Perdi um amigo por conta do achismo. Um dia, há muito tempo, pedi emprestado dinheiro a um amigo. Ele era meu amigo desde os sete anos de idade. Estudamos juntos até entrarmos na universidade. Eu tinha plena consciência que o meu amigo me emprestaria, pois o valor era irrisório para ele. Ele era e é empresário, vive muito bem e usa coisas e objetos caros, de grife e gosta, principalmente, de ostentar carrões. Não passava mais do que um ano com cada carro que comprava. Mas é um cara muito seguro com dinheiro. Realmente sabe utilizá-lo. Chegou até a me dizer que quando eu o visse num carrão daqueles podia ter certeza que ele teria pelo menos seis vezes o valor em conta bancária. Então eu tinha certeza que ele não me daria um não, mas infelizmente, para a minha decepção ele me negou o empréstimo. Ele me disse que aquele valor lhe faria falta. Eu agradeci pela atenção e aprendi uma lição: nunca mais pedir dinheiro emprestado a um “amigo”.

O achismo só afasta as pessoas

Só que ele não percebeu que eu havia aprendido essa lição e, depois disso, começou a se afastar de mim. Inicialmente eu não percebi, mas nossos encontros começaram a ficar cada vez mais raros. Eu achava que era por causa do trabalho ou até mesmo por causa do fim do meu primeiro casamento, pois nossas esposas também eram amigas e tínhamos o hábito de sairmos com frequência para jantarmos em restaurantes. A minha ficha só caiu quando um dia eu liguei para ele. Queria combinar um café para colocarmos o papo em dia e ele deu uma desculpa, visivelmente, amarela.

O diálogo aproxima as pessoas

Finalmente percebi que ele me evitava por receio de eu lhe pedir dinheiro emprestado novamente. Não sabia ele que eu jamais faria isso novamente. E o achismo nos separou de uma forma tal que nunca mais voltamos a nos reunir como no passado e desfrutar da companhia um do outro, simplesmente por falta de diálogo. Faltou um papo aberto ou um feedback que permitisse deixar claro qual era o limite daquela amizade.

Sim, assim como tudo na vida amizade também tem seus limites e isso precisa ficar definido sob pena de deixarmos de conviver com pessoas que outrora nos proporcionaram momentos inesquecíveis por conta do achismo. Sinto muita falta dele e dos bons momentos que vivenciamos juntos e agora é passado. Eu fico pensando, teria como resgatar isso?

A expansão da consciência faz a ficha cair

Então, por experiência própria, eu digo que jamais deixe o achismo tomar conta da sua vida, seja lá em que situação for e nunca ache que ser franco, falar a verdade e esclarecer as coisas pode ser embaraçoso ou prejudicial à sua imagem perante as outras pessoas. Inicialmente ela ou elas podem até não entender, mas o tempo, a reflexão e a maturidade, um dia farão a ficha cair e ela(s) vai(ão) entender o que você quis dizer.

Lembre-se, nunca se arrependa do que você fez ou disse, pois tudo é aprendizado e você só aprende com aquilo que acontece. Eu só me arrependo das coisas que deixei de fazer, pois nunca vou saber se eu tivesse feito qual teria sido o resultado.

De uma forma geral podemos dizer que, devido a forte influência do ego, é da índole do ser humano forma opinião, conceitualizar ou até mesmo rotular a tudo e a todos. Na medida que agimos assim não só estamos achando isso ou aquilo como também estamos julgando. É a velha prática do achismo, onde sem um diálogo prévio sobre determinado assunto ou sobre alguém as pessoas formam conceitos e opiniões. Ai eu pergunto, achismo é virtude ou vício?

A princípio, ao sermos apresentados a alguém, o ideal seria que não fizéssemos nenhum tipo de juízo sobre esse alguém. O ideal seria darmos um tempo para conhecer melhor esse indivíduo e depois de vários encontros ou de um determinado convívio fizéssemos uma avaliação preliminar, mas sempre com o cuidado de nunca julgar.

Dependendo da ótica que se analisa esse tema podemos enxergar o achismo como virtude, ou seja, algo positivo ou como vício, ou seja, algo negativo.

Quando o achismo é virtude

O achismo pode ser virtude quando a opinião ou o conceito formado inicialmente sobre alguém tem uma natureza positiva. Por exemplo, você acaba de ser a presentado(a) a uma pessoa que aparentemente é antipática e lhe passa uma má impressão. Nesse momento devemos ter o cuidado de não fazer um julgamento precipitado, pois pode ser que exatamente naquele dia aquele ser humano tenha tido um dia muito difícil e estressante e não esteja no seu estado de espírito normal.

Então, ao invés de fazer um julgamento precipitado e já estragar, de cara, uma amizade ou relacionamento profissional que poderia ser próspero é prudente e inteligente dar uma segunda chance, proporcionar um novo encontro, pois aquela primeira impressão pode se desfazer.

Quando o achismo é vício

O achismo pode ser vício quando no primeiro encontro com alguém você já faz um juízo prévio dessa pessoa. E devemos tomar muito cuidado, até porque o contrário também é verdadeiro, ou seja, você pode ficar muito impressionado(a) com alguém no primeiro encontro. Pode achar esse alguém extraordinário, no entanto esse indivíduo pode ser uma energia negativa, uma pessoa tóxica ou perigosa. Mas por você já ter julgado pode estar correndo um grande risco sem saber.

Então, o juízo prévio pode ser positivo ou negativo e em ambos os casos não é saudável.

Prudência e cautela nunca é demais

Quando julgamos algo ou alguém podemos estar certos ou podemos estar errados. Afinal quantas pessoas já foram julgadas, condenadas e presas injustamente? E muitas vezes por vários juízes em várias instâncias e no final era inocente. Imagine a probabilidade de um julgamento dar errado quando fazemos isso na primeira impressão.

Portanto, sejamos sempre cautelosos e prudentes quando se trata de julgar algo ou alguém. Esse tipo de atitude nunca é demais e também nunca esqueçamos do que o mais sábio dos sábios disse um dia: “não julgueis para não serdes julgado”.

Então, para você achismo é virtude ou vício?