor das hipóteses.
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Essa prática de denunciar os erros de alguém tornou-se comum em 2017, com o movimento #MeToo, a partir do qual mulheres passaram a expor os homens de alta visibilidade na sociedade que foram abusivos ou agressivos com elas. Nesse caso, os abusos não eram somente um “erro”, mas um crime. Muitos dos cancelamentos acontecem depois que crimes são denunciados, ainda que essa não seja a grande maioria dos casos.
Depois que muitos homens apontados pelo #MeToo começaram a ser vistos com outros olhos pela sociedade, a população mundial percebeu que expor e denunciar as situações de injustiça, os crimes ou os erros cometidos por alguém poderia gerar efeitos na vida real. Com a facilidade de compartilhar uma opinião e de mobilizar parte das redes sociais para uma causa, desenvolveu-se, então, a cultura do cancelamento.
Quem pode ser cancelado(a)?
As pessoas famosas ou com muita visibilidade nas redes sociais estão mais vulneráveis ao cancelamento. Isso acontece porque mais pessoas estão prestando atenção ao que elas fazem e dizem e, consequentemente, podem apontar possíveis problemas em falas e em atitudes que passariam despercebidas em um público menor.
Ainda assim, pessoas que não tenham muita visibilidade, mas que estejam inseridas em um grupo social com diferentes posicionamentos e visões sobre o mundo, por exemplo, estarão sujeitas ao também chamado “tribunal da internet”. Sabe quando você vê uma pessoa que conhece falando algo que não foi legal e depois disso começa a fingir que ela não existe? Essa é uma forma de cancelamento em pequena escala!
Talvez você esteja se perguntando se é possível que você seja cancelada(o) um dia. Mesmo que você não tenha muita visibilidade nas redes, isso é possível, dependendo das suas atitudes e das suas falas. A seguir, veja algumas das ações que podem levar a um cancelamento:
Fancycrave1 / Pixabay
1) Fazer um comentário ofensivo a algum grupo social, como mulheres, pretos, indígenas, amarelos, pessoas com deficiência, pessoas LGBTQIA+, pessoas gordas, entre outros;
2) Declarar apoio a uma figura ou a uma instituição que já tenha praticado ações discriminatórias ou que tragam prejuízos para o meio ambiente e para o avanço da sociedade;
3) Fechar-se para opiniões diferentes da sua e desrespeitar perspectivas sobre a vida que estão em desacordo com a sua forma de viver – se elas não forem ofensivas –, criticando-as ou provocando comentários negativos sobre ela.
Em geral, as celebridades que são canceladas realizaram alguma dessas atitudes. Em alguns casos, elas o fizeram há anos, mas isso não anula o fato de que tiveram um posicionamento condenável. Assim sendo, elas e quaisquer outras pessoas estão sujeitas a sofrerem uma onda de comentários negativos e de críticas.
O cancelamento virtual x a vida real
Muitas pessoas acreditam que o que acontece na internet não tem impacto sobre a vida real ou não é capaz de afetar a maneira como alguém está vivendo. Porém nem sempre é assim. Pense sobre as coisas que definem o caráter de uma pessoa: como ela age, como ela pensa e, não menos importante, como ela é percebida pela sociedade.
Se uma pessoa tem uma imagem negativa ou uma reputação ruim, dificilmente ela estará inserida na sociedade como quem tem uma imagem positiva. Uma celebridade que tem muitos fãs e é muito querida, por exemplo, terá uma influência maior do que uma celebridade que é detestada por muitas pessoas ou que já foi cancelada.
Nesse sentido, a cultura do cancelamento pode deixar de ser virtual e trazer consequências para a realidade. Para entender melhor como isso funciona, vamos observar o caso do ator Johnny Depp, acusado de agredir a ex-esposa, a atriz Amber Heard. Ele moveu ações contra a imprensa que denunciou as agressões cometidas por ele, mas perdeu.
Depois disso, ele foi demitido da franquia de filmes “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, na qual interpretava o vilão. No entanto, pela aparição de poucos segundos no último filme da sequência, do qual Depp não participará mais, o ator receberá um pagamento milionário. O cancelamento pelo qual ele passou não trouxe consequências financeiras tão negativas quanto se poderia imaginar.
Os fãs da saga, cientes das acusações contra o ator, comemoraram a saída dele da sequência de filmes antes de saberem da quantia que ele receberia da Warner Bros. Porém Amber Heard também foi alvo de críticas e de pedidos de demissão por parte dos fãs do ator. O que diferencia as críticas que ele recebeu das críticas que ela recebeu?
É importante destacar que o cancelamento é promovido por pessoas que buscam a igualdade social. Então só se pode falar em cancelamento quando o alvo da vez tomou uma atitude ou disse algo que prejudica as populações marginalizadas. Como Heard é a vítima da situação, ainda que ela receba comentários de ódio, a imagem dela perante a maior parte da sociedade é positiva.
Outro exemplo é o cancelamento de J.K. Rowling, autora dos livros da saga “Harry Potter” e de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. Além de ter defendido Depp, ela fez uma série de comentários que foram considerados transfóbicos. J.K. afirmou que as pessoas trans são homossexuais confusos, que elas não são quem dizem ser e que podem estar se prejudicando ao realizarem a transição hormonal. Ela também divulgou uma marca de produtos que veiculava mensagens transfóbicas nas peças que vendia.
