Baby Reindeer: a vida como ela é

A minissérie

A minissérie da Netflix, ‘Baby Reindeer’ (no português, ‘Bebê Rena’), alcançou o primeiro lugar no streaming após uma semana do seu lançamento. O que era para ser uma simples história de perseguição com tom de comédia logo se transforma em um thriller complexo e angustiante. Cuidado, aqui, contém muitos spoilers!

‘Baby Reindeer’ conta a história do próprio Richard Gadd, protagonista e criador da série, começando e terminando pela perseguição de uma mulher obcecada por ele. Gadd expõe a sua vida, família e intimidades que normalmente lutamos para encarcerar. E, talvez, essa seja a maior surpresa: a exposição de traumas e conflitos internos de um homem. Tudo para justificar o tempo que ele levou para denunciar a sua perseguidora, sob o codinome Martha.

Seis meses que só foram interrompidos pela denúncia porque os problemas provenientes da perseguição alcançaram e colocavam em risco outras pessoas do seu círculo social. Gadd se pegou em uma relação de dependência com Martha, que o admirava e o incentivava a seguir com a sua carreira tão desejada de comediante. Finalmente, Gadd era reconhecido por alguém, o que o remete, mais tarde, a um homem de seu passado, sob o codinome Darrien, que também teria visto algo de especial nele.

A revelação

Martha e Darrien não apenas adoravam Gadd, eles queriam algo em troca: a sua atenção, o seu corpo, o seu sexo. Ambos sedutores, com as suas armas, ambos abusadores. Gadd, abusado por um homem e por uma mulher, tendo a sua sexualidade violada, remexida, virada do avesso, questiona-se quanto às suas preferências sexuais, procurando, inclusive, uma resposta no envolvimento com uma mulher trans.

O mais interessante de toda essa história é que Gadd é só mais um no meio de tantos homens e mulheres que são abusados e se deixam abusar, com questões que não conseguem sanar. ‘Baby Reindeer’ expõe a crueza da vida e incita em nós uma tentativa de revelação: das nossas fragilidades, tendências, desejos mais íntimos. Masoquistas, sádicos, obsessivos, perversos, narcisistas. São diversos os traços de caráter que nos circundam e ameaçam a nossa integridade. Integridade no sentido de inteiro, de manter-se no eixo.

A série não tem um final feliz. Nem triste. O final segue fiel à retratação da vida real, a vida como ela é: cheia de desafios, alegrias e frustrações. A vida como ela é: de dúvidas e eternas insatisfações.

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