Apesar disso, Rowling não foi demitida de seu trabalho ou impedida de continuar produzindo. Por outro lado, ela perdeu muitos fãs e admiradores de seu trabalho, que podem deixar de consumir as criações da escritora, trazendo um prejuízo monetário futuro. Incomodada com as críticas que recebeu, Rowling assinou uma carta contra a cultura do cancelamento.
Sanu A S / Pixabay
Para a escritora e para as mais de 150 celebridades que assinaram o manifesto, a cultura do cancelamento é “uma moda de humilhação pública e ostracismo, e a tendência de dissolver questões políticas complexas com uma certeza moral”, segundo o texto da carta. Esse é o principal ponto abordado por quem acredita que o cancelamento é prejudicial para a sociedade.
Uma das consequências mais notáveis dessa cultura é, de fato, a facilidade de veicular comentários negativos sobre uma figura pública ou não. Quando alguém é cancelado, imediatamente surgem as críticas em massa a essa pessoa, impedindo que ela aprenda sobre o erro, reflita e peça desculpas, adotando um novo comportamento.
O que acontece com a onda de ódio é que ela cria mais insegurança e irritação, podendo limitar a ação de quem foi cancelado a uma postura defensiva. Em alguns casos, a tentativa de resolver tudo e de limpar a própria imagem pode se tornar um ataque a quem estaria tentando ajudar essa pessoa a evoluir. Dessa maneira, é ainda mais difícil dialogar sobre as questões levantadas e promover a conscientização de um grupo sobre algo que precisa mudar.
Se, no âmbito virtual, a cultura do cancelamento cria um ambiente hostil e desfavorável à compreensão e ao diálogo, na vida real ela pode trazer outros tipos de consequência. Demissões, redução de oportunidades de trabalho e dificuldades para fazer amizades são fatos que podem ser desencadeados a partir da denúncia em massa de uma atitude negativa que alguém tomou. Ainda assim, é possível superar tudo isso, dependendo da pessoa que passou pelo cancelamento.
Um exemplo brasileiro desse acontecimento é a influenciadora digital Gabriela Pugliesi. Ela contraiu a Covid-19 em março de 2020 e, ainda que tenha um risco menor de contrair a doença novamente, deveria assumir o seu papel social de influenciar pessoas a se protegerem. Porém não foi isso que ela fez.
Em abril de 2020, a influenciadora organizou uma festa na própria casa e fez posts mostrando que estava despreocupada com as consequências dessa atitude. Em seguida, a internet condenou a atitude de Pugliesi, que perdeu contratos de publicidade, uma parcela financeira importante do trabalho que desenvolve online. Para controlar a sequência de unfollows e de comentários negativos, ela desativou o perfil no Instagram.
Porém, em julho de 2020, a influenciadora voltou para a rede social onde trabalha, divulgando um vídeo no qual afirmou que estava arrependida das atitudes que tomou e que aproveitou o cancelamento para evoluir. Com isso, aos poucos, ela pode retornar para a vida que tinha antes das críticas que recebeu, inclusive resgatando muitos fãs que não a abandonaram nesse período.
Tendo em vista todos esses fatores, cabe a cada pessoa questionar: a cultura do cancelamento traz consequências negativas permanentes para uma pessoa? Ou ela funciona de forma momentânea, como a maioria das coisas que são veiculadas na internet?
Como combater a cultura do cancelamento?
O problema da cultura do cancelamento não é o que ela causa. É o que ela indica sobre a sociedade. Mesmo com uma série de debates e de questionamentos sobre o que precisa ser transformado no mundo, as pessoas ainda não se sentem capazes de se responsabilizarem pelo que dizem e de corrigir seus erros. Para elas, é mais producente criticar aqueles que indicaram que elas erraram.
Nesse sentido, nós devemos combater a cultura do cancelamento? Ou precisamos encontrar uma alternativa para o debate gerado por ela que favoreça o diálogo, a discussão e a mudança de pensamentos e de atitudes? Pense nisso.
É válido criticar a cultura do cancelamento enquanto uma forma de criar debates que não promovem uma mudança verdadeira na sociedade, mas não podemos dizer que está errado denunciar as atitudes e as falas negativas de alguém. Afinal, é só a partir dessa denúncia que seremos capazes de repensar o que fazemos e de aprender com nossos erros.
Jan Vašek / Pixabay
Seria mais produtivo, então, apontar os erros de uma pessoa e aguardar que ela se posicione sobre isso, conversando abertamente sobre o que deve ser alterado e mostrando um novo caminho a seguir. No ambiente virtual, onde tudo deve acontecer rapidamente, pode ser um pouco mais difícil adotar um comportamento assim, mas não é impossível.
A cultura do cancelamento é uma maneira de crítica que ainda tem muito a melhorar. Ela é uma tentativa de consertar os problemas da sociedade, embora isso não ocorra de forma compreensiva e respeitosa. De qualquer maneira, porém, é importante aproveitar essa disposição de apontar os erros de uma pessoa para promover uma evolução na população, construindo uma realidade na qual é possível errar, corrigir o erro e mudar.